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Guardador de carro em ação no estacionamento interno do Parque Barigui | Antônio More/ Gazeta do Povo
Guardador de carro em ação no estacionamento interno do Parque Barigui| Foto: Antônio More/ Gazeta do Povo

Movimento

Pontos turísticos menos populares têm "serviço" só no fim de semana

Em parques menos populares que o Barigui e o Jardim Botânico, os flanelinhas costumam aparecer apenas aos fins de semana ou em dias em que o frio é menos intenso.

No São Lourenço, por exemplo, um funcionário que preferiu não se identificar falou que dois homens, os mesmos há anos, pegam dinheiro dos proprietários dos veículos em troca de proteção. Mas eles aparecem apenas em dias de sol e em fins de semana, quando o parque enche.

Enquanto isso, no Tanguá, funcionários de um comércio vizinho contaram à reportagem que os flanelinhas só aparecem quando o movimento aumenta. Isso acontece porque os guardadores moram em um local conhecido como ‘lixão’, próximo dali. Já nos parques Tingui e Barreirinha não há registros da atuação de flanelinhas. Mas no Bosque João Paulo II, o bosque do Papa, eles surgem aos fins de semana, nas estreitas e disputadas ruas transversais.

Além dos sete espaços verdes abordados na reportagem, Curitiba tem outros 22 espaços similares, entre bosques e parques. No total, a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente diz manter 2,8 mil vagas, todas gratuitas, de estacionamento nas atrações turísticas visitadas pela Gazeta do Povo. (RM)

Sob pressão

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Tão comuns quanto araucárias, orquídeas, guabirobas e guabirotubas, os flanelinhas já fazem parte da paisagem do cinturão verde dos parques de Curitiba. Basta o frio dar uma trégua e o fim de semana chegar para que os guardadores de carro lucrem nos estacionamentos gratuitos dos principais pontos turísticos da cidade.

A reportagem da Gazeta do Povo visitou sete parques e dois bosques curitibanos e confirmou a presença de flanelinhas em cinco deles, seja no momento da visita ou por informações de funcionários e comerciantes vizinhos. No Barigui, Tanguá e São Lourenço, por exemplo, os guardadores de carro atuam em estacionamentos internos, o que é considerado ilegal pela prefeitura de Curitiba. Já no Bosque do Papa, onde não há estacionamento, e no Jardim Botânico, que tem apenas 87 vagas, eles atuam nos arredores.

Parque Barigui

Sob o frio de menos de 10°C da manhã da última sexta-feira, cinco flanelinhas dividiam a tarefa de cuidar dos carros de quem se aventurou a caminhar, correr e pedalar nas pistas do Parque Barigui. Esses "guardiões" juram não intimidar as pessoas e afirmam só pegar dinheiro quando os visitantes lhes oferecem, o que a reportagem comprovou por observação.

O mais antigo dos flanelinhas do Barigui é José Moreira, 63 anos, que trabalha há 37 anos no local. Além de orientar as manobras dentro do estacionamento interno do local, ele é solicitado para tirar fotos, colocar crianças em cadeirinhas de bicicleta e até para guardar as chaves de quem receia perdê-las durante a atividade física. O "seu Zé", como é conhecido pelos visitantes mais assíduos do local, mora no bairro São Braz, vizinho ao parque, e tem três filhos, que aos fins de semana fazem bico como guardadores de carro no local.

Moreira conta que há anos foi rendido por homens armados que buscavam um veículo do estacionamento, mas diz que a cena é rara. Ele garante que até furtos de equipamentos automotivos, como sons e estepes, não acontecem há tempos. Qualquer eventualidade, porém, ele já sabe como agir. "Faço sinal para os guardas ou chamo a polícia".

Terreno e casa

O flanelinha Vanderlei Passos, 37 anos, diz que com o dinheiro obtido no Parque Barigui ele comprou um terreno e construiu uma casa em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. "Mas não obrigamos ninguém a colaborar. Tem gente que até olha feio sem ao menos chegarmos perto", reclama o guardador, que não tem a permissão legal para trabalhar.

Longe dali, no charmoso jardim Botânico, as histórias dos flanelinhas parecem ser menos romantizadas. O paulistano William Pereira de Souza, 24, divide-se entre a venda de água mineral e a vigilância dos veículos, isso quando ele é acionado pelos guardadores "oficiais". Segundo Souza, a maioria dos flanelinhas dali fazem hoje o que ele fazia antes: conseguem R$ 5 para ir comprar drogas na favela do Capanema. "A maioria é da correria", afirma.

Legislação

Guardar carro na parte interna de parques é proibido

A presença de flanelinhas nos estacionamentos internos de parques públicos e do Jardim Botânico de Curitiba é proibida. Além disso, assim como no restante do país, o flanelinha é proibido de exigir dinheiro do proprietário do veículo e isso pode se caracterizar como crimes de extorsão e intimidação. A Secretaria de Segurança Pública do Paraná disse que não é possível informar quantos flanelinhas foram acusados ou indiciados por extorsão, pois não há um levantamento específico sobre a autoria desse tipo de crime. A Guarda Municipal da Prefeitura de Curitiba também não tem dados de reclamações quanto a guardadores de carro nos parques.

De acordo com a Guarda Municipal, caso sinta-se intimidado, o frequentador do parque deve procurar por um guarda no próprio local ou ligar para a central, no número 153, de onde uma viatura será encaminhada para atender a ocorrência.

Em caso de dano ao patrimônio, a vítima deverá registrar a ocorrência na Delegacia mais próxima. "Nesse caso, se houver flanelinha no local, ele servirá como testemunha do crime", diz Sicarlos Sampaio, coordenador do centro de operações da Guarda Municipal.

Profissão

A profissão "Guardador e Lavador de Carro" é regida pela Lei Federal 6.242/1975 e regulamentada pelo Decreto 79.797/77. No Paraná, porém, há apenas 133 flanelinhas registrados na Superintendência Regional do Trabalho, todos eles de Curitiba.

A Prefeitura de Curitiba e Câmara dos Vereadores disseram não ter projetos para regulamentar, ou mesmo proibir, a atuação dos flanelinhas.

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