
São Paulo e Florianópolis - A Defesa Civil realizou ontem e continua hoje uma operação para retirar os moradores do morro do Baú, na cidade de Ilhota (SC), que insistem em continuar em suas casas mesmo após novos soterramentos ocorridos na madrugada de ontem. De acordo com estimativas do Grupamento Aéreo da Polícia Militar, os deslizamentos de terra ocorreram por volta das 4h30 e, segundo informações repassadas por vizinhos, ao menos quatro pessoas da mesma família morreram e os corpos continuam soterrados. A contagem oficial dos mortos está em 105 pessoas.
Ilhota é o município com o maior número de mortes confirmadas até ontem: 33. Mas a prefeitura diz acreditar que o número seja bem superior. A maioria das vítimas morava no morro do Baú, que ficou completamente isolado. O acesso à região só é possível por meio de helicópteros.
Segundo a prefeitura de Ilhota, há famílias inteiras que continuam soterradas na cidade. Não há informações sobre o número de pessoas que continuam desaparecidas, mas ao menos 3,5 mil estão desabrigadas ou desalojadas. Ao menos 6 mil pessoas moravam no morro do Baú, mas a maioria deixou o local após os primeiros deslizamentos. Não há informações sobre o número de moradores que continuam no local. Uma estimativa feita pelo geólogo Marcelo Gramani, do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) de São Paulo, aponta que ocorreram cerca de 4 mil deslizamentos no morro do Baú desde o último sábado.
Um relatório divulgado pela Defesa Civil de Santa Catarina na noite de quinta-feira alerta a população para o risco de novos deslizamentos. De acordo com Epa-gri/Ciram (Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina), à medida que as águas das chuvas começam a baixar, as pedras das encostas tendem a se soltar, provocando novos deslizamentos. O instituto também destaca que o relevo íngreme da região favorece os novos deslizamentos.
Além das 105 mortes confirmadas pela Defesa Civil, 19 pessoas continuam desaparecidas. De acordo com o órgão, ao menos 78.707 tiveram de deixar suas casas devido às inundações e soterramentos. Porém, a Defesa Civil acredita que o número ainda deve subir.
Doações
As vítimas estão alojadas em abrigos públicos, mas há falta de água potável, médicos voluntários, alimentos e artigos de higiene, entre outros. Diversas entidades estão realizando campanhas de arrecadação para auxiliar as vítimas.
Parte da população que teve suas casas inundadas começa a voltar para os imóveis para iniciar o trabalho de limpeza. O cenário é de um rastro de lama, sujeira e destruição, dentro e fora das casas.
Uma força-tarefa foi anunciada ontem, formada pelas Polícias Civil e Militar, pelo Procon, pela Coordenadoria de Defesa do Consumidor e pelo Ministério Público Estadual. Os agentes vão coibir os preços abusivos que estão sendo praticados pelo comércio das cidades atingidas. Conforme o promotor Marcelo Truppel Coutinho, existem denúncias de que alguns estabelecimentos estão cobrando R$ 1 a mais por cada litro de combustível, R$ 20 por cinco litros de água e aplicando valores elevados sobre alguns medicamentos.
Já as contas bancárias abertas para receber doações para os flagelados em nome do Fundo Estadual de Defesa Civil registravam na manhã de ontem um saldo de R$ 3,5 milhões. Estima-se que o saldo das oito contas bancárias disponibilizadas para ajudar as vítimas supere os R$ 5 milhões hoje. A Alemanha assegurou que enviará para Santa Catarina 200 mil euros, cerca de R$ 600 mil.
A Secretaria de Estado do Vaticano enviou, na quinta-feira, ao Arcebispo de Florianópolis, dom Murilo Krieger, uma mensagem de solidariedade do Papa Bento XVI às vítimas.




