Banco de dados
Ferramenta vai identificar sustentabilidade de roupas
A ferramenta que está sendo criada pela Coligação do Vestuário Sustentável pretende funcionar como um banco de dados dos pontos atribuídos a todos os participantes no ciclo de vida de uma peça de roupa produtores de algodão, fabricantes de tecido sintético, fornecedores de tinturas, proprietários de confecções, assim como embaladores, transportadoras, varejistas e consumidores com base em uma variedade de parâmetros sociais e ambientais, como uso da água e do solo, economia de energia, produção de resíduos, utilização de produtos químicos, gases de efeito estufa e práticas trabalhistas.
Uma marca de roupas poderia então usar a ferramenta para selecionar materiais e fornecedores a partir do cálculo da pontuação global de sustentabilidade, baseado nos padrões da indústria. Se o resultado não bater com os objetivos de sustentabilidade da própria empresa ou se houver pressão da concorrência por uma etiqueta que convença o consumidor exibindo pontuação mais baixa , os estilistas da marca têm a opção repensar suas escolhas para a confecção final.
A ferramenta está em desenvolvimento. Inspira-se fortemente em duas iniciativas anteriores uma patrocinada pela Nike, focada em design ambiental, e o "Eco Index", lançado no ano passado pela Outdoor Industry Association (que reúne fabricantes de produtos para atividades ao ar livre e de aventura). Contudo, esses recursos permitem uma visão apenas parcial ou aproximada dos efeitos potenciais de segmentos específicos da indústria.
Para obter dados mais amplos sobre o ciclo de vida de cada peça, a coalizão também trabalha perante o Consórcio da Sustentabilidade, que vem desenvolvendo formas de medir e relatar os padrões sustentáveis de muitas categorias de produtos.
Com alguns cliques é possível visualizar pela internet uma agressão contra o meio ambiente que acontece na China e que envolve o consumo de uma peça comum no vestuário da maior parte das pessoas do mundo todo o jeans. Imagens de satélite acessíveis pelo Google Maps mostram riachos e córregos poluídos com tintura azul e outros produtos químicos serem despejados no Rio Pérola pela indústria têxtil de Xintang, no sul da China, a capital mundial da produção de jeans.Entretanto, consumidores de lojas de departamentos não associam aquelas faixas poluentes no rio ou qualquer outro impacto ambiental com o jeans de sua marca favorita. E, em muitos casos, a empresa cujo nome aparece na etiqueta da roupa não está muito melhor informada. Mas uma nova e importante parceria entre varejistas, fabricantes de roupas, grupos ambientalistas e acadêmicos tem planos de mudar essa situação.
O grupo se autodenomina Coligação do Vestuário Sustentável e está desenvolvendo um banco de dados abrangente sobre o impacto ambiental de cada fabricante, componente e processo envolvidos na produção de roupas. O objetivo é usar essa informação para, mais tarde, atribuir a cada peça uma pontuação de sustentabilidade.
Depois disso, a coalizão espera produzir uma etiqueta que informaria, de algum modo, essa pontuação aos consumidores, dando-lhes uma visão muito mais detalhada sobre a origem de tecidos, zíperes, tinturas, linhas de costura, botões e anilhos que se juntam para formar a roupa que estão comprando, bem como sobre o impacto da fabricação daquela peça nas pessoas e no planeta.
A coalizão une empresas com comportamento-padrão do mercado , como Wal-Mart, JC Penney, H&M e Hanes , a fabricantes tradicionalmente atentos às questões ambientais, como as especializadas em vestuário rústico para ambientes externos Patagonia e Timberland. Os 30 membros fundadores incluem também a Duke University, dos Estados Unidos, a organização não governamental Environmental Defense Fund, o grupo de direitos trabalhistas Verite e a Agência Americana de Proteção Ambiental.
Consumo
Os norte-americanos gastaram em 2010 cerca de US$ 340 bilhões (cerca de R$ 566 bilhões) em vestuário e sapatos, o que representa cerca de 25% do mercado global do setor. Praticamente todos os produtos consumidos 99% dos calçados e 98% das roupas vieram de algum outro lugar, segundo a Associação Americana de Vestuário e Calçados. E os diferentes componentes e partes de qualquer peça de roupa um casaco ou um par de calças, por exemplo muitas vezes resultam de uma cadeia multinacional tão diversa de fábricas de tecido, empresas especializadas em tinturaria e confecção final que a quantificação do impacto ambiental de um único item é quase impossível.
De início, a coalizão pretende ajudar as empresas, individualmente, a tornar mais "limpa" sua cadeia de fornecedores. Os associados concordaram em viabilizar financeiramente o início dos trabalhos, apoiando o desenvolvimento de um índice de sustentabilidade. O presidente da coligação, Rick Ridgeway, que também está à frente das práticas sustentáveis da Patagonia, estima que o grupo gastará US$ 2 milhões (cerca de R$ 3,3 milhões) até o final de 2011 para criar a ferramenta.
"O pessoal se encontra em pontos variados da jornada de sustentabilidade e, trabalhando juntos, podemos acelerar nossa capacidade de promover uma mudança", diz Alex Tomey, vice-presidente de desenvolvimento de produto e design do Wal-Mart.
Os meandros obscuros da cadeia global de fornecedores para a indústria têxtil tem sido uma preocupação para muitos grupos ambientalistas, como o Greenpeace, que denunciou as fábricas de Xintang em dezembro passado. Enquanto fabricantes individuais e pequenos segmentos da indústria começam a tentar quantificar seu impacto, só agora está a caminho um estudo consistente sobre o ciclo completo do setor de vestuário e calçados.
"A cadeia têxtil é longa e bastante complexa, e muitas das atuais empresas do ramo as que constituíram marcas não controlam, na verdade, todas as instalações e fábricas envolvidas na produção", explica Cao Huantian, professor associado de estudos de moda e vestuário na Universidade de Delaware. "Assim, mesmo para a companhia cujo nome aparece na etiqueta do produto pode não ser fácil estudar o ciclo de vida desse produto porque a maior parte da cadeia está fora de seu controle."
Vazio
A nova coalizão ainda está debatendo como formalizar sua estrutura e como pretende concentrar esforços. Para Jeffrey Swartz, chefe-executivo da Timberland, uma das empresas participantes da coligação, a etiqueta da sustentabilidade é apenas uma questão de tempo. "Isso virá, realmente, preencher um vazio", diz Swartz. "O governo adota padrões para o consumo de combustível dos carros, mas no setor de vestuário não temos critérios. Essa iniciativa acabará por colocar o poder nas mãos dos consumidores, pois a indústria têxtil está anunciando a alto e bom som: 'Vamos encontrar uma maneira de divulgar a vocês o que está por detrás de sua decisão de compra além de simplesmente tamanho, cor e caimento'".
Tradução de Christian Schwartz.
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Interatividade
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