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Nível do Rio Negro, em Manaus, atingiu 13,63 metros na manhã de ontem: vazante baixa expôs o acúmulo de lixo nas margens do rio | Alberto Cesar Araujo/  Folhapress
Nível do Rio Negro, em Manaus, atingiu 13,63 metros na manhã de ontem: vazante baixa expôs o acúmulo de lixo nas margens do rio| Foto: Alberto Cesar Araujo/ Folhapress

Manaus - Foi só por um centímetro, mas o Rio Negro bateu um recorde histórico: atingiu seu nível mais baixo desde 1902, quando a estação de monitoramento do porto de Manaus (AM) foi fundada. A marca que confirmou a maior vazante (baixa das águas) foi de 13,63 metros na manhã de on­­tem. O recorde anterior, de 13,64 m, havia sido registrado em 1963.

A expectativa de recorde virou atração turística em Manaus. Muitos turistas foram ao porto da cidade para fotografar um painel em que há os registros de datas e medições das maiores e menores enchentes. Para medir a vazante, o técnico de monitoramento Valderino Pereira da Silva utilizou outra régua.

Ela fica debaixo do cais do porto. Só se chega lá em viagem de dez minutos de voadeira (canoa com motor de popa). "O Rio Negro baixou seis centímetros, ultrapassando o nível mínimo de 1963’’, afirmou Silva, logo após a medição de ontem, acompanhada pela reportagem.

Daniel Oliveira, engenheiro hidrólogo do Serviço Geológico do Brasil, afirmou que a maior seca do Negro pode ter ainda outro recorde. "A tendência é que as águas desçam mais uns dias, de modo que a marca de hoje (ontem) pode baixar mais’’, disse. Segundo ele, o recorde do Rio Negro faz com que a seca deste ano seja a pior da história da Amazônia ocidental.

Emergência

No Amazonas, a baixa dos rios deixou 37 dos 62 municípios em situação de emergência. Uma cidade decretou calamidade pública. São 66 mil famílias afetadas pelo isolamento da estiagem no estado. A situação é mais grave nas cidades banhadas pelo Rio Solimões (no Oeste do estado), que também teve recorde de vazante no último dia 19, quando marcou 98 centímetros abaixo do menor nível já verificado anteriormente, em 1998.

A Defesa Civil do Amazonas, em parceria com o Exército, usará helicópteros para prestar atendimento aos atingidos pela seca, com o envio de água potável e mantimentos. A prioridade será o município de Tefé (a 516 quilômetros em linha reta de Manaus), onde comunidades estão totalmente isoladas. Mais de 62 mil famílias são afetadas pela estiagem, segundo cálculos do governo do Amazonas.

Já começa a chover na região, mas os igarapés e lagos, que dão acesso aos grandes rios, continuam inavegáveis. A seca é consequência de uma estiagem extrema na calha central da bacia amazônica. Pesquisadores de diferentes órgãos, como os do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, estudam o fenômeno. Hoje, eles farão um sobrevoo nas áreas mais críticas.

Turismo

O guia Aliomar de Barros disse que desde terça-feira da semana passada leva turistas para fotografar o Rio Negro. "Eles ficam muito curiosos, e esse ano mais ainda por causa da seca, que é anormal’’, afirmou. A paulista Milena Cardoso, 32 anos, disse que veio a Manaus para conhecer os botos, mas contou que ficou surpresa com a seca. "O homem está acabando com a natureza, pode ver que tem muito lixo (nas margens do Negro). Nem vimos os botos.’’

Com a baixa das águas, o Rio Negro revelou um alto grau de poluição. O acúmulo de lixo nas margens secas do rio impressiona. Em um dos afluentes, as casas flutuantes agora estão sobre o leito. Canoeiros ficaram sem trabalho. "Dois meses e meio de trabalho parado, sem renda, sem qualquer atividade", diz Adonis Custódio. No encontro das águas, onde o Rio Negro se junta ao Solimões, ilhas de pedra e argila aparecem pela primeira vez.

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