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A oferta maior de cursos no interior atraiu estudantes como Pâmela Oliveira, que decidiu cursar Jornalismo em Londrina | Gilberto Abelha/Jornal de Londrina
A oferta maior de cursos no interior atraiu estudantes como Pâmela Oliveira, que decidiu cursar Jornalismo em Londrina| Foto: Gilberto Abelha/Jornal de Londrina

Regiões

Interiorização é mais forte no Sul e Sudeste do país

Os números do Censo da Educação Superior de 2010 colocam o Paraná como um dos estados mais avançados no processo de interiorização do ensino universitário. Para cada 100 mil habitantes, são 2.052 matrículas em municípios do interior, o quarto maior índice entre todos os estados brasileiros. O primeiro colocado é o estado vizinho de Santa Catarina, onde esse número chega a 2.709.

A tendência indicada pelos dados do Censo é de que a interiorização é mais forte nas Regiões Sul e Sudeste do país, enquanto nas demais o acesso ao ensino superior segue concentrado nas capitais. De todo o Norte e Nordeste, apenas o estado de Tocantins apresenta um índice maior de matrículas no interior. Já entre o Sul e o Sudeste, a exceção é o Rio de Janeiro, que tem na capital uma maior proporção de estudantes universitários.

Privilégio

Para a professora Regina Michelotto, o Paraná pode se considerar privilegiado no que diz respeito à interiorização do ensino público. Além das universidades estaduais, presentes nas principais cidades do estado, as instituições federais também vêm estendendo suas atividades no interior por meio de novos câmpus. "Mesmo cidades menores já contam com cursos superiores", diz.

O professor da Universidade de Brasília Remi Castioni acredita que um dos fatores que fazem com que o Paraná se encontre em um estágio mais avançado de interiorização é a presença das universidades estaduais, que começaram a ser implantadas no final da década de 1960. "No Paraná, assim como em São Paulo, as universidades estaduais são muito fortes. E, nos dois estados, elas tiveram um papel fundamental em levar oportunidades para o interior", observa. (AG)

Desenvolvimento

Educação alavanca progresso

A expansão do ensino superior no interior está associada não apenas à iniciativa do poder público e das instituições privadas, mas também ao desejo das próprias comunidades em contar com educação de qualidade. Para especialistas, isso está diretamente ligado ao desenvolvimento dos municípios.

Segundo o vice-reitor da PUCPR, Paulo Otávio Mussi Augusto, a abertura de novas faculdades no interior teve como um dos motivos a saturação na oferta de ensino em Curitiba. Por outro lado, os municípios do interior cobraram a presença mais próxima da instituição. "Mais do que uma iniciativa nossa, houve uma solicitação das comunidades para que fôssemos até elas", diz.

O secretário de Ciência, Tecnolo­gia e Ensino Superior, Alípio Leal Neto, recorda que o desenvolvimento dos principais municípios do interior foi alavancado com a chegada das universidades. "Antes, muitos se deslocavam para a capital para estudar, coisa que não é mais necessária. Hoje eles estudam em suas cidades e lá permanecem para trabalhar". (AG)

O sonho de cursar uma faculdade está cada vez menos distante para quem vive no interior. Especial­mente no Paraná, que tem seguido uma tendência oposta à registrada na maioria dos estados. Enquanto em grande parte do país a oferta de vagas do ensino superior está concentrada nas capitais, no Paraná as matrículas têm crescido em ritmo mais acelerado fora de Curitiba. Na última década, o número de matrículas na capital paranaense au­­mentou 52,3% ao mesmo tempo em que o interior registrou um acréscimo de 66,1% em seus quadros universitários. Números que fazem o estado ter a 4.ª maior proporção de matrículas no interior em todo o Brasil.

De acordo com o Censo da Educação Superior, realizado pelo Ministério da Educação entre 2001 e 2010, os municípios do interior paranaense ganharam cerca de 85 mil estudantes universitários. Enquanto isso, Curitiba registrou no mesmo período um acréscimo de 41,6 mil matrículas. Em âmbito nacional, o crescimento acontece de forma inversa. O ingresso de novos estudantes nas capitais aumentou 83,5% na última década, enquanto no interior o porcentual ficou em 76,5%.

Segundo o Ministério da Educação, 80 municípios do interior do Paraná, o equivalente a 20% do total, têm instituições de ensino que ofertam cursos superiores presenciais. Até 2010 eram 128 instituições disponibilizando quase 1,5 mil cursos. Oferta essa que atrai gente de outros estados para o território paranaense. Caso de Pâmela Oliveira, que saiu de Sorocaba, em São Paulo, para cursar Jornalismo na Universidade Estadual de Lon­­drina (UEL). "Em Sorocaba não há curso de Jornalismo em faculdade pública. Como ouvi falar que o curso em Londrina era bom, optei por vir estudar aqui", conta a estudante, que está no segundo ano de faculdade.

O secretário de estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Alípio Leal Neto, credita a expansão paranaense a uma ação conjunta dos governos estadual e federal, ao lado das instituições particulares. "Houve todo um movimento de levar novos cursos para o interior. No caso do governo estadual, temos uma estrutura pesada que é difícil de ser mantida. Mas é um patrimônio inestimável e nossa linha é de expandir cada vez mais ao interior", afirma. Atualmente as universidades estaduais estão presentes em 35 municípios.

Pós-doutora na área de educação, Regina Michelotto, professora aposentada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), aponta a primeira década do século 21 como o início de um novo processo de expansão do ensino superior no Brasil. "O Paraná, que já tinha um perfil voltado para a interiorização, se encaixou muito bem nesse processo. Não apenas com instituições particulares, que fazem da educação uma mercadoria, mas com um forte investimento do poder público", frisa.

Professor da Faculdade de Edu­cação da Universidade de Brasília (UnB), Remi Castioni acredita que não basta apenas levar a oferta de ensino às cidades do interior. Para ele, é necessário pensar os cursos de acordo com as demandas regionais, visto que a principal consequência dessa expansão é o desenvolvimento das localidades beneficiadas. "A presença de professores e estudantes ajuda a movimentar a economia dos municípios", avalia.

Instituições privadas lideram crescimento

Apesar de as universidades públicas terem ampliado a oferta de vagas ao longo dos últimos anos, as principais responsáveis por expandir o ensino superior no interior do Paraná são mesmo as instituições privadas. Enquanto as matrículas no ensino público tiveram um acréscimo de 54,9% ao longo da última década, na rede privada elas mais que dobraram, crescendo 105,5%.

Em 2001, havia 66 instituições privadas distribuídas pelo interior paranaense, as quais ofertavam 369 cursos. Em 2010, elas já eram 112, com 882 cursos disponíveis. Enquanto isso, o número de instituições públicas permaneceu praticamente estagnado. Nesse período houve a criação de uma instituição federal no interior, mas foram desativadas duas estaduais. Na rede estadual o acréscimo de cursos não chegou a 50%, sendo que entre as particulares esse porcentual chegou a quase 140%.

Maior instituição privada do estado, a Pontifícia Universidade Católica do Paraná tem três câmpus no interior – Londrina, Ma­­rin­­gá e Toledo –, que juntos abrigam aproximadamente 6 mil estudantes. Para o vice-reitor Paulo Otávio Mussi Augusto, a expansão do ensino privado traz consigo não apenas maior oferta, mas sobretudo a preocupação com a qualidade da educação.

Cenário nacional

Em todo o Brasil, a rede privada também vem se expandindo em níveis superiores à rede pública. De 2001 a 2010, as matrículas em instituições particulares cresceram 102,3% nas capitais e 80,5% no interior, enquanto nas instituições públicas os índices foram de 67,5% e 42,1%, respectivamente. "Mesmo com uma expansão considerável no ensino público, ainda não se conseguiu reverter a relação com o privado. Apenas 25% das vagas são públicas, o que está muito aquém do que deveria ser", diz o professor Remi Castioni, da UnB.

Interatividade

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