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Eles demoram mais a buscar tratamento

Além da obesidade masculina ser mais perigosa, outra questão que preocupa os médicos é o fato de os homens demorarem mais a procurar tratamento. De acordo com o cardiologista e professor da Faculdade Evangélica, Paulo Rossi, os homens costumam apresentar mais resistência e, na maior parte dos casos, só procuram ajuda médica quando sofrem alguma complicação.

O representante comercial Vladimir Duin Silva, 42 anos, viu a rotina estressante, os maus hábitos alimentares e o excesso de peso culminarem em um enfarte quando tinha 36 anos de idade. Gerente de um laboratório farmacêutico internacional, ele conta que vivia constantemente sob pressão. "Enfartei trabalhando durante um congresso de gastroenterologia em Foz do Iguaçu", conta. Depois do susto, Vladimir resolveu mudar de vida. Largou a gerência para trabalhar como autônomo. "Hoje faço meus próprios horários, não tenho mais tanta cobrança. Claro que o padrão de vida baixou, mas garanto que compensa. Só de estar vivo já compensa", afirma. Além de desacelerar, Vladimir, que pesava quase 100 quilos, perdeu 20, começou a fazer caminhadas diariamente, deixou de lado a alimentação gordurosa e deu prioridade a frutas e verduras.

Engano

No entanto, engana-se quem pensa que apenas os executivos de rotina puxada como Vladimir estão sujeitos às complicações. O chacareiro Ludovido Kamienski, 70 anos, não dava importância à saúde até enfartar em 1998. "Eu nunca ia no médico, estava com 104 quilos, não controlava a alimentação", lembra. Depois do enfarte, Ludovico passou a se cuidar melhor. "Hoje sigo direitinho o que o médico fala, estou com 75 quilos, faço consultas periódicas e sigo uma dieta equilibrada", afirma.

Segundo Rossi, é muito importante que o paciente se conscientize da necessidade da mudança de hábitos e mantenha o novo estilo de vida. "Vemos que muitos pacientes relaxam depois de um certo tempo. Isso não deve acontecer", afirma. Sabe-se que quem já teve alguma complicação decorrente de doenças cardiovasculares tem muito mais chance de sofrer um segundo evento do que quem nunca passou por isso. No caso do acidente vascular cerebral, por exemplo, a chance de um segundo derrame é nove vezes maior.

Pesquisa realizada pelo Hospital Albert Einstein, de São Paulo, entre 2004 e 2006, com cerca de 4 mil executivos constatou que 71% dos homens estavam acima do peso, enquanto o índice da população feminina pesquisada foi de 26%. Os dados preocupam a comunidade médica, uma vez que o excesso de peso é fator de risco para uma série de doenças, como diabete, enfarte, acidente vascular cerebral, hipertensão, entre outras. Entretanto, os especialistas alertam principalmente para a ocorrência do sobrepeso entre os homens, que além de mais freqüente, é também mais perigoso.

Segundo dados do estudo de vigilância de fatores de risco à saúde, divulgado no mês passado pelo Ministério da Saúde, Curitiba tem 50% da população masculina com excesso de peso, enquanto entre as mulheres o porcentual é de 37,7%. O estudo mostrou também que entre os homens o excesso de peso tende a crescer à medida que aumenta o nível de escolaridade, já para as mulheres a situação se inverte.

Conforme o endocrinologista e presidente da Associação Brasileira para Estudos da Obesidade, Henrique Suplicy, o excesso de peso já atinge pessoas de todas as idades e classes sociais. Contudo, é verdade que a forma como o problema se apresenta varia de acordo com a situação econômica. Segundo ele, nas classes mais baixas são as mulheres que tendem a ter mais excesso de peso, já nas classes mais altas seriam os homens. Uma possível explicação para esses perfis estaria no estilo de vida desses grupos. "Os homens de classe social mais alta geralmente têm uma alimentação menos adequada, não praticam exercícios físicos, têm mais acesso a bebidas alcoólicas e são mais estressados, como no caso dos executivos incluídos na pesquisa. Já as mulheres dessa mesma classe costumam ter mais tempo livre para atividade física e se preocupam com a alimentação", comenta.

Suplicy explica que no organismo masculino a gordura tende a se concentrar principalmente na região abdominal, constituindo a chamada gordura visceral. Esse tipo de tecido adiposo tem um metabolismo mais acelerado, o que ocasiona a liberação de uma série de substâncias no organismo, entre elas os ácidos graxos, que quando em excesso no sangue podem levar a complicações como resistência a insulina, pressão alta e colesterol elevado.

Ele ressalta também que a obesidade é considerada um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares. Estima-se que ela eleve em 225% as chances de um ataque cardíaco. Já a pressão alta aumenta em 110% e o diabete faz crescer a possibilidade de um evento cardiológico em 200%. As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte em todo o mundo. Somente no Paraná, a cada ano cerca de 4,7 mil pessoas morrem enfartadas e outras 6 mil perdem a vida em decorrência de um acidente vascular cerebral.

Prevenção e tratamento

Médicos chamam a atenção para o fato de que muitas dessas mortes poderiam ser evitadas simplesmente com uma mudança de hábitos. De acordo com o cardiologista do Hospital do Coração, Márcio Cérci, a perda de 5% a 10% do peso melhora significativamente os fatores de risco da chamada síndrome metabólica, que compreende pressão arterial, as taxas de glicemia, o colesterol ruim e os triglicérides elevados.

Segundo ele, a maneira mais indicada e saudável de perder peso é a reeducação alimentar em conjunto com a prática de atividade física. O ideal é uma dieta rica em frutas, verduras e fibras, com pouco açúcar e gordura. "Medicação somente se isso não funcionar, não deve ser nunca a primeira opção", recomenda.

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