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O Rio de Janeiro deve ganhar o primeiro espaço oficial destinado à prática das religiões afro-brasileiras e com preocupação ambiental. Será dentro do Parque Nacional da Tijuca, uma área bastante usada por umbandistas e candomblecistas para a colocação de oferendas em culto aos orixás. Eles sofrem críticas porque os trabalhos podem poluir a floresta e provocar incêndios.

O projeto do Espaço Sagrado da Curva do S ainda está sendo desenvolvido e, por isso, os custos não foram mensurados. Mas na quinta-feira (10), o secretário Carlos Portinho participou de uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Rio e, diante de diversos representantes de grupos religiosos, garantiu o andamento do projeto.

Portinho não sabe precisar quando seria a inauguração, pois o Fundo da Mata Atlântica, que reúne recursos de compensações ambientais depositados por empresas e que iria bancar a construção, ainda terá de aprová-lo. Os religiosos estavam apreensivos porque o secretário anterior, Índio da Costa, do qual Portinho era sub, titubeou, por pressão de parlamentares evangélicos.

"O Índio me disse que iria suspender o projeto porque dois deputados evangélicos de seu partido não entendiam como dinheiro público podia ser usado para fazer um 'macumbódromo'", relatou o deputado Carlos Minc, antecessor na pasta e criador do projeto. Foi Minc, na condição de presidente da comissão da Alerj de combate às discriminações e preconceitos de cor, raça e etnia e procedência nacional, quem convocou a audiência. Ele está elaborando um projeto de lei que prevê a implantação de outros espaços sagrados em parques do Rio.

"Eu expliquei ao secretário que 'macumbódromo' é um termo pejorativo que só reforça o estigma, e que o dinheiro não é público, e sim oriundo de compensações ambientais. A ideia é dar liberdade, conforto e segurança às pessoas e proteger a floresta. Não é um gueto. Esse espaço consta do plano de manejo do parque há 14 anos." "Foi criada uma polêmica como se fôssemos cancelar o projeto, mas isso não aconteceu. Qualquer projeto de viés ambiental, seja de que grupo for, é de interesse da secretaria", assegura Portinho. A ideia é que o espaço sirva a dois propósitos: o enfrentamento da intolerância religiosa e a conservação da Mata Atlântica.

Pela maquete baseada na proposta inicial, a área teria por volta de dez mil metros quadrados e estruturas ao redor das árvores e margens dos rios, para que os rituais não poluam a área, além de coletores de resíduos religiosos. Os frequentadores serão orientados a usar materiais biodegradáveis nas oferendas, como folhas de bananeira e cuias de coco no lugar dos recipientes de barro, vidro e louça, a não abandonar alimentos na mata e a não acender velas, que podem dar início a queimadas. Uma sinalização especial mostrará recantos indicados para cada orixá, conforme sua relação com os quatro elementos da natureza.

"Esse espaço pode virar referência no Brasil. O fundamentalismo religioso e ecológico não compreende essa cultura, que vive da harmonia com a natureza. O mato, as folhas, as águas, as árvores tudo isso é sagrado para nós, muito antes de a ecologia falar disso. Tem religião que usa cachoeira para batismos e ninguém fala nada", esclarece o babalaô Ivanir dos Santos.

"Tem muita sujeira, sim, gente que vai nas lojas e deixa trabalhos na floresta sem entender o que está fazendo. Colocam vidros de perfume, garrafas, alimentos que provocam doenças", diz Graça Nascimento, coordenadora do Movimento Inter-religioso do Rio. "Os orixás querem água limpa, ambiente saudável. As casas de umbanda e candomblé trabalham o cuidado com a natureza há muitos anos."

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