| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Sem verba, cidades têm de se virar

Tanto quanto a população, os gestores de saúde das pequenas cidades aguardam ansiosos por uma solução para o problema da falta de médicos. Em Contenda, município com 15.891 moradores na Região Metropolitana de Curitiba, a dificuldade em contratar esses profissionais impede que duas das quatro equipes de Saúde da Família do município atuem. De acordo com o secretário municipal de Saúde, José Carlos Dias (foto), não é só a medicina preventiva que fica prejudicada, mas também o atendimento de emergência no hospital local. "Todos os municípios vizinhos passam pelo mesmo problema. Ou há falta de médico ou uma rotatividade muito grande." Para Dias, a "importação" de médicos pode ajudar os pequenos municípios a completar suas equipes, já que o orçamento reduzido não permite oferecer salários altos para atraí-los.

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Salário

A Câmara dos Deputados voltará a analisar a proposta de criação de um piso nacional para os médicos – assunto que está em discussão há quase 20 anos. Pelo projeto, o valor mensal a ser pago para uma jornada de 20 horas é R$ 9 mil. O salário seria reajustado anualmente pela inflação e caberá à União auxiliar estados e municípios no pagamento. Para o deputado André Moura (PSC-CE), autor da proposta, o piso ajudará as pequenas cidades a ter mais médicos.

Levantamento

Gestores públicos alegam ter dificuldade em encontrar médicos titulados

Para os gestores de hospitais conveniados ao SUS com atendimento geral, a maior dificuldade na contratação de médicos especializados é a falta de profissionais titulados segundo os critérios do Ministério da Educação (MEC) e da Associação Médica Brasileira (AMB).

Isso é o que revela uma pesquisa com 461 estabelecimentos feita pela Estação de Pesquisa de Sinais do Mercado de Trabalho, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais.

De acordo com o levantamento, outra razão apontada pelos gestores é a falta de experiência do profissional. Em relação às condições técnicas para o exercício da especialidade, poucos hospitais apontaram que esse fator explica a dificuldade na contratação.

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A intenção do governo federal de trazer médicos do exterior para trabalhar no Brasil evidenciou o drama da falta de profissionais no interior do país – uma situação que vem se agravando. No Paraná, entre 2008 e 2013, o número de médicos por habitante cresceu em Curitiba e nas grandes cidades, mas se manteve estável nas pequenas e médias cidades. A concentração ocorreu no mesmo período em que os municípios menores registraram um aumento no número de equipamentos médicos à disposição do Sistema Único de Saúde (SUS).

INFOGRÁFICO: Veja como é a distribuição dos médicos pelo Paraná

Em 2008, as cidades paranaenses com população inferior a 10 mil pessoas tinham 278 médicos registrados no Conselho Regional de Medicina (CRM). Cinco anos depois, houve acréscimo de apenas 17 profissionais, o que significa uma relação de 0,3 médico para cada grupo de mil pessoas, contra 0,2 de 2008. No Paraná, a média passou de 1,6 para 1,9 por mil.

Também não houve avanços nas cidades de médio porte, com taxa estável de 0,6 médicos por mil moradores. Houve alta no número de profissionais, mas apenas o suficiente para acompanhar o crescimento populacional.

Em Curitiba, os dados atuais indicam a relação de 5,5 médicos por mil, contra 4,5 cinco anos antes. Proporcionalmente, a maior variação ocorreu nas 31 cidades do interior que têm população acima de 50 mil: a taxa que era de 1,4 passou para 1,7.

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No Brasil, a média atual é de 1,8 médico por mil habitantes, mas todos os estados registram grande concentração nas capitais. Segundo o governo federal, esse número está bem abaixo do registrado em países ricos – Alemanha (3,6), França (3,5), Estados Unidos (2,4), Reino Unido (2,7) – e também pelos vizinhos latino-americanos – Cuba (6,7), Uruguai (3,7) e Argentina (3,0).

Para resolver a questão, a gestão de Dilma Rousseff cogita "importar" médicos estrangeiros e instalar faculdades de Medicina no interior. Mas o Conselho Federal de Medicina (CFM) questiona essas proposta e reforça que é preciso melhorar as condições estruturais do atendimento à saúde.

Equipamentos

A falta de estrutura na saúde apontada pelo CFM e vivenciada pela população carente não é tão visível nos dados oficiais. De acordo com o Datasus, entre 2008 e 2013 o Paraná teve uma alta de 33% no número de equipamentos usados pelo SUS de diagnóstico por imagem, de infraestrutura, por métodos ópticos, por métodos gráficos, de manutenção da vida, de odontologia, entre outros. No mesmo período, o número total de médicos no estado cresceu 20%.

A maior variação foi nas cidades com menos de 10 mil habitantes: os equipamentos passaram de 1.452 para 2.080, alta de 43%. Em Curitiba, o crescimento foi de 15%.

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Concentração resulta da falta de estrutura, diz Conselho

O presidente do Conselho Regional de Medicina no Paraná (CRM-PR), Alexandre Gustavo Bley, afirma que a concentração de médicos nos grandes centros ocorre pela falta de estrutura no atendimento à saúde nas cidades menores. Ele diz que a União deveria desembolsar mais dinheiro para a área, já que os municípios não têm condições financeiras de equipar bem suas unidades de atendimento. "As cidades mal conseguem pagar os salários. Essas cifras altas que são divulgadas são muitas vezes fantasiosas", afirma.

Segundo a pesquisadora Márcia Ney, do Instituto de Medicina Social da Uni­­versidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), nem mesmo altos salários vão ajudar a fixar os médicos nas cidades menores. "Garantir meios para comunicação, sistemas de informação para consultorias e suporte técnico, capacitação, qualificação também são imprescindíveis para a valorização do profissional, tanto para o jovem médico quanto para os mais antigos."

Ampliar atuação

Independentemente das soluções pontuais para resolver o problema atual de falta de profissionais de saúde nas cidades menores, o Brasil precisa discutir alternativas para ampliar o atendimento de forma consistente. Essa é a opinião do médico Sábado Nicolau Giradi, coordenador da Estação de Pesquisa de Sinais de Mercado do Núcleo de Educação em Saúde Co­­letiva da Universidade Fe­­deral de Minas Gerais. "Em outros países, os enfermeiros têm uma atuação mais ativa do que no Brasil e podem ser anestesistas, por exemplo. Seria interessante ampliar o escopo da prática de vários profissionais e até mesmo médicos, para que exerçam mais atividades."

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