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O motorista curitibano parece ignorar o eterno alerta sobre a trágica associação entre direção e bebida. Se não fosse assim, as estatísticas do Siate seriam diferentes. Mas a cada dez acidentes atendidos pelo serviço, o álcool é protagonista em sete ocorrências. A informação é da médica Mônica Fiuza Parolin, coordenadora de Planejamento, Controle e Avaliação do Siate. É comum observar dezenas de pessoas saindo de bares da capital e assumindo o volante de seus carros depois de terem tomado várias doses além da conta. O resultado desse tipo de imprudência é um trânsito mais perigoso – inclusive para pedestres e aqueles que optam pela água e refrigerante.

No ano passado, foram atendidos pelo Siate 11.638 acidentes, atropelamentos e capotamentos – pela conta dos 70%, 8.146 devem ter tido algum indício de álcool. "A nossa experiência mostra isso. O hálito etílico não é um sinal que você procura. Ele é bem evidente", afirma Mônica. Em 2006, 8.537 pessoas ficaram feridas em acidentes e outras 83 morreram no local. "Constatamos que em 50% dos casos a vítima está sob influência de álcool ou outro entorpecente", conta o soldado Claudinei Tomas, do Batalhão de Policiamento de Trânsito (BPTran). O policial ainda ressalta que o número de mortes relacionadas ao trânsito é bem maior, pois muitos acabam morrendo no hospital e não entram nas estatísticas. Nas duas últimas semanas, 20 pessoas morreram atropeladas ou ao volante em Curitiba.

De acordo com Mônica, é no período noturno que acontece a maioria dos acidentes com vítimas ou responsáveis embriagados. "Empiricamente, é isso que constatamos. A bebida e o acidente estão diretamente relacionados com o horário", explica. A maior parte das colisões ocorre por volta das 23 horas e depois retoma lá pelas 4 horas – nas sextas-feiras, sábados e domingos. Horários que coincidem com o começo e o fim das noitadas.

Os socorristas apontam ainda uma conjunção de fatores que agrava ainda mais a situação: fim de semana de clima mais quente, em início do mês (com o salário na conta) e depois de uma semana fria são sinais de que o plantão da madrugada será agitado. Com isso, a previsão para este domingo é a mais sombria possível.

Para a psicóloga Iara Thielen, coordenadora do Núcleo de Psicologia do Trânsito da Universidade Federal do Paraná, as duas principais causas de acidentes são o álcool e o excesso de velocidade. "E existe uma ligação entre esses dois fatores", afirma. Ela explica que o álcool reduz a capacidade de percepção e retarda a reação do motorista. Cerca de um terço dos acidentes no trânsito de Curitiba tem jovens entre 20 e 29 anos envolvidos. "Mas isso não significa que os mais velhos também não bebam. O consumo de álcool não é uma característica só dos jovens", alerta Iara.

Na madrugada do domingo 20 de maio, dois amigos de 17 e 18 anos com garrafas de cerveja nas mãos trançavam as pernas na calçada da Rua Bispo Dom José (continuação da Avenida Batel), onde se concentra a maioria dos bares da região. Entre risadas, palavras e salivadas, o mais velho contou que apenas ele e mais dois amigos, de um grupo de 15 pessoas, procuram não beber quando estão dirigindo. "É uma exceção quem sai e não bebe. Com carro, eu não bebo mesmo. É uma questão de consciência. Mas como hoje eu estou de carona...", disse, erguendo a bebida. Já o mais novo relatou que recentemente foi com o carro para a faculdade, bebeu e se envolveu em um acidente no retorno para casa. "Menor e bêbado. Fugi e nunca mais saí com carro", confessa.

A uma quadra dali, um grupo de jovens desfrutava de um tubão (garrafa pet com uma mistura de refrigerante com cachaça) em frente a um posto de gasolina. Um deles, com 26 anos e o sugestivo apelido de Pinga, contou já ter estourado os pontos de sua carteira de motorista e disse que teria se envolvido em 15 acidentes – que foram desde batidas em meio-fios e canteiros até colisões e atropelamentos. "A última quase entrei embaixo de um ônibus. Isso sempre por causa da bebida. Mas eu sou um cara bem mais consciente do que você imagina. Tenho noção", defende-se.

Na esquina seguinte, rapazes e meninas se reuniam. Latas de cerveja e uma garrafa de pinga faziam parte da roda. "Aqui os homens bebem e as mulheres não. Na maioria das vezes, são elas que voltam dirigindo", conta o universitário Eduardo Luiz Furiatti, 21 anos. No caso dele, é a namorada Gisele Schmidt, 23 anos, que comanda a direção. "Não acho ruim. É mais seguro e até é bom porque aí eu dirijo", diz. "Tem muita gente saindo bêbado e se exibindo nas ruas", afirma Eduardo. Gente fritando pneus, ziguezagueando entre veículos e pedestres, sentada na janela do passageiro. E bêbados que andam pela calçada e invadem a rua sem qualquer atenção.

Às 3h28 daquele domingo, a Gazeta do Povo acompanhou um atendimento do Siate. De acordo com testemunhas, o motorista de um Honda Civic avançou pelo cruzamento das ruas Vicente Machado e Jerônimo Durski, no Batel, e colidiu com um Citröen C3 que estava em uma das esquinas. Os semáforos estavam em sinal de alerta. "A velocidade com que ele veio e a força com que bateu fizeram com que meu carro virasse. Foi como um foguete. Passou reto. Ainda bem que eu estava com o cinto de segurança", conta a condutora do outro veículo, que não quis ser identificada.

Depois da batida, o Honda foi para cima de uma árvore, que tombou com o impacto. O motorista de 23 anos foi retirado do carro e desmaiou depois que soube que a condutora do C3 passava bem. "Ele falava toda hora em um tal de Léo que também estaria no carro, mas ele estava sozinho", comentavam as testemunhas. O rapaz foi encaminhado para o Hospital Evangélico. Segundo os socorristas do Siate, ele estava bastante confuso devido à colisão e era perceptível que tinha "hálito etílico".

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