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Paulo e Débora Sansana adotam desde sempre a sinceridade como critério para as conversas sobre sexo com o filho Gabriel, de 10 anos | Hedeson Alves/ Gazeta do Povo
Paulo e Débora Sansana adotam desde sempre a sinceridade como critério para as conversas sobre sexo com o filho Gabriel, de 10 anos| Foto: Hedeson Alves/ Gazeta do Povo

O que fazer?

Não existe uma receita única para debater a sexualidade. Isso depende de como ocorre a dinâmica da família. Mas algumas ações podem ajudar:

- Esteja sempre aberto ao diálogo. São essas conversas na infância que criarão vínculos para os filhos confiarem nos pais no futuro.

- Informe-se para conversar. Há uma vasta bibliografia a respeito.

- As primeiras dúvidas geralmente começam aos 3 ou 4 anos. Responda de maneira direta, sem rodeios e não dê uma aula enciclopédica de anatomia. Respeite sempre o nível de maturidade do filho.

- Evite falar em cegonha ou sementinhas.

- Não coloque apelidos como "pipi" e "perereca" nos órgãos genitais.

- Tomar banho com os filhos é apropriado somente até a primeira infância. Depois dos 5 ou 6 anos, o ideal é que a criança comece a construir sua privacidade.

- O silêncio não é positivo. Falar sobre sexo não estimula o interesse dos adolescentes, ao contrário, esclarece dúvidas. É melhor que eles tenham informações seguras em casa do que de terceiros.

- Na adolescência, o jovem já vai estar informado sobre a sexualidade. Isso deve ser feito na infância. Não adianta chamar o filho para a pri­meira conversa aos 15 anos. Os pais devem, nesta idade, passar segu­ran­­­ça e estar prontos para tirar dúvidas.

- Não comente as intimidades do casal com os jovens. Aborde esses assuntos de maneira generalizada.

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A polêmica em torno das "pulseirinhas do sexo" chamou a atenção para um assunto presente no dia a dia dos pais: como discutir a sexualidade em família. Eles se sentem inseguros para falar sobre um assunto tão íntimo e as crianças crescem muitas vezes cheias de dúvidas. Ao chegarem na adolescência, os conflitos aparecem porque os jovens, de um lado, querem mostrar que já cresceram e, na outra ponta, os pais não concordam com a liberdade requisitada. Não há uma receita única para resolver essas divergências, mas o caminho passa por diálogo e muita confiança, algo que deve ser construído desde a infância. É assim que o casal de comerciantes Paulo e Débora Sansana optou por criar o filho Gabriel, 10 anos. Mesmo sem ter um conhecimento técnico sobre o assunto, eles acabaram fazendo tudo o que os especialistas recomendam. Quando o menino tinha 4 anos, perguntou como as crianças saíam da barriga da mulher. Os dois responderam sem embaraço o que era um parto normal e uma cesariana. Outra medida adotada é não usar apelidos para as partes íntimas. Na casa deles não tem "pipi" e sim pênis. Para os especialistas, este gesto de usar os nomes corretos faz com que a criança possa, no futuro, ter mais maturidade em relação à sexualidade.

Para Sansana, a principal lição aprendida neste assunto é que os pais devem saber dizer não e passar seus valores para os filhos. "Ano passado, por exemplo, ele comprou rosas e bombom para uma menina. Este gesto de carinho impressionou até as professoras. Esses são os valores que passamos dentro de casa para ele." A conversa em família é aberta. Desde já ocorrem diálogos sobre drogas e sexo, tudo, é claro, em uma linguagem apropriada para a idade de Gabriel, mas sem mentiras ou meias-verdades.

O médico Içami Tiba, autor do livro Quem Ama, Educa!, afirma que quando os filhos são pequenos, o tamanho da resposta dos pais para as perguntas deve ser equivalente. "Alguns ficam tão apavorados que dão uma lição de anatomia. Neste primeiro momento é indicado respeitar o tempo e a maturidade da criança." Outro alerta que ele faz é sobre alguns mitos. Há famílias que acreditam que não falar no assunto afastará os jovens do sexo. "Isso é um erro. Se o jovem quiser transar, vai fazer isso e ainda sem informação adequada."

Para Tiba, repressão não funciona com adolescentes. Os pais têm de construir um bom diálogo desde a infância para serem sempre próximos dos garotos e garotas. "O debate sobre a sexualidade está fundado em algo mais geral, que são os valores, o respeito, é algo que reflete todas as outras áreas da vida."

Escola também tem papel importante

Quando o assunto é sexualidade, a escola também tem um papel importante. A orientação sexual está prevista nos Pa­­­râmetros Curriculares Nacio­­nais (PCN) e de ser discutida em sala de aula. A proprietária da Escola Unika, que atente alunos até a 8.ª série, diz que cada vez que os professores percebem que os alunos têm dúvidas, entram na temática. "Claro que não dizemos o que é certo e o que é errado. Isso é papel dos pais." Outra medida adotada pela escola é sempre conversar com os pais durante as reuniões.

O diálogo garante que a família também participe desse processo junto aos professores. Uma psicoterapeuta também vai ao local regularmente dar palestras.

Caixinha

No Colégio Positivo há uma programa de orientação sexual destinado aos alunos do 7.º ano realizado no contraturno. Além da sala de aula, os adolescentes que se interessarem podem participar do projeto e tirar dúvidas. Há uma caixinha para que eles não precisem se identificar. "A escola trabalha o conteúdo disciplinar. Mas a presença dos pais é essencial", diz a orientadora educacional Débora Regi­­na Dias Creti.

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Infância

Respostas verdadeiras e curtas

As primeiras perguntas começam geralmente aos 3 ou 4 anos. Mas quando se fala nesse assunto, a sexóloga Hália Pauliv diz que não há regras. Cada criança se desenvolve em um tempo diferente e os pais têm de estar atentos. São as famosas indagações "como fui parar dentro da barriga da mamãe?", "Como saí de lá?". Para essas situações, o melhor são respostas verdadeiras e curtas. Se o filho estiver mais interessado, vai perguntar mais. "É importante lembrar que diálogo é sinônimo de ouvir e falar", diz Hália.

Outro ponto importante: to­­mar banho com os filhos pode ser uma atividade em família so­­mente até a primeira infância, em geral até os 5 ou 6 anos de idade. Depois disso, é importante que as crianças aprendam a ter privacidade.

A psicopedagoga Laura Serrat Barbosa lembra que a criança é curiosa por natureza e sempre vai expor suas dúvidas aos pais. "Muitas vezes é o adulto quem tem tabu para conversar sobre sexo. Não adianta falar da história da sementinha ou da cegonha."

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Adolescência

Conflitos de ambas as partes

Se os pais não tiveram um bom diálogo com os filhos na infância, a situação tende a ser mais complicada na adolescência. Isso porque os jovens querem mostrar que cresceram e pertencem a grupos que não são mais somente a família. Mas a psicóloga e professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná Shyrlei Sesarino afirma que os pais também vivem um conflito. "É uma espécie de luto. Quase como se do dia para a noite eles perdessem aquele menino ou menina dependente, que se transformou em um adulto."

Por esses motivos, a relação entre pais e filhos nessa época é mais tencionada. A sexóloga Hália Pauliv não aconselha que os adolescentes tenham uma vida sexual ativa muito cedo, porque o próprio corpo ainda não está preparado e em muitos casos ainda não há maturidade psíquica. "É preciso respeitar os próprios limites, não ter pressa, fazer uma leitura sobre o corpo, conversar, ter segurança no que deseja fazer e não transar por transar. Muitas vezes, a primeira experiência é um desastre e gera traumas para a vida toda."

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Inocência

Pais devem alertar contra abusos

A criança é mais vulnerável a abusos sexuais porque depende do adulto para tudo, portanto não vê perigo quando outra pessoa se aproxima. A psicóloga Shyrlei Sesarino afirma que por isso é importante explicar que se o filho fica nu na frente dos pais para tomar banho, não pode fazer isso com outros adultos. Assim ele construirá sua privacidade. "A criança não tem maturidade, por isso a participação dos pais é importante."

Outro alerta é de Hália Pauliv. "Há uma erotização muito grande das meninas. Crianças não têm que passar batom ou pintar o cabelo. Elas precisam curtir a infância e brincar mais, subir em árvore, curtir a natureza."

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Interatividade

Qual a sua dificuldade para conversar sobre sexo com seu filho?

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