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Análises de todos os carregamentos de suco exportados pelo Brasil começaram no dia 4 de janeiro | Walter Alves/Gazeta do Povo
Análises de todos os carregamentos de suco exportados pelo Brasil começaram no dia 4 de janeiro| Foto: Walter Alves/Gazeta do Povo

"Restrição é chance para rever produto"

Os agricultores que trabalham em contato direto com a substância química são os mais expostos ao risco do agrotóxico, dizem os profissionais de saúde. A quantidade de resíduos que chega até a população por meio dos alimentos é muito pequena e é preciso confiar na fiscalização. "As informações de partes por bilhão dos produtos químicos utilizados na lavoura não são encontradas nas embalagens, mas, antes de ser comercializado, o alimento passa por testes e precisa obedecer às normas de fiscalização", esclarece a professora Joceline Franco, do curso de Farmácia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

Para o engenheiro agrônomo Adriano Riezemberg, do Depar­­tamento de Fiscalização e Defesa Agropecuária da Secretaria de Estado da Agricultura e Abaste­­cimento do Paraná (Seab), a restrição dos americanos – maiores importadores do suco de laranja brasileiro – ao carbendazim representa uma oportunidade de reavaliação do produto pela Anvisa e pelo Ministério da Agricultura, para que ele seja retirado do mercado brasileiro. "Não existe agrotóxico totalmente inofensivo. Ele tem este nome justamente para chamar a atenção para o perigo que o produto traz. Os produtores são fiscalizados para que o uso não saia dos limites", explica o fiscal da Seab.

Segundo ele, na agricultura extensiva, o uso destas substâncias ainda é indispensável, mas elas poderiam ser utilizadas em quantidades menores. "Nosso modelo de cultivo privilegia o agrotóxico em detrimento de outras formas de controle de pragas, como o controle biológico, pois existe uma pressão econômica. O agrotóxico deve ser uma das ferramentas de proteção da lavoura, não a única", pondera.

Precedente

Soja teve problemas na China

O problema com agrotóxicos em produtos brasileiros vendidos para o exterior não é uma novidade para os agricultores do país. Em 2004, a China alegou a presença de fungicida na soja exportada pelo Brasil e interceptou carregamentos com o produto. Mais de 20 produtores foram impedidos de comercializar com o país asiático devido às ações da Administração Estatal de Supervisão de Qualidade, Inspeção e Quarentena da China. "A presença do químico era muito pequena e uma missão brasileira foi enviada ao país para apresentar os dados toxicológicos e comprovar que o produto era seguro", lembra o professor de Saúde Coletiva Ângelo Trapé, toxicologista do Centro de Controle de Intoxicações da Unicamp. Os chineses foram acusados de agir de má-fé.

A presença do fungicida carbendazim no suco de laranja brasileiro colocou o produto na mira da Agência Reguladora de Alimentos e Medicamentos dos Estados Uni­­dos (FDA, na sigla em inglês). O alerta aconteceu em dezembro, depois que uma empresa americana informou às autoridades do país sobre a presença de 30 partes por bilhão (ppb) do agrotóxico no produto brasileiro, que agora está sendo testado pela FDA.

Usado nas lavouras de frutas cítricas do Brasil há 21 anos para o controle do fungo que provoca a doença conhecida como pinta-preta, o carbendazim é proibido nos EUA. Segundo o FDA, as amostragens de todos os carregamentos com suco importado começaram no dia 4 de janeiro. "Qualquer carregamento que contenha carbendazim em níveis su­­periores a 10 ppb será recusado", informa o site da agência americana. Até 12 de janeiro, porém, as amostras testadas não continham quantidades mensuráveis do fungicida.

Segundo a Agência de Proteção Ambiental americana (EPA, em inglês), produtos com até 80 ppb de carbendazim não prejudicam os consumidores. Porém, estudos feitos com animais mostram que o fungicida pode aumentar as chances de aparecimento de tumores de fígado, reduzir a fertilidade, provocar a morte do filhote no útero e causar deficiências.

Segundo Ângelo Trapé, professor de Saúde Coletiva e toxicologista do Centro de Controle de Intoxi­­cações da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), esses testes não apresentam respaldo científico. "Se houvesse risco para o homem, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já teria feito um alerta para proibir o uso de carbendazim. Nos últimos 30 anos, não existem registros de intoxicações pelo consumo de alimentos com agrotóxicos no Brasil. A análise de resíduos feita pela Agência Nacio­­nal de Vigilân­­cia Sanitária (Anvisa) mostra extrema segurança química", informa.

O professor da Unicamp revela que o fungicida centro da polêmica contém substância similar à uma outra usada em seres humanos como vermífugo. "A restrição americana não tem explicação do ponto de vista toxicológico", diz Trapé.

Regras internacionais

Em nota, o Ministério da Agricul-­­ tura afirma que a quantidade de fungicida autorizada para produtos destinados à exportação segue o limite estabelecido pelo Codex Alimentarius – programa conjunto da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Ali­­mentação (FAO) e da OMS que normatiza regras para a segurança dos alimentos em todo o mundo. "O Codex estabelece o limite de 1 mil ppb ou 1 mg de fungicida por quilo de citros", diz a nota.

"Tudo é veneno, dependendo da dose. Até remédios utilizados para tratar uma simples dor de cabeça. O carbendazim é autorizado para a cultura da laranja e os consumidores não precisam ficar receosos: em doses pequenas, o organismo dá conta de eliminar o químico", diz o patologista João Lau­ro Camargo, professor do curso de Medicina da Universidade Esta­­dual de São Paulo (Unesp) em Botucatu.

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