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Na linha tênue entre a diminuição da criminalidade – cobrada exaustivamente pela população – e a necessidade de não fazer de inocentes criminosos , não é raro ver operações desastrosas da polícia, com consequências lamentáveis principalmente para os familiares dos mortos. Para Douglas Chote, irmão de Diogo, 24 anos, morto por policiais do 20º Batalhão da Polícia Militar, na madrugada do dia 4, no bairro Santa Cândida, o caso não passou de uma execução policial. Desde a semana passada, o crime virou inquérito a ser apurado pelo Ministério Público. São duas versões e uma certeza: Diogo foi morto com três tiros no peito e um no olho.

A família está revoltada. Para a mãe, Benedita Silveiro Chote, 51 anos, seu filho não estava envolvido em nada perigoso. Era repositor de um supermercado em Curitiba – estava prestes a completar dois anos de trabalho – e vivia mais em casa do que na rua. "Estamos destruídos. O que nos alimenta é a mágoa da polícia." Ela diz que o corpo do filho tinha marcas de agressão e de algema nos pulsos.

Uma testemunha – colega da vítima – conta que a polícia chegou, revistou os dois e depois deu cinco minutos para ele sumir. Chote portava uma arma – um revólver calibre 38 com a numeração lixada – jogado no mato antes de a polícia chegar. Segundo o pai, o segurança José Chote, 53 anos, a compra da arma foi feita há alguns meses pela falta de segurança no bairro. Experiente, já tinha avisado o filho de que era perigoso. "Levou azar. O seu sonho era ter entrado na polícia, mas era muito baixo. Medroso, coitadinho, eu tinha que levá-lo no ponto de ônibus todos os dias, pela manhã, quando eu estava de folga."

Dúvidas

Para a irmã de um dos rapazes mortos num confronto ocorrido em Colombo, no dia 7 de março, esse caso também apresenta controvérsias. Seis homens foram mortos, em três situações distintas, após uma ligação anônima ao Comando de Policiamento da Capital (CPC), informando que diversos homens promoveriam a chacina de grupo rival do narcotráfico, no bairro Monte Castelo. Todos eram suspeitos de fazer parte do PCC (grupo criminoso surgido em São Paulo).

Sem querer se identificar por medo de represálias por parte da polícia, "Sabrina" (nome fictício) conta que o irmão era casado e tinha uma filha de dois anos. Não omite que o rapaz usava drogas, de vez em quando, segundo ela, mas não acredita que estivesse envolvido com traficantes. Estava desempregado desde dezembro – trabalhava como auxiliar de serviços gerais. O corpo foi identificado no Instituto Médico Legal pelo cunhado da vítima, que viu que o rapaz tinha marcas de agressão e sete tiros no tórax.

Ela recorda que a polícia disse que houve troca de tiros com os ocupantes do Monza (o carro que seu irmão possuía), mas não havia nenhuma marca de tiros na lata. Segundo um policial que conversou com a família, das sete armas encontradas com o grupo, a maioria nem atirava. "Meu irmão não tinha arma nenhuma." A polícia teria dito que havia dois carros no local, um Chevette e um Monza, e que os ocupantes estariam trocando tiros quando a Rone chegou. O Chevette fugiu e o Monza ficou encurralado. "Ninguém seria louco de enfrentar a Rone", diz. Os dois casos estão sendo averiguados pela Polícia Militar, que instaurou inquérito militar para apurar se houve abuso dos policiais. (AP)

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