O anúncio da suspensão do projeto do governo que corta reajuste para o funcionalismo público do Paraná não foi suficiente para barrar a mobilização de servidores de diferentes categorias. Segundo o Fórum das Entidades Sindicais do Paraná (FES), caso não haja retirada da Mensagem 43, que trata do assunto, na Assembleia Legislativa, a greve de professores universitários e da educação básica deve ser engrossada depois do dia 19, próxima quarta. Será nesta data que o governo irá se reunir com representantes dos trabalhadores para negociar um desfecho para a situação.
Coordenadora do FES e diretora da APP-Sindicato, Marlei Fernandes afirmou que, a princípio, a suspensão da tramitação do projeto no Legislativo não muda nada. “Fizemos uma avaliação do documento e entendemos que não é a proposta dos servidores. A nossa proposta é retirar o projeto, manter a data-base e abrir negociação sobre todas as dívidas com o servidor, como contratações e progressões”, diz. Conforme a sindicalista, na próxima semana, os servidores devem buscar apoio de deputados.
Outras categorias
Além dos trabalhadores da saúde, que seguem com assembleias regionais até a semana que vem, discutem deflagração de greve servidores dos setores de meio ambiente e agricultura, penitenciárias estaduais e Polícia Civil.
O presidente do Sindicato dos Servidores Públicos da Agricultura, Meio Ambiente, Fundepar e Afins (Sindseab), Donizetti Silva, disse que a categoria discutiu em agosto o indicativo de greve e está nos ajustes finais para aderir à paralisação até o dia 25. “Como estamos vendo que a possibilidade de não sair reajuste está se concretizando, vamos caminhar para a greve também. No ano passado, tivemos acordo chancelado pelo Ministério Público e agora esse projeto”, afirmou.
O Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná (Sindarspen) já tem reunião marcada para o dia 20 sobre a greve. A entidade vai aguardar o desenrolar das negociações no dia 19 para decidir se adere ou não à paralisação dos professores. “Dependendo de como for, faremos assembleia. Se pararmos, a adesão será quase total”, acredita o diretor sindical Vilson Brasil.
Na área da Saúde, o Sindsaúde deve decidir se adere ou não à paralisação dia 25. Por enquanto, a entidade tem feito assembleias regionais nos locais de trabalho da categoria.
Marlei salientou que há um esforço das direções sindicais para unificar as ações grevistas. Os professores da rede pública aprovaram a paralisação com início na segunda-feira (17) . Os policiais civis aguardam deliberação em assembleia nesta sexta-feira (14), em Curitiba, para definir se inicia a greve dia 17. No interior, os servidores consultados já concordaram com a adesão. Leia mais sobre outras categorias no box ao lado.
“Tudo vai depender agora de como será o debate de cada categoria para termos uma greve geral. Estão sendo feitos debates regionais porque são sindicatos menores”, afirma a coordenadora do FES.
O Paraná tem hoje, segundo dados da Secretaria de Administração e Previdência (Seap), cerca de 150 mil servidores públicos estaduais na ativa.
Governo fala em greve política e pede compreensão a servidores
No governo do estado, o discurso a respeito da greve dos professores é unificado. A paralisação tem claro viés político e é fruto da irresponsabilidade dos docentes diante do momento econômico do país. Mais do que isso, o Executivo acredita que a APP-Sindicato não tem o apoio da categoria e será rechaçada por pais e alunos. Sobre a suspensão da data-base, o posicionamento continua o mesmo: não há como pagar, simultaneamente, reajuste salarial e promoções e progressões.
Entre os integrantes do governo e deputados aliados na Assembleia Legislativa, a alegação mais recorrente é a situação financeira dos outros estados. Eles citam principalmente o Rio Grande do Sul, que está pagando o salário do funcionalismo em parcelas de apenas R$ 180. “O Paraná é o único estado pagando em dia os seus servidores. Eles têm de dar graças a Deus que por aqui tudo está certo”, diz um membro do staff do governo Beto Richa (PSDB).
Tachando os professores de “injustos” com o governo, eles defendem que a paralisação tem caráter político, sobretudo pelo fato de parte da direção da APP ser ligada ao Partido dos Trabalhadores (PT). “É um desespero político completo, depois de a esquerda perder credibilidade. Basta ver o resultado dessas eleições.”
Para a cúpula governista, a greve só foi deflagrada devido à ocupação por estudantes de 300 escolas em todo o estado. “Isso resolve a questão do desconto em folha dos dias parados”, diz um parlamentar da base.
Resposta
De um lado, o Executivo cobra dos professores que sentem à mesa e negociem. Eles argumentam que, desde o início, já havia ficado claro que o projeto que suspende a data-base só seria votado a partir do fim do mês de novembro na Assembleia. “É preciso ter juízo. Sentar e negociar”, afirma um governista.
Em paralelo, aliados de Richa defendem uma campanha de comunicação maciça. O objetivo seria mostrar o cenário econômico nacional, os ganhos reais dos servidores na gestão do tucano e o prejuízo à população se todo o orçamento for alocado no pagamento de pessoal. “Também temos que mostrar que essa greve ocorre num momento muito ruim, com Enem e vestibular batendo à porta. Não dá para ceder tanto e prejudicar todo mundo. Os professores precisam pensar um pouco menos em si e mais na comunidade.”
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