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Por ser uma comédia de Lars von Trier, o humor é negro e mais refinado | Divulgação/IFC Films
Por ser uma comédia de Lars von Trier, o humor é negro e mais refinado| Foto: Divulgação/IFC Films

Na tarde do último sábado, a estudante de Ciências Sociais Carolina Fernandes Zatorre Fileno, 26 anos, teve uma longa conversa com o filho de 11 anos. Ela queria saber se ele toparia acompanhá-la, e ao pai, à Pré-Parada da Diversidade – na Serra do Mar. Embora temendo pela crueldade dos colegas de classe, ao saberem, o garoto topou o desafio – de camiseta temática e tudo. O passeio veio a calhar. O casal aproveitou a deixa para falar sobre lições que se aprendem em casa, como tolerância à diferença e solidariedade. "Dissemos a ele que é importante ter atitude", explica Carolina.

Mesma motivação teve a professora universitária Araci Asinelli da Luz, 59 anos, bióloga e doutora em Educação. Depois de consulta prévia à filha caçula Chiara, de 10 anos, arrumou a mochila da garota, catou uma dissertação que precisava corrigir e se mandou para a Estação Ferroviária. Chiara adorou – só estranhou a mãe estar tão cheia de dedos. "Eu não sou preconceituosa", disse, antes de sair de casa.

Com o cabelo ao vento e absolutamente à vontade nos vagões que levavam casais homossexuais, heterossexuais, trans, Chiara era o próprio sinal dos tempos. "Com minha filha mais velha, hoje com 35 anos, não lembro de ter tido tanta liberdade para falar de sexualidade. Muita coisa mudou. Entendo que a Chiara tem o direito de conhecer a diversidade", festeja a professora da UFPR que é referência local no debate GLBT, drogadição, além de inclusão da infância e adolescência em conflito com a lei.

O casal Domingos Leite e Socorro Araújo – ele engenheiro elétrico e professor da Universidade Federal Tecnológica, e ela fotógrafa ligada a movimentos sociais –, também da tribo dos simpatizantes, fez a diferença em todo o percurso. Com jornal nas mãos e encabeçando uma pequena roda de discussões, só disseram não entender por que tanto espanto em ter um casal heterossexual a bordo. "Não é a pré-parada da diversidade? Então todas as sexualidades precisam estar representadas", provoca Domingos.

"Um dos equívocos", diz Socorro, "é que se pensa que encontros como esses se resumem a tratar da discriminação sexual. Esquecemos que existem outras relações possíveis entre as pessoas. São essas relações que unem um casal como eu e meu marido tanto quanto unem dezenas de outros casais que estão nesse trem. Nossas razões são maiores do que se imagina." Por via das dúvidas, a fotógrafa lança um desafio: responder que movimento social, hoje, no Brasil, tem poder de reunir tanta gente e tantas vozes diferentes. A parada – prevista para ultrapassar 100 mil pessoas semana que vem – está aí para responder. (JCF)

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Serviço: Parada da Diversidade GLBT 2007. Domingo, 2 de setembro, a partir das 14 horas, na Praça 19 de Dezembro, próxima ao Shopping Muller. Às 19 horas, show de encerramento na Praça Nossa Senhora de Salete, em frente ao Palácio Iguaçu.

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