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Taxista depilou o corpo inteiro e fez uma tatuagem para ganhar o fusca | Gazeta do Povo
Taxista depilou o corpo inteiro e fez uma tatuagem para ganhar o fusca| Foto: Gazeta do Povo

Material veio de outras CPIs

São Paulo - Entre junho de 2005, quando as denúncias sobre o mensalão ganharam as manchetes pelas mãos – ou pela voz – do então deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), e maio de 2006, o Congresso viveu dias agitados, alimentado por três comissões parlamentares de inquérito simultâneas: as CPIs dos Correios, do Mensalão e dos Bingos. Uma denúncia puxava outra, o governo não saía da defensiva – e ali se formou o núcleo das denúncias em que o procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, foi buscar o material para as 40 acusações levadas ao Supremo Tribunal Federal.

A CPI dos Correios foi a mais consistente das três. Comandada pelo senador Delcídio Amaral (PT-MS) e pelo relator, o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), começou investigando um pequeno episódio de suborno nos Correios e espraiou-se por todo um esquema de cooptação de partidos e de parlamentares pelo Planalto. No dia 5 de abril de 2006 o relator Serraglio entregou o texto final, pedindo o indiciamento dos figurões José Dirceu e Luiz Gushiken, além de outras 100 pessoas. A investigação de Serraglio foi a fonte principal da peça levada ao STF pelo procurador-geral.

Nascida pelas mãos do governo, para enfraquecer a CPI dos Correios, a do Mensalão não encorpou. Deveria investigar apenas se o esquema do mensalão realmente existia e como funcionava. Enveredou por denúncias contra o governo Fernando Henrique. Em novembro de 2005, um pedido para prorrogá-la foi rejeitado.

Brasília – A sessão do Supremo Tribunal Federal (STF) que decidirá sobre o pedido de abertura de ação penal contra os 40 suspeitos de participar do esquema do mensalão terá início às 10 horas de quarta-feira. Embora seja um julgamento preliminar – os ministros apenas dirão se recebem ou não a denúncia –, a série de quatro sessões de análise das acusações do Ministério Público é considerada histórica e causa apreensões no Palácio do Planalto. Pode vir a ser a única discussão longa e pública sobre o maior escândalo do governo Lula no plenário da corte suprema até as eleições de 2008 e 2010.

É difícil prever por quanto tempo a ação – se aberta – pode tramitar no STF. O caso Collor levou menos de dois anos. O ex-presidente deixou o poder em 1992 e foi absolvido pelo STF em dezembro de 1994. Já o caso Jader Barbalho (PMDB-PA), suspeito de desviar dinheiro na antiga Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), está há seis anos em tramitação. Com poucas chances de barrar o avanço do processo, os 19 advogados contratados pelos citados na denúncia do Ministério Público Federal vão tentar reduzir o número de acusações que serão apresentadas pelo ministro Joaquim Barbosa.

O peso simbólico das discussões que começam na quarta-feira se explica pelos números e pelos nomes envolvidos no processo. O procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, acusa 3 ex-ministros, 11 deputados ou ex-deputados e a antiga cúpula do PT de participarem de uma "quadrilha" que teria usado métodos ilegais para se perpetuar no poder.

É um julgamento de paradoxos. Homens influentes ou que tiveram muito poder no PT e no governo, como os ex-ministros José Dirceu e Luiz Gushiken e os deputados paulistas José Genoino, Professor Luizinho e João Paulo Cunha serão julgados por um tribunal formado, na maioria, por ministros nomeados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Dos dez ministros do STF – Sepúlveda Pertence se aposentou na semana passada –, seis foram escolhidos por Lula.

É o caso do ministro Carlos Ayres Britto, que concorda na análise de que o julgamento é histórico. "Não há expectativa, tudo vai depender do voto do relator, se acata ou não as acusações do procurador Antônio Fernando", disse. "Vamos analisar se a denúncia é consistente. Não há prognósticos, não há como avançar na opinião do juiz."

O relator do processo do mensalão, ministro Joaquim Barbosa, também foi indicado pelo atual governo. Ele deverá apresentar um voto com 400 páginas recheadas de denúncias e citações de crimes contra aliados e ex-colaboradores do Palácio do Planalto. Barbosa disse que o julgamento do pedido de abertura, que tem características de preliminar, deveria ser mais simples. Só os advogados terão cinco horas para defender os acusados.

O ministro Marco Aurélio Mello afirma que, para aceitar a denúncia, o Supremo só precisará de "simples indícios". "A regra é o recebimento da denúncia. A exceção é a rejeição da denúncia" explica. "Não estaremos julgando inocentes, apenas definiremos se a ação prossegue ou não."

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