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Despoluir o Belém exige investimentos, ações do poder público e participação da população. A Gazeta do Povo traz seis idéias para salvar para o rio, elencadas por sete especialistas ou pessoas envolvidas na sua recuperação: os professores de Engenharia Ambiental Arnaldo Müller (PUCPR) e Eduardo Gobbi (UFPR); Maria Arlete Rosa, diretora de Meio Ambiente da Sanepar; Glauco Requião, diretor de pesquisa e monitoramento ambiental da prefeitura; Ricardo José Barros, diretor de uma empresa de soluções ambientais; e César Paes Leme e Tosihiro Ida, da Associação de Moradores e Amigos do São Lourenço.

1 - Expandir a rede de esgoto para 100% das casas

Os bairros que estão dentro da Bacia do Rio Belém ainda não têm 100% de coleta de esgoto. Segundo a Sanepar, 19,7% dos imóveis da bacia – 24,8 mil residências – não estão ligados à rede coletora de esgoto. Isso significa que esses milhares de curitibanos podem estar despejando seus dejetos diretamente no Belém ou nos riachos que deságuam nele.

Sem a extensão da rede coletora para toda a bacia, qualquer projeto de despoluição do Belém está fadado ao fracasso. A Sanepar sabe disso. E a diretora de Meio Ambiente da empresa, Maria Arlete Rosa, afirma que neste ano e no próximo estão previstos investimentos de R$ 3,3 milhões na ampliação do sistema para mais duas mil residências. O atendimento do restante dos imóveis que ainda não dispõe de rede coletora, porém, depende de um projeto que ainda está sendo elaborado.

2 - Combater as ligações de esgoto clandestinas

De nada adiantará a bacia do Belém estar totalmente coberta por sistema de coleta se a população não fizer a ligação da tubulação de esgoto de sua casa no sistema da rua. É muito comum que moradores de locais onde já existe rede coletora façam a ligação do esgoto de casa na galeria de águas da chuva, que levam a poluição diretamente para os rios.

Segundo a Sanepar, na bacia do Belém, há pelo menos 12,7 mil ligações irregulares. E o maior problema está nos bairros centrais, diz Maria Arlete, da Sanepar. Nesses bairros, o sistema de coleta muitas vezes chegou depois das construções. Os proprietários, para não ter de gastar dinheiro com obras, não fazem a ligação. A solução do problema exige fiscalização conjunta da Sanepar e da prefeitura (só o poder público municipal pode multar quem não faz a ligação).

3 - Envolver a população no projeto de revitalização

Um projeto de revitalização do Belém exige envolvimento completo dos curitibanos. Não só para fazer a ligação de suas casas na rede coletora de esgoto. A população não poderia, por exemplo, continuar a jogar lixo no rio ou nas ruas. O professor de engenharia ambiental Arnaldo Müller, da PUCPR, explica que o papel de bala que é jogado acaba sendo levado pela chuva para o bueiro e depois vai cair no rio.

Já há inclusive experiências de sucesso que apostaram no envolvimento da comunidade para recuperar o Belém. A Associação de Moradores e Amigos do São Lourenço trabalha em parceria com 30 escolas para conscientizar os moradores dos bairros do Norte da cidade. De 2000 até hoje, conseguiu fazer com que o índice de casas ligadas na rede de esgoto da região saltasse de 42% para 87%, diz o presidente da entidade, César Paes Leme.

4 - Resgatar a identidade do curitibano com o Belém

Os curitibanos só vão se envolver em um projeto de revitalização e de manutenção do Belém se passarem a valorizar o rio. Hoje, porém, uma grande parcela da população vê o rio como grande canal de esgoto e preferiria que ele estivesse inteiramente canalizado e enterrado. Uma das possíveis soluções para revalorizar o rio estaria em obras paisagísticas para torná-lo um local aprazível de se freqüentar, com praças, bosques e jardinetes.

"Além disso, a população precisa ter referências geográficas do rio e precisa saber que mora dentro da Bacia do Belém", diz Glauco Requião, diretor de pesquisa e monitoramento ambiental da prefeitura. Hoje, a imensa maioria dos curitibanos desconhecem, por exemplo, que o Belém passa "enterrado" no Centro de Curitiba, entre o Passeio Público e o Colégio Estadual e embaixo da Avenida Mariano Torres.

5 - Implantar sistemas de contenção de enxurradas

Existe um tipo de contaminação das águas dos rios urbanos que é difícil de ser combatida por ações específicas da população ou do poder público. Trata-se da poluição difusa: sujeira levada pelas chuvas para os rios, tal como pedaços minúsculos da borracha dos pneus que se desgastam com o uso do carro, partículas de lixo colocado na rua para ser coletado pelos caminhões, poluição do ar "lavada" pelos temporais, terra que desliza dos barrancos do rio.

Segundo o engenheiro ambiental Arnaldo Müller, esse tipo de contaminação pode ser minorada pela adoção de medidas para evitar que as enxurradas levem uma quantidade grande de sujeira para o leito do rio. Isso pode ser feito por meio da construção de "piscinões" (sistemas de contenção das enxurradas) e de reservatórios para conter a água da chuva em residências e prédios.

6 - Tratar a água poluída dentro do próprio rio

Se nenhuma medida anterior for adotada e a poluição continuar a chegar ao Belém, ainda é possível despoluí-lo por meio de um processo de tratamento da água dentro do próprio leito do rio (veja quadro ao lado). A tecnologia permite eliminar 99% dos coliformes fecais, 98% da carga de fósforo (poluente), 97% de metais pesados e 92% da turbidez presentes na água, diz Ricardo José Barros, diretor geral da Ambiensys/DT Engenharia, joint-venture que detém a patente do sistema.

Esse tipo de tratamento já vem sendo utilizado com sucesso para despoluir o Rio Pinheiros, um dos mais contaminados de São Paulo, e o Piscinão de Ramos, espaço de lazer para a população da periferia do Rio de Janeiro. Barros avalia que, no caso da bacia do Belém, seria preciso instalar três estações de tratamento em pontos distintos para garantir água limpa ao rio.

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