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Acampamento 1º de Maio, no Sul do Paraná, entre General Carneiro e Bituruna: corte de madeira causou fiscalização e teria levado à morte de sem-terra que se opunha a acordo com madeireiras | Divulgação Ibama
Acampamento 1º de Maio, no Sul do Paraná, entre General Carneiro e Bituruna: corte de madeira causou fiscalização e teria levado à morte de sem-terra que se opunha a acordo com madeireiras| Foto: Divulgação Ibama

Sem-terra e madeireiros se unem para desmatar, diz PF

Grandes áreas da floresta remanescente de araucária, no Centro-Sul do Paraná, estão sendo desmatadas em parceria por supostos sem-terra e madeireiros. Essa é a conclusão de um processo de investigação da Polícia Federal (PF). O delegado-chefe de repressão aos crimes ambientais, Rubens Lopes da Silva, conta que, em depoimento, pessoas que foram flagradas em atividades de desmatamento afirmaram que tinham acordos firmados com empresas do ramo florestal. A dobradinha sem-terra e madeireiros em derrubadas ilegais também foi detectada pela PF na região amazônica, em Rondônia.

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  • Veja quais são as principais formas de atuação dos desmatadores no Paraná

Ponta Grossa - Grandes áreas da floresta remanescente de araucária, no Centro-Sul do Paraná, estão sendo desmatadas em parceria por supostos sem-terra e madeireiros. Essa é a conclusão de um processo de investigação da Polícia Federal (PF). O delegado-chefe de repressão aos crimes ambientais, Rubens Lopes da Silva, conta que, em depoimento, pessoas que foram flagradas em atividades de desmatamento afirmaram que tinham acordos firmados com empresas do ramo florestal. A dobradinha sem-terra e madeireiros em derrubadas ilegais também foi detectada pela PF na região amazônica, em Rondônia.

A PF também apura, mas ainda não recolheu provas suficientes, a associação de fazendeiros e sem-terra. Áreas que não podem ser exploradas economicamente por serem majoritariamente formadas por vegetação nativa são invadidas por falsos sem-terra, que ganham o direito de explorar a madeira. Depois que a terra é "limpa" – valorizando de R$ 3 mil para R$ 30 mil o hectare – a fazenda é desocupada. Numa terceira linha de investigação, a PF acredita ter provas da associação entre madeireiros e fazendeiros. O madeireiro "limpa" a área e fica com a madeira e o fazendeiro ganha a terra nua, para agricultura ou reflorestamento.

O superintendente estadual do Instituto Nacional de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), José Álvaro Carneiro, afirma que algumas pessoas mal-intencionadas estão tentando associar o nome do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) com as derrubadas ilegais. "Encontramos bandeiras vermelhas e fomos verificar. Descobrimos que não eram do movimento", conta. Também em Rondônia não é o MST que está envolvido nas áreas em que sem-terra e madeireiros se associaram.

Carneiro lembra que muitos acampados acabam sendo "manipulados na sua pobreza" e se sentem seduzidos pela possibilidade de ganhar um pouco de dinheiro. Ele revela que as fiscalizações mostraram áreas queimadas, outras com fornos de carvão e que não havia lavoura cultivada. "Vimos que os falsos sem-terra não têm mandioca plantada, não engordam galinhas", relata.

Um exemplo da associação de supostos sem-terra e madeireiros estaria acontecendo no acampamento 1º de Maio, que fica nos municípios de Bituruna e General Carneiro, no Sul do Paraná. Lá, a PF teria encontrado provas da parceria. Detalhe: Bituruna foi considerada a campeã nacional no desmate da floresta atlântica,

no período de 2000 e 2005, e por muito tempo as autoridades municipais culparam os acampamentos e assentamentos da cidade pela posição no ranking.

Fabio Lima, integrante do MST e da Fundação Terra de Bituruna, declara que há um ano e meio o movimento se retirou do acampamento. A saída aconteceu, conta ele, porque o MST não teria concordado com acordos firmados entre acampados e empresas – o MST não concordava com a exploração ambiental. "Sabemos que a madeira estava saindo e que, se isso estava acontecendo, era porque alguém estava comprando", diz.

A PF está realizando uma ampla investigação na vida dos envolvidos em desmates, que podem ser enquadrados nos crimes de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e sonegação fiscal. O delegado explica que o objetivo não é pegar o peão que corta a arvore, mas quem manda ou quem está ganhando dinheiro com o desmate. Ele não revela nomes porque os casos estão em investigação. Um plano de ação envolvendo a parceria de órgãos federais e estaduais está sendo desenvolvido no Paraná para combater o desmatamento.

A Gazeta do Povo mostrou na edição de segunda-feira que operações conjuntas do Ibama e da PF localizaram vários pontos de desmatamento, que resultaram em R$ 6 milhões em multas e 1,3 mil metros cúbicos de madeira apreendida no Centro-Sul do Paraná. Nos últimos seis meses, sobrevoos de helicóptero e incursões por terra apontam que o desmate equivale a 30 caminhões carregados de árvores nativas por dia.

Na reunião semanal do secretariado, ontem, o governador Roberto Requião determinou que as reintegrações de posse de áreas ocupadas são prioritárias nos casos em que for comprovado o desmatamento.

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