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Mário Soares não fala outro idioma além do português, mas está preparado para encarar a confusão de vozes e línguas que tomará conta de Curitiba de 13 a 31 de março. A capital do Paraná será nesses dias uma cidade do mundo, com gente de 188 países andando por suas ruas, seus bares e hotéis. Cinco mil estrangeiros virão para a Convenção sobre Diversidade Biológica, um dos mais importantes eventos mundiais com a chancela das Nações Unidas. Eles ficarão temporariamente incorporados à vida curitibana e Mário Soares estará a postos para apresentar-lhes a cidade. Ele e centenas taxistas que estão se preparando para isso.

Essa gente toda vem discutir os destinos ambientais do planeta e Soares não quer fazer feio na hora de falar sobre o que a cidade tem de melhor. Ele está na segunda turma das 10 que vão preparar 1,5 mil taxistas com noções gerais sobre esse que é o principal fórum mundial para definição dos marcos legais e políticos para temas e questões relacionadas à biodiversidade. Esses cursos de capacitação estão sendo feitos pela prefeitura e atenderão, ainda, 400 agentes de trânsito, policiais militares e do Batalhão de Trânsito, 80 fiscais do transporte coletivo e 20 funcionários das lojas Leve Curitiba. Todos participam de forma voluntária. E até agora não têm do que se queixar.

O que atraiu os taxistas é a possibilidade de oferecer algo diferente dos demais motoristas de praça. Ao final do curso, receberão da Urbs um selo de identificação que poderá ser reconhecido pelos estrangeiros. Isso fará a diferença na hora que eles precisarem de uma corrida, diz o presidente da associação das oito centrais de rádio táxi de Curitiba, Edson Fernandes. Soareso sabe que precisa de algo mais do que os 26 anos de experiência como chofer de praça. Os endereços da capital ele já sabe de cor, e agora também terá assunto para fazer bonito na frente dos tradutores que vão acompanhar os gringos. Descobriu, por exemplo, que o evento da ONU está dividido em duas partes.

A primeira vai de 13 a 17 de março e se chama Reunião das Partes, ou MOP-3 na sigla em inglês. MOP designa a terceira reunião dos países signatários do Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança, que trata de um assunto muito em moda: os organismos vivos modificados geneticamente, os transgênicos. São eles que devem dominar a pauta de discussão do MOP. Já a segunda parte segue dos dias 20 a 31, sob a sigla COP-8, ou Conferência das Partes. Essa é a esfera mais importante de decisões dentro da Conferência de Biodiversidade, com reuniões a cada dois anos em diferentes continentes. Na COP são discutidos temas gerais da relação entre o homem e o meio ambiente, também a troca de experiências entre países sobre a gestão da biodiversidade.

Anfitrião

Curitiba não terá influência nas decisões, mas tem a grande responsabilidade de não decepcionar como cidade sede desste que será o único evento realizado fora de uma capital de país. "Quem empresta a casa tem de ser no mínimo um bom anfitrião", diz o coordenador local da Comissão Organizadora, Ramiro Wahrhaftig. Para isso, a prefeitura criou 12 projetos diferentes. Um deles são os cursos de capacitação do qual faz parte o taxista Mário Soares, outros são a sinalização bilíngüe de padrão internacional nas ruas da capital e o recolhimento do lixo no Expo-trade Center, em Pinhais, onde acontece o evento.

A ordem é receber bem os estrangeiros que virão para a MOP-3 e a COP-8. Para causar boa impressão, eles serão recebidos já na chegada ao Brasil por uma equipe da prefeitura de Curitiba nos aeroportos de São Paulo, do Rio de Janeiro e no Afonso Pena, em São José dos Pinhais. Enquanto isso, segue o desafio de recrutar entre 3 mil e 5 mil voluntários que serão as "sombras" dos estrangeiros enquanto estiverem na cidade, para levá-los a todos os cantos que quiserem ir. Pelo menos mil deles já estão inscritos.

Além da capacitação igual a esta dos taxistas, os voluntários passarão por cursos de noções de saúde e primeiro socorros. "Temos de estar preparados para qualquer tipo de eventualidade", diz a orientadora Lis Zeni. Todos têm de estar aptos a lidar com pessoas de línguas, culturas e hábitos alimentares diferentes. Tudo para que uma simples feijoada, por exemplo, não bote tudo a perder.

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