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Governo desembolsou R$ 31 milhões com as armaduras | Divulgação
Governo desembolsou R$ 31 milhões com as armaduras| Foto: Divulgação

Análise

À la Robocop: prevenção ou excesso?

Após a repressão policial considerada violenta e abusiva em protestos de 2013, a farda à la super-herói suscita o debate: seria esse um item repressor ou um material necessário à proteção policial em possíveis confrontos? O delegado Fábio Motta Lopes, da Divisão de Ensino da Academia de Polícia Civil do Rio Grande do Sul e professor de Direito Penal da Unisinos, aponta que itens de proteção individual são recomendados, inclusive, pela Organização das Nações Unidas (ONU).

"Apesar de o material poder causar certo impacto visual, funcionalmente ele é interessante. De fato, ele protege o policial, não é pesado e não dificulta a mobilidade. Claro que não é um equipamento para ser usado no policiamento de rotina, mas sim em eventuais controles de distúrbios", afirma Lopes.

O especialista considera ainda que o Robocop pode funcionar até mesmo como um inibidor de tumultos e prever confrontos, uma vez que, protegido, o próprio policial deve evitar reações desproporcionais.

O coronel da reserva da Polícia Militar de São Paulo e ex-secretário Nacional de Segurança Pública José Vicente da Silva Filho, diz que esses equipamentos devem ser usados pelas unidades de choque. "Para um mero acompanhamento, o policial deve usar material de proteção média, com capacete e colete à prova de balas. O emprego desse tipo de instrumento deve ser feito em eventos mais extremados, quando se tem a expectativa de que alguns manifestantes estejam mais exaltados", avalia.

Durante um treinamento em Brasília, uma barra de ferro foi lançada contra o peito de um policial militar. Fora o impacto, ele nada sofreu. A nulidade de traumas e lesões se justifica pela verdadeira armadura utilizada pelo oficial: um macacão produzido com um resistente material plástico que cobre desde o topo da cabeça até o dedão do pé. Criado para conter possíveis protestos violentos, o equipamento está sendo distribuído às 12 cidades-sede da Copa do Mundo. Batizado tecnicamente de exoesqueleto, o material já ganhou um apelido pelos policiais — ao menos no eixo Rio-São Paulo: Robocop.

Serão distribuídos pelo governo federal, por meio da Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos (Sesge) do Ministério da Justiça, 3,7 mil kits, aos 12 estados sedes da Copa. O Rio Grande do Sul deve receber 300. O Paraná receberá 200 armaduras até o próximo dia 30.

O uso do material deverá ficar restrito a policiais lotados em unidades especiais, como o Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar do Paraná. Veículos da imprensa internacional rotularam o equipamento de "intimidante" e até mesmo "aterrorizante". Porém, policiais classificam o item como uma proteção adequada aos agentes, que durante as manifestações do ano passado enfrentaram confrontos utilizando apenas caneleiras, colete à prova de balas e capacete.

"Quando recebermos esse material, iremos avaliar a melhor maneira de empregá-los em situações de distúrbios. Será a primeira vez que a PM terá esses equipamentos, resistentes e apropriados para a proteção do policial militar em alguma situação de confronto e desordem", disse o subcomandante do Batalhão de Operações Especiais (BOE) do RS, major Alexandre Pinheiro.

Além das cidades-sede, Aracaju, Maceió e Vitória (que serão centros de treinamento) receberão o material. O kit completo — pelo qual a Sesge teve de desembolsar, ao todo, R$ 31 milhões — é composto por capacete balístico, máscara antigás, balaclava, luvas táticas e o traje integrado do exoesqueleto (com joelheira, caneleira, colete, ombreiras e proteção para os braços). Na mesma licitação, o governo ainda adquiriu escudos balísticos e extintores portáteis em mochilas.

Apelido

Após a comparação estabelecida entre a máscara de gás que será usada pelas polícias durante a Copa e o personagem de Star Wars Darth Vader, a polícia evita alcunhar o novo equipamento. Porém, as semelhanças do material com o ciborgue de Detroit já fizeram que até mesmo as empresas fabricantes apelidassem o exoesqueleto de Rocobop.

"Tentamos não vincular esse tipo de coisa. Não queremos desumanizar a polícia, já que por trás desses equipamentos está um homem. Essa glamourização do equipamento é coisa mais de leigos, e da qual procuramos nos afastar", explicou o major Cláudio Seoli, especialista em controle de distúrbios e responsável pelos treinamentos para a Copa da PM gaúcha.

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