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 | Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo
| Foto: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo

Criatividade para reduzir o desperdício

Na cozinha da massoterapeuta Celmara Trevisani Mendes (foto), o que não falta é criatividade para evitar o desperdício de alimentos. "Como não gosto de comida requentada, sempre faço a medida certa para não sobrar. Caso sobre, o segredo é incrementar os pratos e o arroz de ontem vira uma torta ou bolinho, o feijão, com um pouco de batata, ovo e farinha rende um virado, e, se fizemos um churrasco no domingo, pode saber que na segunda-feira o cardápio vai incluir arroz carreteiro", conta, aos risos.

Segundo ela, a família não reclama das invenções na cozinha. Pelo contrário, as receitas fazem sucesso e ela acha que a preocupação vale a pena. "Minha filha tem 21 anos e percebo que ela tem os mesmos valores em relação a isso. Meu marido, por exemplo, comentou sobre as minhas receitas e a esposa de um colega de trabalho decidiu fazer o mesmo. Aos pouquinhos, vou fazendo a minha parte pelo mundo."

Dicas úteis

Saiba o que você pode fazer em casa para diminuir os impactos ambientais de suas escolhas na alimentação:

• Não dispense a lista de compras – Antes de sair de casa, confira os armários e a geladeira e faça uma lista daquilo que está em falta e você pretende repor. É importante ser disciplinado: não adianta fazer a relação e, na hora das compras, encher o carrinho com coisas que não estavam previstas. Também confira a data de validade dos alimentos e certifique-se de que terá tempo de consumi-los antes desse prazo.

• Consuma só o necessário – Boa parte do desperdício de água e de comida pode ser reduzida se as pessoas se limitassem a comprar, comer, beber e preparar apenas o suficiente. Fique atento ao preparo dos alimentos: na hora de descascar ou processar o alimento, evite o desperdício. Se for cozinhar em casa, prepare apenas o necessário. Quando for servir seu prato, evite o exagero e só sirva o que for comer.

• Seja criativo na cozinha – O resto da porção de arroz de ontem pode render um ótimo bolinho de arroz hoje e as cascas de legumes podem ser incluídas no preparo de uma sopa. Seja criativo, invente novas receitas e não jogue fora os alimentos. Como muitas pessoas não têm tempo para cozinhar em casa, valem algumas táticas, como fazer uma quantidade maior no domingo e esquentar durante a semana.

• Informe-se sobre a origem – Antes de adquirir um alimento, fique atento e se informe sobre sua origem. Procure informações sobre a empresa que o produziu, como foi feito o transporte, de que maneira ele foi acondicionado no supermercado. Neste ponto, a internet pode ser uma aliada para checar informações e fazer uma busca minuciosa. Prefira os hidropônicos e orgânicos, que são menos agressivos ao meio ambiente. Também evite os industrializados, pelo excesso de conservantes e embalagens, e privilegie uma alimentação natural.

• Diminua o tamanho do seu bife – Segundo especialistas, o ideal é que cada pessoa consuma no máximo 90 a 150 gramas de carne vermelha (um bife médio) por dia, três vezes por semana. Nos demais dias, substitua por peixe, frango ou soja, que também são ricos em proteínas, mas têm taxas de gordura saturadas muito menores.

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Não desperdiçar alimentos, comprar somente o necessário, exigir produtos certificados, ser criativo e diminuir o tamanho das porções de carne. Parece pouco, mas os especialistas garantem: é o suficiente para amenizar – e muito – os danos ao meio ambiente. Segundo pesquisa da ONG internacional Oxfam, os brasileiros sabem disso: 86% dos entrevistados disseram saber que suas escolhas causam impacto na natureza.

O problema é que, na prática, a história parece bem diferente: quase 70% não demonstram interesse em saber como os alimentos são produzidos, apenas 57% se importam quando desperdiçam comida e 63% não abririam mão de um bife uma vez por semana se soubessem que isso faria bem ao meio ambiente.

Para o professor do pro­­grama de pós-graduação em Gestão Ambiental da Universidade Positivo Klaus Sautter, sair do discurso e promover pequenas mudanças no dia a dia, como comprar menos e aproveitar melhor os alimentos, é fundamental para as pessoas consumirem de maneira mais sustentável.

"Se cada um se propusesse a produzir 30% menos resíduos e desperdiçar 20% menos alimentos, individualmente, não teria qualquer efeito. Mas o Brasil tem 200 milhões de habitantes. Se todos mudassem sua postura, imagine o impacto que isso teria", diz.

Segundo o pesquisador da área de sustentabilidade e diretor da unidade de São José dos Pinhais do Fae Centro Universitário, Marcus Vinicius Guaragni, a sustentabilidade na alimentação vai além da questão do meio ambiente e também envolve a preocupação com a própria saúde. Os produtos industrializados, por exemplo, exigem um gasto grande de energia e água para serem produzidos e têm corantes e conservantes que fazem mal ao organismo.

"Se a pessoa tiver oportunidade de fazer um suco de laranja da fruta em casa já é sustentável pelo fato de fugir do suco de caixinha, que é cheio de conservantes. Se as laranjas forem orgânicas, muito melhor. O ponto central é pensar que todas as opções, prontas, rápidas e práticas não são as mais saudáveis."

Para o professor de Eco­­nomia da Pontifícia Uni­versidade Católica do Paraná (PUCPR) Fábio Araújo, as mudanças realmente surtiriam efeito, mas é preciso não se iludir. "Nada vai mudar de um dia para o outro. Isso só funciona a longo prazo e se reunir uma grande quantidade de pessoas."

Desperdício

No caso dos alimentos, o principal problema é o desperdício que ocorre em toda a cadeia, desde a produção até o consumo. Segundo dados da Oxfam, um terço do que é produzido no mundo é desperdiçado, o que aumenta a importância de se pensar duas vezes antes de jogar algum alimento no lixo. "É o ensinamento mais básico: colocou no prato, tem que comer. É comum a pessoa se servir e, ao final da refeição, deixar restos ou jogar fora a maçã inteira se ela tem um amassado num dos lados, por exemplo. Comportamentos assim precisam acabar", diz Sautter.

Além de ambientalmente correta, a atitude ainda garante uma economia no fim do mês, já que, se você desperdiça menos, poupa mais. "Na soma de um ano, acaba fazendo muita diferença no orçamento", diz Araújo.

Parar de consumir carne não resolve

Parar de comer carne bovi­­na é a solução definitiva para acabar com os problemas do meio ambiente, certo? A história não é bem assim. Segundo o especialista em Gestão Am­­biental da Universidade Po­­sitivo Klaus Sautter, a produção de carne de vaca é reconhecida como a atividade mais poluente, pelo alto con­­sumo de água e nutrientes e pela emissão de metano, mas as pessoas não preci­­sam se sentir culpadas por comer um bife algumas vezes na semana.

"Porcos e galinhas também produzem metano, mas em uma quantidade bem menor, e a pesca predatória é muito danosa para o meio ambiente. Então, a solução não é eliminar, mas reduzir o consumo e tornar a ingestão balanceada. Se a pessoa varia as carnes que ingere na semana, já ajuda a diminuir os impactos."

O professor também reco­­menda que os consumidores exijam que a carne seja rastreada, como já ocorre na Eu­­ropa. Com esse mecanismo, cada animal é identificado e sabe-se quando e onde ele nasceu, se está com as vacinas e remédios em dia, se tem boa saúde, se foi tratado com pasto ou era confinado e se recebia ração.

Com maior poder aquisitivo, Brasil vive dilema ao se alimentar

Com a renda do brasileiro cada vez maior, os especialistas acreditam que o país chegou a um impasse no consumo, principalmente na alimentação: a população vem consumindo alimentos mais caros, como carnes e produtos industrializados, mas que não são necessariamente ecológicos, como forma de exibir status social.

Para o pesquisador da área de sustentabilidade Marcus Vinicius Guaragni, a situação só pode ser resolvida com educação ambiental. "Se a pessoa tiver consciência dos limites, mesmo que cresça sua renda, ela vai se organizar para não consumir além do necessário e alocar seus recursos com qualidade. Com educação ambiental, ela vai perceber que pode gastar de maneira sustentável e que não precisa consumir de maneira desenfreada para pertencer ao grupo."

Para o professor, o ideal seria seguir a lógica vigente em outros países. "Aqui, fartura na mesa é sinal de importância. Na Europa, os restaurantes servem pratos feitos, em porções individuais, e nas casas, a comida é sempre feita para não sobrar. Aqui, os rodízios e bufês dominam os estabelecimentos e ainda precisamos aprender a cozinhar de maneira que não gere desperdício."

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