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Não faz muito tempo que ele começou a falar e talvez ainda nem entenda o que está acontecendo. No entanto, quando conseguir entender, vai saber que esta terça-feira (16) está marcada em sua vida para sempre. Desde às 13h, em São José do Rio Preto, esse menino de 1 ano e 8 meses se transformou na primeira criança do interior do país a passar por um transplante de coração.

Mais importante do que isso, desde às 16h seu coração novo bate sozinho, sem a ajuda de nenhum dos aparelhos que o mantiveram vivos nos últimos três meses. "Essa cirurgia abre uma nova opção para centenas de crianças com cardiopatias graves no interior do país", diz o cirurgião cardíaco do Hospital de Base de São José de Rio Preto, Ulisses Alexandre Croti.

Até a segunda-feira (15), o coração que o menino recebeu, era o pouco de vida que resistia com dificuldades no peito de uma menina de 1 ano e 3 meses. Desde o dia 8 de fevereiro, ela estava internada na UTI do Hospital de Base, após ser atropelada em Rubinéia, cidade da região de São Jose do Rio Preto.

Nesta terça, Croti e mais vinte pessoas entraram no centro cirúrgico do hospital às 7h. Saíram de lá às 13h, levando com eles a expectativa do que aconteceria nas próximas horas.

A angústia acabou às 16h, quando Croti e sua equipe receberam a primeira informação de que o menino já respira sem a ajuda de aparelhos e consegue se comunicar com os pais.

Longa espera

Há 15 anos acompanhando o cotidiano de crianças com doenças cardíacas graves, Croti sabe o que significa para um pacientes estar distante dos centros onde os transplantes são realizados. "Até hoje, todas as crianças tinham que ir para São Paulo para passar por um transplante", afirma.

Sair da cidade em que moram, passar por uma cirurgia arriscada e ainda aguardar todo o período de recuperação longe de casa é um processo extremamente desgastante para qualquer adulto. Para uma criança, porém, muito mais.

Há oito anos, isso já incomodava o médico e o Hospital de Base de São José do Rio Preto. Por esse motivo, ainda em 2002, um grupo de cirurgiões cardíacos infantis começou a ser formado, esperando o dia em que a primeira criança pudesse receber um novo coração lá mesmo.

O dia chegou, e alheio à comemoração, o médico sabe que as condições para que isso acontecesse sempre estiveram além de seu controle. "Isso só foi possível graças à nobreza de uma família que perdeu sua filha ontem (segunda-feira)", diz Croti.

Às 18h desta terça, a mãe da doadora voltou para Rubinéia. Ainda abalada, dá uma ideia da dificuldade da decisão no pior momento de sua vida. "No início não queria doar, mas quando entendi que poderia salvar a vida de uma outra criança resolvi permitir", diz Maristela Aparecida Bivante, mãe da doadora.

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