Trajetória de sucesso no Sul
Vanessa Prateano
A história do casal José Pedro da Silva, o Moraes, e de Maria Lideonézia Pereira, a dona Leda, ilustram e dão mais vida aos números divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A trajetória deles é muito parecida com à mostrada pelos índices ano a ano, de 1995 para cá. Quando a piauense Leda chegou em Curitiba, há exatamente 15 anos após três dias de ônibus e com os três filhos, Gustavo, Ademir e Adriana, a tiracolo , a única boa notícia a dar aos parentes que ficaram em Valência, no Piauí, era de que aqui, apesar de frio, não havia seca e a oferta de emprego era maior. A má notícia: eram trabalhos menos valorizados e sem carteira assinada.
A situação do potiguar Moraes começou a melhorar antes: ao chegar em São Paulo, em 1988, trabalhou um tempo sem carteira, mas logo foi registrado como segurança de banco. Dois anos depois, resolveu seguir o conselho de amigos e rumar para Curitiba. Aqui conheceu a mulher, já separada do primeiro marido, e abriu um bar no Sítio Cercado. Dona Leda pediu a conta à patroa. Viraram microempresários. Compraram casa, carro, investiram na educação dos filhos e passaram a pagar o INSS, pensando na futura aposentadoria.
Um exemplo de quanto a vida melhorou é dado com orgulho por Leda: hoje, com a renda maior, podem levar presentes aos parentes quando viajam para a terra natal. Viajar, aliás, é algo que entra nos planos com mais frequência. A última visita foi há três anos, e a próxima está programada para janeiro. "Quando meu irmão ficou doente e não pôde trabalhar, também consegui mandar um dinheirinho pra ele", conta Leda.
E com a vida melhor para todo mundo, o casal prospera. Toda segunda-feira, quando o prato da casa é a tradicional buchada de bode nordestina, chovem "compadres" e "conterrâneos" do Norte e do Nordeste, assim como migrantes de outras cidades do Paraná. Por noite, contam mais de 300 fregueses. "A vida melhorou bastante. Não tenho do que reclamar daqui, não. Fui muito bem-recebido", diz Moraes.
Por enquanto, não pensam em voltar. "Gosto daqui. Tem dias que penso no começo de tudo e digo: sou uma batalhadora. Quem vem de lá hoje também estranha, mas naquele tempo era bem mais complicado", emenda Leda.
O número de brasileiros que deixaram seus estados de origem e migraram para outro chegou a 3,327 milhões entre 2003 e 2008, segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgado ontem. Os maiores fluxos de migração são entre estados da Região Sudeste, e entre o Nordeste e o Sudeste brasileiro. As informações são da Agência Brasil. O estudo mostra que essas pessoas são, em geral, jovens, com idade entre 18 e 29 anos, têm uma taxa de desemprego menor do que a de não migrantes e, quando conquistam um emprego, este costuma ser com carteira assinada, mas com uma carga horária acima de 45 horas semanais.
"Se analisarmos o total de migrantes que, entre 2003 e 2008, mudaram de estado, veremos que a maior quantidade ocorre entre estados da Região Sudeste, com 465.593 migrações. Em segundo lugar, com 461.983 casos, está a migração de pessoas que vão de algum estado nordestino para algum estado do Sudeste", explicou o técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea, Herton Araújo.
Inversão
Ele destaca que dentro das relações migratórias envolvendo as regiões Nordeste e Sudeste onde se encontram mais de 60% dos migrantes do país ocorreu um fato curioso. "Houve, entre 2002 e 2007, uma inversão dessa migração, apresentando um saldo maior de pessoas indo do Sudeste para o Nordeste [cada ano apresentado pelo estudo refere-se à média dos cinco anos anteriores]. Mas, segundo o pesquisador, essa situação voltou novamente a se reverter a partir de 2008.
O estudo detalha que esse saldo migratório, que entre 2002 e 2003 era levemente favorável ao Nordeste migrações bastante próximas a zero , foi ampliado entre 2003 e 2007, tendo o ápice em 2005, com saldo superior a 110 mil migrações para o Nordeste, com origem no Sudeste. "Estimamos que 80% desse saldo é de retorno de nordestinos a seus estados, afirmou o pesquisador.
Segundo ele, a migração entre estados do Sudeste se difere da do Nordeste-Sudeste principalmente pelo fator escolaridade. "Apenas 6,1% dos nordestinos que vão para o Sudeste estudaram pelo menos 12 anos. Esse porcentual sobe para 23% quando analisamos a migração dentro do Sudeste, explica o pesquisador.
O Centro-Oeste surpreendeu por apresentar 151.614 migrações internas. Proporcionalmente, foi o maior índice de migração entre estados de uma mesma região. "Muito disso pode ser justificado pelo alto custo de vida no Distrito Federal, o que gera um grande número de migrações para a região do entorno do Distrito Federal, de mais baixo custo de vida, acrescentou.
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