
Itajaí - Voltar para casa após a enchente desta semana não tem sido um alento à população de Itajaí, litoral norte catarinense. O cenário que os moradores encontram desde quinta-feira, quando a água baixou, é de muita sujeira. Para piorar, o município está sem abastecimento de água e os produtos de limpeza são mais raros do que os alimentos, dificultando e em muitos casos até impedindo o retorno aos lares.
Por causa dessa situação, a costureira Nair da Silva Brum, de 28 anos, o marido e os dois filhos pequenos, moradores do bairro do Caianduba, não têm como retornar para casa e dividem com outras 16 pessoas o barraco de poucos metros quadrados onde a mãe dela mora "É muita lama e pouca água. Minha casa foi coberta pela enchente, está uma imundície", relata. A falta de acesso à higiene já dá sinais: nos dois últimos dias, o marido de Nair adquiriu uma dermatite nos pés que está subindo para as pernas. "Como não tenho como limpar a casa, não sei quando vou voltar", resigna-se.
A dona de casa Karina Mafra, de 28 anos, está na mesma situação. Ela já foi duas vezes à Secretaria Municipal da Educação, principal ponto de doação de alimentos e roupas à população atingida pela enchente, mas conseguiu levar apenas alguns quilos de alimentos nas duas oportunidades. "Eu e meu marido estamos tirando a lama de pás na minha casa", informa Karina. O casal e os quatro filhos pequenos também estão dividindo espaço em um pequeno barraco com outras 11 pessoas. "Estou só com a roupa do corpo, que não troco há dias", enfatiza.
Eleni Seidel, que coordena o trabalho dos voluntários na Secretaria Municipal de Educação de Itajaí, confirma que entre as doações que chegam ao município, não há produtos de limpeza. "Além de comida, precisamos de doações de produtos de limpeza e de roupas", ressalta a chefe dos voluntários. Eleni também informa que faltam voluntários para ajudar na distribuição. Ontem, eram 18 atuando na Secretaria de Educação. Porém o ideal, aponta Eleni, seriam 28. "O problema é que o voluntário trabalha duas horas por dia em média. Precisamos de mais gente para fazer turnos", explica.
Contramão
Mesmo sem ter como limpar o barraco onde mora com mais sete pessoas no conjunto Pramorar, no bairro Cidade Nova, a diarista Marlene Pinheiro, de 47 anos, resolveu voltar para casa. Após ficar quatro dias abrigadas em um colégio da cidade, já que a água havia coberto a casa, Marlene voltou para o barraco quinta-feira, mas só ontem se estabeleceu novamente. "Quinta-feira, quando vi o estado que a minha casa estava, não agüentei de tanta tristeza e voltei para o abrigo", diz Marlene, que ontem amontoava em frente de casa os poucos móveis que tinha todos estragados pela água.



