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Colega de trabalho do suspeito diz ter álibi para ele: o homem estaria com ela na hora em que a vítima diz ter sido molestada. | Valterci Santos/Gazeta do Povo
Colega de trabalho do suspeito diz ter álibi para ele: o homem estaria com ela na hora em que a vítima diz ter sido molestada.| Foto: Valterci Santos/Gazeta do Povo

Depois de 25 dias, a polícia encerrou a investigação sobre a morte do estudante Osíris Del Corso, de 22 anos, em Caiobá. O inquérito 074/2009 deve ser entregue hoje no início da tarde no Fórum de Matinhos. O homem de 42 anos que está preso, acusado de assassinar o estudante e depois balear e molestar sexualmente a namorada dele, de 23 anos, deve responder pelo crime de latrocínio já que, segundo a polícia e a vítima, ele teria roubado R$ 90 do casal.

A partir da entrega do inquérito, o Ministério Público tem cinco dias para apresentar ou não denúncia contra o suspeito – ou seja, para pedir ou não a abertura de processo judicial. Se a promotora de justiça Carolina Dias Aidar de Oliveira, que cuida do caso, achar necessário, ela pode requisitar novas diligências.

Tanto o Ministério Público quanto a polícia se apoiam principalmente no reconhecimento feito pela namorada de Osíris. Não há, no entanto, qualquer prova técnica do crime. A reportagem da Gazeta do Povo teve acesso ao inquérito. São cerca de 300 páginas com diversos depoimentos e laudos médicos. Quase 30 pessoas foram ouvidas pela polícia entre testemunhas e suspeitos.

A polícia trabalhou com seis testemunhas que foram convocadas para reconhecer o suspeito. Apenas a vítima diz ter certeza de que o homem preso é o assassino.

Um estudante de 29 anos que mora em Curitiba diz que por volta de 21 horas do dia do crime estava descendo a trilha quando cruzou com um homem, com características semelhantes ao do retrato falado, que subia a trilha com uma lanterna na mão. Seis dias depois ele foi reconhecer o suspeito e disse que "guarda muita semelhança" com o rapaz que ele viu na trilha. Além disso, a voz do suspeito foi ouvida pela testemunha. O timbre seria o mesmo.

A versão de que o homem preso nunca foi para Matinhos foi derrubada depois que um garçom e o dono de um estabelecimento na Avenida Atlântica de Caiobá disseram à polícia que, no dia 7 de fevereiro, uma semana depois do crime, viram o suspeito no calçadão. Os dois reconheceram, com toda a convicção, que o rapaz que está preso esteve em Caiobá uma semana depois do crime. Além disso, dois bombeiros contaram à polícia que têm quase certeza que o suspeito teria acompanhado na Praia Mansa todo o resgate da jovem de 23 anos.

Uma testemunha, que auxiliou muito a polícia no início da investigação, não reconheceu o suspeito. Ele foi até a delegacia no dia em que o homem foi detido. O ato de reconhecimento dele, no entanto, não consta no inquérito, diferentemente das demais testemunhas. A reportagem da Gazeta do Povo foi até a casa dele e o ouviu. "Olha, o cara que eu vi era mais alto e mais forte que este rapaz preso. Não era esse o cara do retrato falado", opinou. Essa testemunha teria visto uma pessoa suspeita, com as mesmas características descritas pela jovem, um dia antes do crime.

Defesa

Se a acusação tem uma testemunha-chave, a defesa também conta com esse trunfo. No domingo passado, uma funcionária da empresa onde o suspeito trabalhava prestou três horas de depoimento. Ela manteve o que disse na semana passada para a Gazeta do Povo. A testemunha contou que o suspeito que está preso trabalhou no dia 31 de janeiro (dia do crime) e no dia 1º de fevereiro (quando a vítima foi resgatada). Mas em nenhum momento os delegados questionaram se, no momento do assassinato e da volta ao morro, quando ele teria molestado a jovem, ela estava com o suspeito.

A reportagem da Gazeta do Povo esteve com a testemunha. E ela afirma que entregou pessoalmente, nas mãos do homem hoje considerado suspeito, R$ 50 entre as 20 e as 21 horas do dia do crime. Uma fonte que acompanhou o depoimento disse que um dos delegados ameaçou prendê-la e indiciá-la por falso testemunho.

"Pode me prender. Eu estou falando a verdade. Estive com ele", sustentou. A dificuldade da polícia em produzir provas técnicas e até de arrolar mais testemunhas pode ter relação com a drástica mudança da versão apresentada pela vítima – o que, por sua vez, pode ser explicado por causa do estresse emocional vivido pela jovem.

Uma das principais contradições se refere à camisa utilizada pelo assassino, que foi reconhecida "sem sombra de dúvidas" pela vítima no dia 6 de fevereiro, depois de ela ver nove fotos. Outro ponto que mudou os rumos da investigação diz respeito ao crime sexual. A vítima contou para a equipe de resgate que havia sido baleada e depois estuprada.

Num primeiro depoimento aos delegados ela confirmou esta versão. Mas, no mais recente depoimento, no dia 18 de fevereiro, contou que depois do disparo não se lembra do que teria acontecido. Disse apenas que o homem retornou por volta de 21 horas com uma lanterna e tem certeza que foi o mesmo homem que matou o namorado, porque o reconheceu – apesar do breu e da lanterna contra o rosto – pela fisionomia e pela voz. Diz que pode precisar a hora da violência sexual porque estava usando relógio e que permaneceu com ele até o momento que foi resgatada.

A Gazeta do Povo procurou ontem os delegados Luiz Alberto Cartaxo, que chefia a força-tarefa que investigou o caso, e Rogério Martin de Castro, que preside o inquérito. Mas os celulares de ambos estavam desligados. A Secretaria de Segurança Pública do Paraná também foi contatada, mas ninguém atendeu ao telefone.

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