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Aliados do governo afirmam que a coalizão corre risco

O sinal de que o PT está disposto a destacar, na resolução de seu 3.° Congresso, a intenção de ter candidato próprio às principais prefeituras do país, em 2008, e à sucessão do presidente Lula, em 2010, foi suficiente para ampliar as críticas da base aliada. Os deputados Ciro Gomes (PSB-CE) e Aldo Rebelo (PC do B-SP), dois ex-ministros do governo Lula, disseram que a coalizão não pode correr riscos e precisa cautela para se manter unida pelo menos até o fim deste segundo mandato.

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Cientista defende mudança no poder

A afirmação do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, de que não pretende ser candidato em 2010 é muito importante para o sistema democrático brasileiro, avaliou ontem o cientista político Luiz Jorge Werneck Vianna, do Instituto Universitário de Pesquisas do Estado do Rio de Janeiro (Iuperj). "A política é um jogo de alternâncias. É saudável o presidente perceber isso", declarou. Segundo Vianna, Lula será uma peça fundamental no jogo das próximas eleições presidenciais enquanto seu partido, o PT, terá papel secundário.

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Brasília – Em mais uma tentativa de evitar novo racha na base aliada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva jogou água na fogueira petista. Nas conversas mantidas com governadores e dirigentes do PT, na semana passada, ele fez um apelo: pediu esforço concentrado para desidratar a resolução política do 3.º Congresso do partido, marcado para começar na sexta-feira, e não incluir no texto a defesa veemente da candidatura própria à sua sucessão, em 2010. Lembrou que o gesto indicaria boa vontade para o diálogo.

"É importante que o PT esteja disposto a conversar com os outros partidos", disse Lula. A referência a um candidato à sucessão presidencial é amena na proposta apresentada pelo antigo Campo Majoritário, mas todas as demais correntes abordam o tema como um dos grandes desafios para o projeto de poder da legenda e não estão dispostas a ceder. O argumento é que o PT precisa, pela primeira vez em seus 27 anos, preparar-se para o pós-Lula, fustigando o PSDB e o DEM.

O timing dessa operação embute mais uma divergência entre o presidente e o PT. A lista de contenciosos inclui vários senões: das desavenças sobre os rumos da política econômica ao espaço ocupado no governo, passando por propostas de reformas defendidas pelo Planalto e combatidas pelo partido, como a da Previdência.

Os chamegos de Lula na direção do ex-ministro e hoje deputado Ciro Gomes (PSB-CE) e do governador de Minas, Aécio Neves (PSDB) – dois potenciais concorrentes ao Palácio do Planalto –, também causam ciumeira nas fileiras petistas e desconforto no PMDB, o principal parceiro da coalizão.

"Temos de manter a regra da boa convivência nas eleições municipais para não prejudicar a coalizão nacional", insistiu o deputado Michel Temer (SP), presidente do PMDB. "Se depender de mim, a proposta de candidatura própria em 2010 não aparecerá na resolução do Congresso", emendou o deputado Ricardo Berzoini (SP), presidente do PT. "A antecipação desse debate não ajuda em nada, até porque a conjuntura é sempre muito dinâmica."

O assunto promete esquentar as discussões. As tendências Articulação de Esquerda e Novo Rumo propõem que o documento do 3.º Congresso carregue nas tintas e mencione com todas as letras a necessidade de o PT fazer "oposição vigorosa" aos governadores tucanos Aécio e José Serra, de São Paulo. Os dois são pré-candidatos do PSDB à cadeira de Lula.

"A inexistência de uma candidatura natural, como foi a de Lula, imporá ao partido um esforço extra para manter unificadas as forças 'governistas', bem como para construir um nome petista à Presidência", destaca o texto da Articulação de Esquerda. "Tendo em vista que os dois principais pré-candidatos oposicionistas são Serra e Aécio, fazer-lhes oposição programática vigorosa é uma das condições exigidas para o sucesso da nossa empreitada."

A defesa da oposição aos governadores tucanos já estava expressa em outro documento do PT, aprovado pela Executiva Nacional há quatro meses, mas o Planalto trabalha agora para que esse tópico não conste da resolução do Congresso, que vai até 2 de setembro.

Não é à toa que o texto do antigo Campo Majoritário já é bem mais ameno. Apesar de defender a continuidade dos "oito anos de transformação do país", o documento dessa ala – que conquistou 51% dos 931 delegados ao encontro – não dá nome aos bois. Diz apenas que as eleições municipais serão "um momento delicado", em que as "forças conservadoras" atacarão o PT de todas as formas.

A corrente Movimento PT, liderada pelo presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), também vai nessa direção, mas avalia que o encontro precisa começar a preparar terreno para a candidatura própria em 2010. "É um desejo de mais de 90% do diretório nacional", resume Romênio Pereira, secretário de Organização do partido.

Mais enfático, o deputado Jilmar Tatto (SP), da facção PT de Luta e de Massas, diz que o partido deve ter "cara própria" no segundo mandato do presidente. "Lula usa o PT para aprovar coisas ruins, como a prorrogação da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira). Mas, nos momentos de crise, quem defende o PT?", pergunta Tatto, um dos vice-presidentes do partido. "Precisamos salvar o PT quando o governo acabar. Não podemos viver como correia de transmissão do Planalto."

Da Democracia Socialista, o deputado Tarcísio Zimmermann (RS) vai além. "Se a candidatura própria do PT servir como fator de tensionamento é porque a coalizão é muito frágil", provoca o deputado, que assina a chapa "Mensagem ao Partido", capitaneada pelo ministro da Justiça, Tarso Genro.

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