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Reajuste da tarifa passa a valer já na segunda-feira: revisão anual prevista em contrato e aumento salarial dos motoristas e cobradores pesaram no valor final | Daniel Castellano / Gazeta do Povo
Reajuste da tarifa passa a valer já na segunda-feira: revisão anual prevista em contrato e aumento salarial dos motoristas e cobradores pesaram no valor final| Foto: Daniel Castellano / Gazeta do Povo

Impacto

Salário maior forçou alta na passagem

O aumento nas passagens já era esperado. Após uma paralisação total dos motoristas e cobradores de ônibus com dois dias de duração, há duas semanas, a Urbs autorizou um aumento de 10,5% nos rendimentos da categoria, além de um aumento de 92% no vale-refeição. No total, os custos das empresas de ônibus com a mão de obra ativa subiu cerca de 20%. Apesar de inúmeras negativas por parte da Urbs e da prefeitura, esse aumento será repassado ao usuário.

Segundo dados da Urbs o custo com mão de obra significa cerca de 45% do valor da tarifa técnica, que serve como parâmetro para o estabelecimento do preço da passagem. O custo com mão de obra por quilômetro rodado, com esse aumento, saltou de R$ 2,25 para R$ 2,57.

"Transporte coletivo é caro", diz economista

Para não rodar no vermelho, a Urbs aposta no crescimento do índice de passageiros por quilômetro (IPK) em 2012. Como o aumento foi inferior à inflação, em tese, o preço da passagem deve pesar menos no bolso do trabalhador curitibano. Com mais passageiros pagando, o custo do transporte ficaria mais barato. Entretanto, a tendência recente é de queda no IPK. Hoje, ele é de 2,03.

Para o economista do Dieese Sandro Silva, os reajustes nas tarifas do transporte coletivo têm sido atribuídos a um ciclo vicioso, que tem relação com a quantidade de passageiros pagantes. "Nos anos 90 houve uma redução no número de passageiros por causa da economia conturbada do período. Houve uma recuperação, mas entre 2003 e 2004 o IPK chegou a ficar inferior a 2. Novamente, houve uma recuperação, mas foi muito tímida. O transporte coletivo ficou muito caro", argumenta.

O economista aposta em uma revisão das políticas adotadas como forma de valorização do transporte público. "O transporte individual é priorizado em detrimento ao coletivo. Se houvesse uma política pública voltada para o transporte coletivo de qualidade, muitas pessoas que usam carros passariam a usar o sistema, se tivesse uma tarifa barata", acredita.

Além disso, a retomada do crescimento da economia e a facilidade de as pessoas comprarem carros acabaram prejudicando a adesão de novos usuários ao transporte coletivo. Com isso, o IPK, que já foi de 3,06 em fevereiro de 1995, atualmente é de 2,03. "Com a integração do transporte com a rede metropolitana, houve um aumento significativo da quilometragem rodada no sistema. Por outro lado, o número de passageiros pagante é menor do que o que havia no final dos anos 80", questiona. Por consequência, se há aumento na quilometragem e diminuição de passageiros, a tarifa sobe.

Já para o ex-diretor de Plane-jamento da Urbs João Carlos Cascaes,com as atuais condições do transporte de Curitiba, é pouco provável que essa previsão se concretize. Não é apenas o preço do transporte que afasta o curitibano do ônibus, mas a falta de segurança, conforto e pontualidade para os passageiros.

  • Aumento desproporcional

Quem utiliza o transporte coletivo de Curitiba e região metropolitana vai ter de pagar mais caro pela passagem a partir da zero hora da próxima segunda-feira. A tarifa de R$ 2,50 passa a ser de R$ 2,60 para as linhas que compõem a Rede Integrada de Transporte (RIT). O reajuste é consequência do aumento salarial dos motoristas e cobradores e da revisão anual prevista em contrato.

Aos domingos, a passagem continua custando R$ 1, valor que é mantido desde 2005. Já a Linha Turismo passa a custar R$ 27, ante os R$ 25 que eram cobrados, e a linha Circular Centro passa de R$ 1,50 para R$ 1,60.

O reajuste de 4% está um pouco abaixo da inflação nos últimos 12 meses, que é de 5,63%, considerando o INPC de janeiro. Entretanto, levando em conta a série histórica, o custo do ônibus subiu 58% acima da inflação desde o início do Plano Real, em 1994, de acordo com dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

Já a tarifa técnica, que leva em conta o custo por quilometragem do sistema e o número de passageiros atendidos, saltou de R$ 2,56 para quase R$ 2,79. De acordo com o diretor de transportes da Urbs, Antônio Carlos Pereira de Araújo, o reajuste atual foi o menor possível, considerando o aumento nos vencimentos dos motoristas e cobradores.

Para Sandro Silva, economista do Dieese, a discussão sobre o aumento da tarifa não pode se restringir ao valor do reajuste. "Precisa haver uma revisão da metodologia de cálculo e uma atualização dos coeficientes técnicos de consumo, porque o que ocorre é que não há uma padronização de procedimento de atualização desses valores", questiona.

Números preocupantes

Além das tarifas, a Urbs divulgou novos dados sobre a Rede Integrada de Transportes (RIT). Alguns números preocupam: houve uma leve queda no número de passageiros transportados pela RIT, de 25,8 milhões para 25,7 milhões por mês. Esse número parece pequeno, mas se considerarmos que o número de habitantes em Curitiba cresceu no período, a proporção de passageiros em relação à população total da cidade caiu ainda mais.

Esse processo precisa ser revertido para evitar um rombo nas contas da Urbs. A atual diferença de quase R$ 0,19 entre a tarifa técnica e a passagem significaria uma diferença de R$ 58,8 milhões entre o que a Urbs arrecada com passagens e o que ela repassa para as concessionárias.

Inicialmente, essa diferença seria coberta no próprio fluxo de caixa da Urbs, especialmente através da venda de passagens antecipadas, explica Araújo. Entretanto, ele considera que, com o passar do ano, o número de passageiros no sistema deve subir, já que a passagem, apesar de mais cara, pesará menos no bolso do trabalhador – uma vez que os salários tendem a acompanhar o valor da inflação.

Caso essa previsão não se confirme, entretanto, a Urbs sinaliza que pode pedir recursos da prefeitura e do governo do estado, contratantes, respectivamente, das linhas urbanas e metropolitanas. Além disso, Araújo afirma que existem estudos para arranjar formas de arrecadação alternativas para baratear o preço da passagem, como a instalação de televisões com material publicitário nos ônibus. Porém, ainda não se sabe qual o impacto dessas medidas nas tarifas.

Urbs repassa valor maior às empresas

A tarifa técnica é o valor que a Urbs repassa às empresas de ônibus. Grosso modo, para cada passageiro pagante que entra em um ônibus, a Urbs repassa esse valor à empresa responsável. Enquanto o passageiro paga R$ 2,60, são repassados R$ 2,79 à empresa – como ela é remunerada por quilômetro rodado, trata-se de uma previsão dos pagamentos de passagens, e não das passagens em si. Logo, uma das maneiras de manter o caixa da Urbs equilibrado é aproximando esses dois valores. A diferença de R$ 0,19 entre as duas tarifas significa um rombo de pelo menos R$ 58,8 milhões nas contas da Urbs por ano.

Além do reajuste, outras possibilidades de aproximação dos valores chegaram a ser ventiladas nos dias que sucederam o aumento dos motoristas. Uma delas seria a revisão do cálculo da tarifa para os ônibus metropolitanos, que são mais custosos do que os que circulam apenas no município de Curitiba. O governo do estado poderia bancar do próprio erário a diferença de custo entre as linhas urbanas e metropolitanas, evitando um aumento e mantendo as contas da Urbs equilibradas. A ideia, entretanto, não prosperou.

Segundo o governo do estado, existe um grupo de trabalho formado para discutir maneiras de tornar o transporte coletivo mais barato nas grandes cidades do Paraná, mas os estudos ainda estão acontecendo e nenhuma ideia ainda está desenvolvida o suficiente para ser apresentada. Além disso, não houve qualquer negociação com as prefeituras envolvidas.

Como funciona

A tarifa técnica é a divisão do custo da frota pelo número de passageiros pagantes. Primeiro, são calculados os valores gastos para manter a frota rodando. Esse valor é dividido pelo número de quilômetros rodados pela frota mensalmente – o chamado custo por quilômetro, que chegou agora a R$ 5,68. Esse valor é dividido pelo índice de passageiros por quilômetro (IPK), que corresponde à média mensal de passageiros pagantes dividida pela quilometragem da frota. Atualmente, esse índice é de 2,03. Dividindo-se os dois números, chega-se à tarifa técnica.

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