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Cada criança devolvida à Vara de Adoção de Curitiba era como se uma batalha tivesse sido perdida. Casais levavam uma criança para casa e durante o tempo de guarda provisória os problemas surgiam. Não raro, a convivência acabava por destruir a expectativas de todos e, mais uma vez, a criança voltava para o abrigo com a sensação de abandono. Em 2007, os técnicos da Vara de Adoção se deram conta que precisavam fazer alguma coisa para mudar a situação.

Desde 205 todos os candidatos à adoção já passavam por um cursos preparatório obrigatório. Verificou-se, entretanto, que aqueles interessados por crianças maiores precisavam de uma preparo diferenciado. "Não é como adotar um bebê", diz a assistente social da Vara de Adoção de Curitiba, Salma Corrêa. Os técnicos iniciaram uma pesquisa junto a pessoas bem-sucedidas na adoção de crianças maiores. Analisaram as principais dificuldades, as soluções adotadas e os medos. Surgia então o curso para adoção tardia.

O primeiro ponto a se trabalhar com os adotantes de uma criança maior seria a relação entre a expectativa construída pela criança e a do casal. "Idealização demais atrapalha. Normalmente, o casal sonha que vai poder resgatar a criança do sofrimento profundo e dar conta completamente das dificuldades. Aí se frustra. Já as crianças sonham que não vão ter limites, que vão ter de tudo e poderão fazer tudo. E também se frustram", explica Salma.

As decepções em relação ao que foi idealizado também precisavam ser abordadas. O fato de os pretendentes poderem escolher as características do filho que vão adotar, segundo os especialistas, faz com que as expectativas aumentem. "Eles acham que vão adotar uma pessoa do jeito que eles querem. Tentamos mostrar que as decepções ocorridas com o filho biológico também podem acontecer com o filho adotivo", afirma Salma.

A dificuldade de impor limites também era um problema. Aspectos emocionais, como pena ou medo de rejeição, fazem com que os pais adotivos novatos pensem duas vezes antes de serem mais duros. "A criança vai tentar não obedecer e os pais têm medo de serem rejeitados, mas tem de haver um processo de instituição de autoridade", aconselha a assistente social. Outro medo recorrente é o receio de que os filhos adotivos não os enxerguem como pais.

"Os pais adotivos têm de estar conscientes dessa dificuldade e preparados para agir. O processo de aceitação é natural. Mas a aceitação da criança é mais rápida do que a aceitação dos pais adotivos", opina Salma. Isso se explica pelo fato de a criança não selecionar tanto quanto o adulto, pois normalmente não querem saber a idade ou a cor dos pais adotivos. "Elas só querem ser amadas". Com o curso, as devoluções se tornaram raras e os casais que participam têm gostado da experiência. (TC)

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