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O parto de um bebê em Maringá poderá servir como referência para médicos de todo o Brasil. Gustavo Yamamura, nascido em 12 de maio, tinha pouquíssimas chances de sobreviver, depois que seu irmão gêmeo morreu durante o parto prematuro. O normal em situações como essa seria interromper a gestação do segundo bebê. Os médicos, porém, tentaram uma técnica rara e arriscada – mas que deu certo.

Após o parto do primeiro bebê, a mãe das crianças, Meire Yamamura, recebeu a notícia de que tinha duas alternativas. Na primeira, mais tradicional, o outro bebê seria retirado imediatamente, mas com poucas chances de vida, já que era prematuro e não estava pronto para o parto. Na segunda, a gestação seria mantida até que o bebê se desenvolvesse o suficiente para o parto. No entanto, nessa hipótese haveria risco de hemorragia e a criança poderia não resistir de qualquer maneira. Mesmo assim, a mãe decidiu arriscar.

A gravidez foi mantida por mais cinco semanas. O médico responsável pelo caso, Carlos Gilberto Almodin, pesquisador de reprodução humana, diz que não conhece registros de intervalo grande como esse entre um parto e outro. Ele próprio participou, cerca de 15 anos atrás, de outro "parto em dois tempos", como a técnica vem sendo chamada – mas a separação entre os dois nascimentos foi de duas semanas.

O primeiro parto de Meire foi antecipado por um rompimento prematuro da bolsa d’água de um dos bebês. A mãe chegou à maternidade com a gestação de pouco mais de cinco meses e entrou em trabalho de parto. Com menos de 28 semanas de parto, de acordo com os médicos, o nascimento é de risco e é possível tentar o adiamento do segundo nascimento, para garantir alguns dias ou semanas a mais de desenvolvimento para o segundo feto.

Depois que a família decidiu tentar salvar o segundo bebê, o restante da gravidez foi monitorado intensamente pela equipe de Almodin. Foram feitas, em média, três ecografias por semana. Exames de sangue de Meire também eram feitos com intervalos de poucos dias. Os cuidados com a posição da mãe e o uso de remédios também foram fundamentais para retardar o segundo parto.

Mesmo depois de todo o esforço, Gustavo nasceu com apenas 1,2 quilo. Ficou três meses na maternidade, boa parte do tempo na UTI – ainda era bastante fraco. Mas em 11 de agosto teve alta e foi para casa. O pai do menino, o comerciante Hélio Yamamura, disse ontem ao telefone que a família ainda está sob o impacto de todo o processo, mas afirma que o filho "está se desenvolvendo bem".

Almodin considera que foi o bom relacionamento que tem com a família – que ele atende há aproximadamente dez anos – que fez com que eles assumissem o risco de um procedimento não-ortodoxo. "Isso mostra que os conceitos estão mudando", afirma o médico. "E quando outros médicos passarem por esta situação, poderão pensar de forma diferente ao invés de sacrificar a criança", diz. Segundo ele, foi uma decisão muito difícil de ser tomada, porque seria mais cômodo interromper a gestação.

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