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Depois de 45 dias do sumiço do ex-vereador Cláudio Thadeu Cyz com o dinheiro de centenas de famílias de Campo Largo, na região metropolitana de Curitiba (RMC), a economia da cidade enfrenta um período de estagnação. Os setores mais afetados são os de construção civil e automobilístico, que tiveram até 80% de queda nas vendas. Outros comércios sentiram impacto durante as três semanas seguintes ao desaparecimento e, agora, estão retomando as vendas. "Afetou muito o comércio porque as pessoas viviam dos juros que rendiam do negócio de Cyz", avalia o vereador Sérgio Schmidt.

Os rumores na cidade são de que Campo Largo perdeu cerca de R$ 200 milhões com o desaparecimento do ex-vereador. Há pelo menos oito anos, ele mantinha um escritório de consultoria financeira no centro da cidade e recebia as economias de campo-larguenses que seriam aplicadas na Bolsa de Valores. De acordo com vários clientes, o rendimento médio ficava em torno de 4% ao mês, mas em alguns casos chegava a 8%.

Mercado imobiliário

Clientes de Cyz vendiam suas casas, aplicavam o dinheiro e com os juros construíam aos poucos residências maiores, mais confortáveis e em melhores localizações. Sem o rendimento mensal, as obras foram paralisadas. Empresários do setor de construção civil acreditam que a queda nas vendas deve permanecer por mais quatro meses. A redução de caixa em estabelecimentos do ramo varia de 20 a 60%.

"Eu defino isso que está acontecendo com a economia da cidade como ‘efeito manada’, quem tinha dinheiro de verdade correu assustado e os outros correram atrás sem motivo", comenta um empresário que não quis ser identificado. "Eu já tinha previsto que isso (o provável calote na população) aconteceria, mas esperava que fosse para julho. Até que as vendas retomem, a loja vai ficar assim, vazia, uma tristeza."

Para outro administrador que preferiu o anonimato, com loja há 20 anos no mercado, "o impacto do sumiço do ex-vereador foi o que mais mexeu com a economia da cidade nos últimos anos".

Da mesma opinião compartilha o dono de uma loja de automóveis Antônio Brito. "Mesmo a política de juros altos do governo não trouxe tanto impacto à Campo Largo. O quadro de funcionários de outras lojas deve começar a ser reduzido em breve", diz o empresário.

Brito avalia que as vendas de automóveis caíram 80% após o episódio que envolveu o ex-vereador. Ao contrário do que vinha acontecendo em meses anteriores, em que se chegava a vender até 15 carros, no mês passado foram negociados apenas dois veículos eme seu estabelecimento. "O mercado já vinha sendo desaquecido por causa da oferta de juros feita por ele (Cyz), mas depois do golpe parou". A expectativa do empresário é que o mercado automobilístico se normalizar a partir do fim do ano.

Outros setores

O impacto em lojas de roupas não foi tão significativo, mas há quem reclame queda de 40% nas vendas. "Nas primeiras semanas deu uma diminuída. Agora é que está voltando a normalizar", conta a gerente Cirlete Fracaro. Ela estima que sua loja de vestuário e perfumaria teve prejuízo em torno de R$ 5 mil.

Já o setor alimentício foi o que menos sentiu o impacto por se tratar de um ramo que inclui necessidades básicas. "Não tivemos quase nenhum prejuízo. Carne e comida são coisas que vendem, que o pessoal precisa comprar", afirma empresário do ramo Atílio Gionédis, dono de um açougue.

Reflexos

Por não ter comparecido a cinco sessões ordinárias consecutivas na Câmara Municipal, Cyz perdeu seu mandato de vereador. O presidente da Câmara, Marcelo Fabiani Puppi, não recebeu nenhum comunicado do ex-vereador que justificasse as faltas. Na última semana, Paulo Castagnoli assumiu o lugar de Cyz, que tinha sido o sexto vereador mais votado na última eleição com, 1.370 votos.

A esperança de que Cyz reapareça parece já ter desaparecido entre a população. Mesmo aqueles que nos primeiros dias depois do sumiço acreditavam que veriam novamente o ex-vereador, não demonstram mais tal confiança. O empresário Atílio Gionédis, que tinha R$ 50 mil aplicados com Cyz, era uma dessas pessoas. Há um mês e meio, ele dizia que o ex-vereador era amigo da família e que não seria capaz de dar um calote na população. Hoje, as palavras são outras: "Não tenho mais esperança de que ele volte. Se ele estiver vivo não volta."

A delegacia de Campo Largo ainda recebe queixas contra Cyz. De acordo com o delegado Alcimar de Almeida Garrett, cerca de 440 vítimas já registraram ocorrência contra o ex-vereador. "A maior denúncia é de R$ 300 mil. O total de dinheiro envolvido nessas ocorrências fica em torno dos R$ 10 milhões", afirma o delegado. No entanto, sabe-se que outros clientes com aplicações superiores não prestaram queixa por terem conhecimento de que irregularidades financeiras estavam por trás do negócio.

Segundo Garrett, a hipótese de seqüestro do ex-vereador já foi descartada. "Ou ele sumiu porque não poderia devolver o dinheiro para seus clientes ou porque tinha o interesse de ficar com ele", avalia. Os mandados de prisão de Cyz e da esposa já foram repassados para diversos órgãos de segurança do país. A Polícia Federal participa das investigações, já que outros crimes de caráter econômico teriam sido cometidos pelo ex-vereador.

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