Paraty - Na tentativa de explicar por que não é um homem religioso, Salman Rushdie, durante sua mesa na 8.ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), na noite de sexta-feira, disse: "Não tenho interesse nenhum em pessoas que têm respostas. Prefiro aquelas que têm perguntas". O escritor indiano é autor de Filhos da Meia-noite (Companhia das Letras), o melhor romance da língua inglesa dos últimos 40 anos a julgar pela eleição realizada pelo Man Booker Prize, o prêmio literário mais prestigioso do Reino Unido.
Na Flip, ele fez o lançamento mundial de Luka e o Fogo da Vida, uma obra infanto-juvenil criada para o filho Milan, que está na pré-adolescência. Rushdie conversou com o jornalista Silio Boccanera, da Globo News, e criou vários momentos complicados para o mediador. A certa altura, Boccanera quis saber a opinião do romancista sobre o Irã, que se prepara para executar uma mulher que cometeu adultério.
"Não sou e não quero ser um especialista no Irã. Estou aqui para falar do meu livro", respondeu. O jornalista tentou então conversar sobre a sentença de morte (fatwa) que o aiatolá Khomeini lançou em 1990, pouco depois da publicação de Os Versos Satânicos, livro em que Rushdie teria desrespeitado os muçulmanos. Boccanera perguntou se a fatwa do líder iraniano teria sido, de certa forma, boa para Rushdie. "Essa é uma pergunta estranha porque se eu responder que sim, vai parecer que estou recomendando sentenças de morte para as pessoas", disse o autor, levando o público às gargalhadas. "Aliás, se vocês puderem, evitem sempre sentenças de morte...", arrematou, falando para a plateia.
Apesar de fazer piada e levar na brincadeira, Rushdie admitiu que o assunto é delicado e só agora, duas décadas mais tarde, se dispôs a escrever sobre o assunto. Ele não fala nada sobre o novo livro, mas revela que será uma obra de não-ficção porque o tema só é interessante porque "é real".
Quando teve chance de discutir literatura, Rushdie não disfarçou o entusiasmo com os livros de Jorge Luis Borges e Machado de Assis. Ele chegou a escrever uma introdução para a edição inglesa de Memórias Póstumas de Brás Cubas. Quanto ao argentino Borges, ele afirmou ter sido "intoxicado" pelo contista.
Instigado a falar sobre o livro eletrônico, Rushdie admitiu ser um entusiasta de novas tecnologias ("Eu invejo o iPad do meu filho"), mas também defendeu o livro de papel como uma tecnologia "muito sofisticada. "Uma vez eu derrubei uma garrafa de Coca-cola no meu iMac e ela simplesmente arrasou com o computador. Tive que jogá-lo fora e comprar outro. Se derramasse a mesma Coca num livro, as informações essenciais continuariam ali, talvez com as páginas um pouco danificadas", disse.
Serviço
Leia sobre a experiência de pegar um autógrafo de Salman Rushdie no blog Livros.
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