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Para Andréa* suportar os espancamentos, os roubos em casa, a fisionomia deplorável de quem é consumido pelo crack, ela pensa no marido, dependente químico, como duas pessoas: o rapaz que conheceu quando tinha 17 anos e o "Cláudio* depois da droga". "São dois Cláudios. É doença, mas eu não posso mais agüentar isso. Ele roubou até o vidro de tempero de casa. Até as roupas das crianças."

Mãe de cinco filhos e com apenas 31 anos, Andréa conheceu o marido quando os dois eram adolescentes. "Ele já era problemático, mas eu pensei que ia ajudar ele. Sabe como é? O pai dele tinha uma amante, ficava a semana inteira fora, e espancava os filhos e a mulher quando voltava. Ele jurava que ia ser diferente do pai e que ia cuidar de mim."

Há pelo menos 12 anos, quem cuida de Cláudio e dos quatro filhos do casal é Andréa, que teve ainda uma filha aos 16 anos, que mora com a avó materna. "Minha mãe não gosta dos meus filhos porque são filhos do Cláudio. Então, não dá muito certo ficarmos juntas."

Cláudio promete parar, e interna-se em clínicas de recuperação. Já ficou até dez meses limpo. Tempo para Andréa se reerguer, arrumar emprego, montar casa, comprar tudo novo. Quando ele sai da internação, porém, em pouco tempo a vida de Andréa é terra arrasada. "Quando ele está chapado, eu posso até bater nele. Eu fico com tanta raiva que não me conformo e me esqueço do dia seguinte, quando ele lembra de tudo e quase me mata."

Andréa pegou as crianças e fugiu para um abrigo. Está à procura de emprego. O coração apertado, pensando se o marido consegue ficar vivo sozinho. Chora muito, principalmente quando conta do filho que viu o pai usando drogas. "Não quero vê-lo nunca mais. Nunca mais."

* Nomes fictícios a pedido dos entrevistados.

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