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Dona Edith reencontrou na praça a oportunidade de mostrar seu talento | Pedro Serápio/Gazeta do Povo
Dona Edith reencontrou na praça a oportunidade de mostrar seu talento| Foto: Pedro Serápio/Gazeta do Povo
  • Joel se descreveu como

Muita gente redescobriu seu talento ontem na Praça Rui Bar­bosa, no Centro de Curitiba. Pes­soas como a atriz e soprano Edith Sobania, 76 anos, que há tempo andava atrás de cultura e diversão. Quando morava em Londrina, ela fazia peças de teatro, cantava em casamentos, dava entrevistas. Chegou a Curitiba há quase três anos e diz não ter encontrado ne­nhuma oportunidade. Teve depressão. A filha Iolanda viu na televisão um evento que poderia interessar dona Edith: um tal de Karaokê Coral, com 30 microfones instalados a céu aberto na Rui Bar­bosa. Quem passasse pela praça poderia cantar canções de amor. Lá foram elas atrás da novidade, que durou das 17 às 22 horas de ontem.

Na praça, todos cantavam juntos, guiados apenas pela imagem gigante no telão de uma boca, que mexia os lábios junto com as músicas. Sem letra nem nota no final. A novidade, uma instalação de vídeo-arte, foi desenvolvida pela artista francesa Camille Henrot como parte das comemorações do Ano da França no Brasil.

Dona Edith não conhecia todas as músicas. Ficou em dúvida se cantaria ou não na praça. "Sou tímida." Tímida? Pois ela cantou (e muito bem), dançou, deu entrevista, tirou foto. "Fazia tempo que não via minha mãe tão animada. Acho que ela nem vai dormir à noite", disse Iolanda.

Outro que fez sucesso na praça foi o bailarino Joel Camargo. A cada música, apresentava uma nova performance: rebolava, segurava firme o microfone, cantava com vontade. No repertório, desde Wando (Fogo e paixão) até Tom Jobim e Vinicius de Moraes (Chega de saudade), passando por Zezé di Camargo e Luciano (É o amor). O público começou a berrar seu nome. Apesar de haver 30 pessoas cantando, a maioria dos aplausos era mesmo para Joel, que não tinha tempo para muita conversa. O que você faz, Joel? "Sou um bailarino... falido". Não naquele momento.

Mais comedido estava o caldeireiro Cláudio Fernandes, que aproveitou o dia de folga. Chegou tímido, ajeitou o microfone e começou a cantar baixinho. Sentiu que o microfone não funcionou. Parecia que ia desistir, mas não: foi para o próximo e continuou cantando, devagarinho – e por horas. "Faz tempo que eu devia estar na casa da minha mãe." A mãe teve de esperar: Cláudio ficaria até o fim do karaokê. "Não é todo dia que a gente tem o prazer de estar em um lugar como esse. Geralmente é só espaço confinado. Da casa para o trabalho e do trabalho para casa", conta Cláudio.

A assistente social Marli Tere­sinha da Silva Recio não descobriu um grande talento, nem para cantar nem para dançar, mas saiu da Rui Barbosa com pelo menos dez novos amigos. Trocou muitos telefones e anotou e-mail. Dona Edith deu até o seu endereço para Marli, que parou na praça na saída do trabalho. "Meu marido deve estar em casa pensando: ‘O que a Marli está fazendo a essa hora?’". Como ela, muitos "cantores" também já deveriam estar em casa: a expectativa dos organizadores era de que cerca de 2 mil pessoas participassem do evento.

Serviço:

Mais informações sobre o Karaokê Coral estão no site www.karaokecoral.com.

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