Familiares se revoltam com falta de apoio
Agência Estado
O resgate da primeira das duas caixas-pretas do Airbus A-330 da Air France voltou a mexer com os sentimentos das famílias das vítimas. Parentes reclamam da falta de apoio por parte da companhia aérea e cobram que a análise do equipamento seja feita por um "país neutro". "Eles [os franceses] respondem a processo. Não podem ser os responsáveis pela análise", disse a nutricionista Sylvie Mello, que perdeu o irmão e a cunhada. Ela recebeu com tristeza a informação de que os corpos encontrados serão levados para a França. "Será que vão ser os dois, ou um só?", questiona. Sylvie critica ainda a prioridade ao resgate das caixas-pretas. "Eles tratam os corpos como meros objetos, como se fossem malas, e não vítimas."
A fotógrafa Alexandra Salvador, que perdeu o noivo, o diplomata suíço Ronald Dreyer, não acompanha as notícias sobre as buscas. "Tomo conhecimento pelos amigos. Mas estou muito desgastada." Para ela, a localização da primeira caixa-preta é "uma ação de marketing".
O robô Remora 6000, que no domingo localizou a memória de uma das caixas-pretas do voo 447 da Air France, fez ontem um novo mergulho para tentar localizar o Cockpit Voice Recorder (CVR), segunda caixa-preta da aeronave, que contém o registro de voz dos pilotos na cabine. Segundo o diretor do Escritório de Análises e Investigações da França (BEA, na sigla em francês), Jean-Paul Troadec, sem as duas caixas será difícil determinar com precisão as causas do acidente em que morreram os 228 passageiros do avião, em maio de 2009.
"Sem os dados do sistema CVR, nos faltariam informações essenciais: a maneira como os pilotos reagiram, as razões de terem tomado tal decisão frente à urgência", afirmou Troadec. Até ontem, segundo a porta-voz do BEA, Martine Del Bono, nenhuma pista da segunda caixa-preta havia sido localizada. O equipamento encontrado no domingo, chamado Flight Data Recorder (gravador de dados de voo, FDR, na sigla em inglês), contém os parâmetros técnicos do voo, como a altitude, a velocidade, o desempenho do motor e a trajetória da aeronave.
A memória da FDR deve chegar à França em dez dias. O que determinará se os dados poderão ou não ser recuperados é o estado do microchip localizado no interior da estrutura metálica, onde ficam armazenados os dados do voo se estiver em boas condições, os dados poderão ser recuperados em dois ou três dias. "A certificação do FDR não garante que ele resista tanto tempo embaixo dágua, mas nossos experts acreditam que existem chances de que possamos explorá-la, desde que não tenha havido corrosão", disse Troadec.
Processo
O gravador encontrado foi lacrado em uma caixa pela Justiça da França, cujos representantes estão a bordo do navio Ile de Sein. No lado externo da caixa, um selo foi colado sobre uma etiqueta na qual se lê "Homicídio involuntário", uma referência ao processo que corre em Paris, no qual a Air France, companhia à qual pertencia o aparelho, e a Airbus, fabricante da aeronave, são rés.
Jean-Claude Guidicelli, advogado de famílias francesas que perderam parentes no desastre, se disse cético ao comentar a recuperação da primeira das caixas-pretas. "Trata-se de uma operação de marketing para permitir à Air France e à Airbus ocultar uma responsabilidade evidente", afirmou o advogado.
As buscas começaram no dia 26 de abril e estão sendo realizadas a 3,9 mil metros de profundidade, a cerca de dez quilômetros ao norte da última posição do avião conhecida nos radares. Na semana passada, o robô encontrou o chassi da caixa-preta perto de outros destroços do avião. As coordenadas dos destroços foram obtidas a partir de fotos tiradas por robôs que localizaram a fuselagem no início de abril.
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