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São Paulo – Um desastre aéreo de grandes proporções narrado em primeira pessoa é um caso raro. Mas a queda do Boeing 737 da Gol foi mesmo uma ocorrência como poucas – e teve um relator à altura: Joe Sharkey, colunista do The New York Times. Na edição de ontem do jornal, Sharkey contou com riqueza de detalhes o que aconteceu, num relato que começa descrevendo um vôo tranqüilo e termina lembrando uma tragédia. Abaixo, alguns trechos da matéria de Sharkey.

"Sem aviso, senti um forte solavanco e um ruído alto, seguido por silêncio, exceto pelo barulho dos motores. Então vieram as três palavras que eu nunca vou esquecer. ‘Fomos atingidos’, disse Henry Yandle, um outro passageiro. ‘Atingidos? Pelo quê?’, pensei. Olhei pela janela. O céu estava limpo, o sol alto no céu. A floresta parecia não ter fim. Mas ali, na ponta da asa, havia uma ponta recortada, talvez com um pé de altura, onde deveria haver uma aleta de cinco pés.

"Eu tinha sorte em estar vivo – e só mais tarde saberia que não tiveram a mesma sorte os 155 passageiros a bordo do Boeing 737 que, aparentemente, havia nos golpeado.

"Surpreendentemente, ninguém entrou em pânico. Os pilotos começaram a procurar em seus controles e mapas sinais de um aeroporto ou, pelas janelas, por um lugar para descer. Mas à medida que os minutos passavam o avião continuava a perder velocidade.

"Nossas esperanças iam embora, junto do sol. Alguns de nós escreviam bilhetes para esposas e entes queridos e guardavam nas pastas, esperando que algum dia elas fossem encontradas. Nosso pouso foi duro e rápido. Observei os pilotos lutarem com a aeronave porque boa parte dos controles automáticos estavam perdidos.

"Por volta das 19h30 Dan Bachmann, executivo da Embraer e o único entre nós que falava português, veio à nós no refeitório (da base aérea de Cachimbo) com notícias do escritório do comandante. (...)

Antes daquele momento nós estávamos comemorando e fazendo piadas com o que havia acontecido. Combinávamos nos reunir uma vez por ano. Agora curvávamos a cabeça em um longo momento de silêncio, apenas com o som de um choro abafado. (...)".

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