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Marcão vibra após marcar diante do Ceará | Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
Marcão vibra após marcar diante do Ceará| Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

Investigação

Polícia Federal acusa a Sanepar de ser uma "empresa de fachada"

Da Redação

A Operação Água Grande, da Po­­lícia Federal em parceria com o Ibama, foi deflagrada na última quinta-feira, após uma minuciosa investigação que começou em 2008 para apurar os altos índices de poluição no Rio Igua­­çu. Com base em coletas de amostras e análises laboratoriais feitas em estações de tratamento da Sanepar, a PF concluiu que a companhia não trata o esgoto doméstico e o despeja diretamente no rio. Segundo a investigação, a água do rio é mais limpa antes de chegar à estação, quando recebe uma carga enorme de poluentes. As investigações revelaram ainda que 20% das estações de tratamento atuam clandestinamente, sem licenças de operação.

O delegado Rubens Lo­­pes da Silva classificou a Sa­­ne­­par como "a maior poluidora do Rio Iguaçu" e como uma "empresa de fachada" por prometer um serviço (tratamento de esgoto) e não cumpri-lo. A PF indiciou cerca de 30 pessoas ligadas à Sanepar, incluindo toda a diretoria atual, por crime ambiental, estelionato e falsidade ideológica. A empresa foi inicialmente multada em R$ 38 milhões.

As irregularidades a­pontadas pela Polícia Federal na Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) assustam qualquer leigo no assunto. Afinal, a população paga por um serviço que a empresa supostamente não vem fazendo, que é tratar o esgoto doméstico antes de despejá-lo no Rio Iguaçu.

Mas a falta de respeito com o meio ambiente não é uma exclusividade do Paraná, pelo contrário, em outros estados a situação é ainda pior, segundo Édison Carlos, diretor-presidente do Instituto Trata Brasil. Por isso, mesmo aparentemente descumprindo uma série de exigências ambientais, a Sanepar foi considerada em agosto deste ano pelo Trata Brasil, em pesquisa com mais de cem cidades brasileiras, como um modelo de empresa de saneamento, junto com as estatais de Minas Gerais e São Paulo. Ou seja, se realmente há irregularidades na companhia paranaense, imagine o que acontece em outras localidades brasileiras. "Ao longo dos anos, as empresas de saneamento foram perdendo importância para os governos, infelizmente", lamenta Carlos. Acompanhe os principais trechos da entrevista concedida à Gazeta do Povo.

Como está o tratamento de esgoto no país? A situação é melhor ou pior do que a que foi encontrada no Paraná?

Não temos como saber de tudo o que acontece no país, porque não temos pessoas em número suficiente para fazer isso. Mas, para se ter uma ideia do problema no país, de todo o esgoto gerado, só 38% é tratado. Isso dá uma dimensão do problema.

Os 62% do esgoto não tratado representam quanto? É muito esgoto que vai direto aos rios?

Sabemos isso apenas em dados porcentuais, mas, recentemente, fizemos uma pesquisa com as cem maiores cidades brasileiras e chegamos à conclusão de que, juntas, elas jogam, por dia, 8 bilhões de litros de esgoto sem tratamento nos rios. São mais de 3 mil piscinas olímpicas por dia.

O que falta para que essa situação seja revertida?

Todos os estados têm empresas de saneamento, mas ao longo dos anos elas foram perdendo importância para os governos, infelizmente. Apenas o Paraná, Minas e São Paulo mantiveram em maior grau os investimentos e valorizaram os engenheiros ambientais e outros profissionais. Qualificaram mão de obra e dispuseram valores para novos investimentos. Conseguiram um bom quadro técnico, muito diferente das Regiões Norte e Centro-Oeste. Nos surpeende saber que uma dessas empresas [a Sanepar] não é tão boa assim.

A Sanepar disse que investiu R$ 1 bilhão em saneamento nos últimos 10 anos. Isso é um bom investimento?

É difícil dizer assim, sem uma análise mais detalhada, porque realmente depende do projeto que foi feito. São Paulo, por exemplo, gastou nos últimos três anos R$ 3 bilhões em saneamento. Pernambuco está fazendo uma parceria público-privada para atender 14 municípios com água e esgoto e estima gastar R$ 4 bilhões. Esses projetos são sempre caros e as cifras costumam ser altas.

Mas se todos os estados têm uma empresa de saneamento, por que elas não funcionam corretamente? Existe também uma questão política por trás de tudo isso?

Sem dúvida. Cada estado tem uma empresa estatal, mas ela só pode atuar nos municípios com a autorização de cada prefeito. Veja, basta um prefeito dizer que não gosta do atual governador para não permitir que a empresa de saneamento estatal opere no município onde ele atua. Aí começam os problemas. Costumo dizer que a questão do saneamento não tem fronteira, porque um rio começa numa cidade, num estado ou num país e termina em outro. Então, se uma cidade não fizer o tratamento adequado de esgoto, ela vai prejudicar todas as outras que fazem ao jogar o esgoto no rio.

Existem outras alternativas para o esgoto tratado, além de jogá-lo no rio?

Sim, o reuso. Em vez de devolver o esgoto tratado no rio, em alguns locais do Brasil essa água é usada para lavagem de ruas, por exemplo. O polo petroquímico do Rio de Janeiro também tem usado esgoto tratado, que vai por tubulações específicas até lá e abastece o local 24 horas por dia. É possível sim calibrar a pureza da água em função da utilidade que você vai dar a ela. Isso só depende de acordos comerciais entre o setor privado e as empresas públicas de saneamento.

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