
Em Blumenau, basta chover forte para que a população fique apreensiva com o nível dos rios que cortam a cidade, o Ribeirão Garcia e Itajaí-Açu. O temor sempre foi de que as enchentes de 1983 e 1984, que puseram a cidade abaixo, se repetissem. Foi o que ocorreu novamente essa semana, com uma diferença: a partir de agora, o blumenauense terá também que olhar para cima quando chover. São os deslizamentos de terra dos inúmeros morros da cidade que mais transtornos têm causado na pior catástrofe do estado de Santa Catarina. Só em Blumenau, a estimativa da Defesa Civil é de 26 mil desalojados.
É o caso do operário desempregado Emílio de Oliveira, 48 anos. "Dessa vez o problema não foi a água do rio. Foi o deslizamento que quase matou a minha família", relata Oliveira, que ergueu o piso da casa para fugir da enchente do Ribeirão Garcia, que passa atrás da residência, e acabou surpreendido sábado pelo deslizamento de terra do morro em frente, no bairro Progresso, um dos mais atingidos em Blumenau. "Primeiro ouvimos o barulho de uma árvore caindo. Em seguida, veio o estrondo, como de uma explosão. Toda aquela enxurrada acertou em cheio a frente da minha casa. Sorte que estávamos nos fundos", relata. Na hora do deslizamento, oito pessoas estavam na casa.
Por causa dos deslizamentos, o vaivém de helicópteros no céu de Blumenau e das cidades próximas é constante. Homens do Corpo de Bombeiros, Polícia Militar e Forças Armadas sobrevoam o entorno para chegar às comunidades isoladas pela derrubada de barreiras. Como na cidade de Gaspar, a 20 quilômetros de Blumenau, onde moradores da localidade de Gaspar Alto estão ilhados desde domingo. "Há suspeita de que uma pessoa morreu no local e foi enterrada lá mesmo pela impossibilidade de trazer o corpo até um cemitério", informa o tenente Alcione de Fragas, do Corpo de Bombeiros Militares de Gaspar.
No bairro Valparaíso, em Blumenau, desde domingo os bombeiros procuram o corpo de Francisco Nascimento, 38 anos. Ele e o pai, Miguel Nascimento, 73 anos, foram atingidos pela enxurrada do morro nos fundos da residência onde moravam. "Eles estavam pegando as coisas deles para sair quando foram surpreendidos pela avalanche. Foi coisa de segundos", relata o técnico em segurança aposentado Hélio Dregoti, 58 anos. Por causa da enxurrada em outro morro vizinho, que atingiu os fundos da casa onde mora, Dregoti e a família estão dormindo na mãe dele.
No bairro Garcia, uma demonstração de que os riscos de deslizamento de terra chegam a todas as classes sociais de Blumenau. Cinco mansões que dão de fundos para um morro estão interditadas pelo risco de caírem. No pé do morro, ao invés de panelas e móveis simples, comuns nos deslizamentos de terra em áreas humildes, a água trouxe móveis feitos sob medida e até um piano.




