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Igreja está a 300 metros de terminais

O santuário de Nossa Senhora do Rocio está situado em uma área de risco – cercado por empresas que movimentam cargas perigosas de alta combustão, e os terminais utilizados para o embarque e desembarque destas cargas estão localizados a aproximadamente 300 metros da entrada da igreja. A área, no bairro do Rocio, é assinalada no novo plano diretor da cidade, sancionado no fim de agosto, como Zona de Proteção do Santuário do Rocio (ZPSR), mas está inserida no interior da Zona de Interesse Portuário (ZIP), uma área de 10,5 milhões de metros quadrados criada para permitir a instalação de indústrias do setor portuário.

Apesar da delimitação da ZPRS no papel, nenhuma ação efetiva de proteção à igreja foi aplicada, de acordo com o padre Joaquim Parron, reitor do santuário. "Confiamos nas promessas de reforço na segurança feitas pelas autoridades e pelas empresas", diz ele, que inclui em suas orações o pedido de proteção divina para a área. De acordo com Parron, logo após a explosão do Vicuña, em novembro de 2004, o então bispo de Paranaguá, dom Alfredo Novak, realizou uma consulta pública para discutir a possibilidade de transferência do templo. "A maioria decidiu pela permanência, pois este é um local sagrado", afirma o reitor. Segundos relatos históricos, a imagem da santa foi encontrada no bairro do Rocio, no século 17, e passou a ser venerada no local. Em 1977, o Papa Paulo VI declarou Nossa Senhora do Rocio padroeira do Paraná.

A arquiteta Vânia Fóes, responsável pelo plano diretor de Paranaguá, foi procurada para comentar o tema, mas estava viajando e não retornou as ligações. (CO)

Paranaguá – Descrentes das promessas de enviados da Sociedad Naviera Ultragaz, do Chile, e de responsáveis pela Cattalini Transportes Marítimos, religiosos do Santuário Estadual Nossa Senhora do Rocio, em Paranaguá, no litoral do estado, estão acionando as duas empresas na Justiça, pleiteando o valor de R$ 1 milhão, em uma ação de indenização por danos morais e materiais em decorrência de prejuízos provocados pelas explosões no navio Vicuña, em 15 de novembro de 2004.

As explosões ocorridas no navio – que estava carregado com 14 mil toneladas de metanol e explodiu após o descarregamento de 9 mil toneladas do produto – provocaram rachaduras nos pisos da igreja, avarias em portas e no telhado e estilhaçaram, com o deslocamento de ar, dezenas de vitrais valiosos. Além disso, o acidente ocorreu no dia dedicado à padroeira do Paraná, ocasião em que o santuário promove a mais tradicional festa religiosa do estado. As explosões obrigaram os religiosos a cancelar a apresentação da cantora Elba Ramalho, que seria realizada naquele dia, e a suspender a festa – que ocorre em um período de duas semanas –, provocando sérios prejuízos financeiros ao santuário.

A ação, protocolada na 2.ª Vara Cível de Paranaguá, está tramitando desde o fim do ano passado e aguarda sentença do Tribunal Marítimo, no Rio de Janeiro, que deve apontar a empresa responsável pelo acidente para embasar o pedido de ressarcimento. Em recente decisão, o tribunal homologou laudos técnicos isentando a Cattalini por responsabilidades no acidente. A sentença definitiva deverá ser anunciada somente no inicio de 2008.

Sigilo

A ação vinha sendo mantida em sigilo e foi revelada com exclusividade para a Gazeta do Povo, na semana passada, pelo padre Joaquim Parron, reitor do santuário. Segundo ele, a ação foi o último recurso encontrado para tentar a indenização. "No início, enviados das duas empresas estiveram aqui e nos garantiram que não haveria problemas com as indenizações. Porém, após algum tempo, eles sumiram e não atendiam mais meus telefonemas", disse o padre. O advogado curitibano Marcelo Fernandes Polak foi contratado para defender os interesses do santuário. "Os padres só querem os valores para a reparação dos danos causados", garantiu Polak.

Quase três anos depois, as janelas do santuário ainda apresentam marcas do acidente. Painéis inteiros com motivos religiosos, compostos por vitrais confeccionados com cristais importados da Bélgica e Alemanha, foram destruídos e substituídos temporariamente por vidros comuns. Em algumas janelas, no entanto, os painéis ainda resistem, mesmo estilhaçados pelas explosões.

O santuário ainda não fez a substituição definitiva porque aguarda uma perícia judicial, para avaliar a extensão do prejuízo. Mesmo assim, o padre Parron já solicitou laudos técnicos e orçamentos para empresas especializadas. Os valores orçados para a restauração variaram entre R$ 180 mil e R$ 240 mil.

Os vitrais do santuário foram instalados no início da década de 40 e foram confeccionados pela Casa Conrado, da família Sorgenicht, os maiores vitralistas do Brasil no fim do século 19 e início do século 20. A empresa paulista tem trabalhos nas principais igrejas católicas do Brasil e criou vitrais famosos em São Paulo, como os do Mercado Municipal, da Estação Júlio Prestes e do Teatro Municipal. Para adquirir os vitrais, segundo moradores antigos de Paranaguá, a igreja fez uma campanha entre as famílias mais abastadas da cidade. Por isso, trazem gravado o nome das famílias em cada vitral doado.

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