• Carregando...
Scheremeta desagradou o MP ao convocar PMs cedidos para recadastramento | Reprodução / RPCTV
Scheremeta desagradou o MP ao convocar PMs cedidos para recadastramento| Foto: Reprodução / RPCTV

O comandante-geral da Polícia Militar do Paraná, coronel Marcos Teodoro Scheremeta, afirmou ontem se sentir "impotente de [não] poder dar à população mais policiamento", diante da defasagem no efetivo policial no estado. A declaração foi dada durante entrevista ao telejornal Paraná TV 1.ª edição, da RPC TV. Segundo Scheremeta, a PM tem hoje 18 mil policiais, incluindo 3 mil bombeiros. Para ele, seriam necessários mais 8 mil policiais para combater a criminalidade no estado.

O desabafo do comandante mostra o tamanho do problema que envolve a violência no estado. Só em Curitiba e região, 120 pessoas foram assassinadas neste início de ano, quase cinco por dia. Sem efetivo suficiente, a PM não consegue cumprir a sua principal missão, que é prevenir a ocorrência de crimes.

No ano passado, a Assembleia Legislativa aprovou um plano de reestruturação da PM fixando o efetivo da corporação em 26.747. A proposta, na época, previa a contratação imediata de mais 4.867 homens. O plano, porém, até o momento não saiu do papel. "É praticamente impossível você, em um ano ou dois, contratar mais 8 mil policiais para colocá-los na rua", disse Scheremeta à RPCTV. Segundo ele, a capacidade de contratação é limitada porque depende do orçamento da Segurança Pública.

Gaeco

A necessidade de colocar mais policiais nas ruas levou o comando da PM a travar uma queda de braço com o Ministério Público (MP) do Paraná. Scheremeta tenta trazer de volta à rotina da PM 316 policiais que hoje estão atuando fora da corporação. Entre eles, 38 que estão cedidos para o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) por meio de um convênio com o MP.

"Como vou colocar policiais militares nas ruas protegendo a população, coibindo roubos, furtos, em loterias, mercados, farmácias, em postos em combustível, se tenho de colocar em funções que não são do meu quadro organizacional?", questionou no Paraná TV. Especialistas afirmam que retirar os policiais pode enfraquecer o poder de atuação do Gaeco, responsável pelas principais investigações de combate à corrupção no estado.

O impasse começou após a publicação de um decreto do governador Beto Richa, que ordenava a volta dos servidores públicos estaduais às lotações de origem. A medida atingiria o Gaeco, o que causou apreensão no MP.

Para contornar a situação, na semana passada, Richa, após reunião com o secretário de Segurança Pública, Reinaldo de Almeida César, e o procurador-geral do MP, Olympio de Sá Sotto Maior, decidiu manter os 58 policiais civis e militares que auxiliam nas investigações do Gaeco.

Mesmo após o acordo, Scheremeta determinou o recadastramento de todos os policiais militares que atuam fora da corporação, inclusive os do Gaeco. Segundo o comandante, essa avaliação determinará se os PMs cedidos voltarão ao órgão ou se serão substituídos por outros policiais. "Vai haver substituição. Eu sou o comandante-geral. Eu indico quais policiais vão [ser cedidos]", declarou à Gazeta do Povo.

De acordo com ele, os policiais que atuam no Gaeco "estão fora de função" e, para que permaneçam no grupo especial, precisam de autorização específica nominal. Ele afirmou ainda que não decidiu quais serão os critérios que vão balizar as possíveis substituições, mas disse que não pretende atrapalhar as investigações em curso no grupo especial.

A medida, porém, pegou o procurador-geral do MP de surpresa, que disse não ter conversado com Richa sobre o recadastramento. "Deve ter algum equívoco nessa informação. O MP tem plena certeza de que não haverá nenhuma alteração em relação aos servidores estaduais que estão à disposição do Gaeco. Trata-se de uma decisão do governador e do secretário de Segu­­rança. De acordo com a palavra do governo, não haverá substituição", disse.

Ontem, Richa disse aprovar o recadastramento dos PMs. "Não vejo nenhum problema nisso: se serão os mesmos policiais ou se serão outros. O importante é que a parceria com o MP será mantida e fortalecida", declarou.

Linha de trabalho

Para o cientista político e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Emerson Cervi a troca dos policiais é um problema. "Evidentemente causa prejuízos e danos porque quebra toda uma linha de trabalho", diz. De acordo com Cervi, causa estranheza o novo governo tomar uma medida que inviabiliza a atuação do único órgão que investigou crimes do colarinho branco na última década no Paraná.

Segundo ele, o governo foi pressionado e, para que não se mostrasse totalmente derrotado, está usando uma medida intermediária: manter o número de policiais, mas substituí-los. "Isso é para mostrar que quem manda não é o MP, mas o comando da polícia. Secretaria de Segu­­rança. Definir os limites do território é muito comum em início de governo, quando todo mundo quer tomar conta do ‘terreiro’", afirma.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]