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Entenda como funciona o sistema integrado de energia |
Entenda como funciona o sistema integrado de energia| Foto:

Ainda não se sabe com exatidão qual foi o problema que provocou o apagão de terça-feira, e a resposta será importante para estabelecer melhorias no sistema, mas especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo apontam vários caminhos para aumentar a segurança da rede elétrica e reduzir a probabilidade de novos apagões.

A relação entre custo e benefício é a principal preocupação dos analistas quando apontam suas soluções. Uma alternativa em estudo pelo Operador Nacional do Sistema (ONS), por exemplo, seria a construção de uma rota alternativa da energia vinda da usina de Itaipu para os estados do Rio de Janeiro e de São Paulo. A ideia é descartada pelo diretor de projetos da consultoria energética Andrade e Canellas, André Crisafulli. Para ele, na escala de prioridades, o ideal é aumentar o número de polos supridores de energia. "É evidente que a construção de outro linhão saindo de Itaipu para o Sudeste seria uma alternativa. Mas o investimento tem que fazer sentido. E acredito que faz mais sentido interligar outras fontes de geração do que construir um circuito paralelo. O circuito já tem uma contingência e uma segurança operacional em padrões aceitáveis", diz ele.

A dependência de Itaipu, que já chegou a gerar 34% do total de energia consumida no país (hoje é de 20%), tende a diminuir cada vez mais. As duas principais obras do governo para "desafogar" Itaipu são as usinas no Rio Madeira, em Rondônia, e a Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, que devem ficar prontas em 2012 e 2014, respectivamente.

Para o engenheiro Ewaldo Mehl, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o país precisa investir para ter outras fontes de geração que podem entrar em funcionamento no caso de uma pane em alguma grande hidrelétrica. "Precisamos de outras opções, como usinas nucleares, que podem ficar prontas para operar em caso de emergência", diz.

Rede Inteligente

Uma alternativa, ainda distante da realidade brasileira mas já em fase experimental nos EUA e na Europa, é a chamada "smart grid" (rede inteligente). "Hoje em dia a rede elétrica é analógica. Ela não transporta informação digital. A única coisa que podemos dizer é se ela está ou não passando energia. Com uma linha digital, as oportunidades são imensas", diz Rafael Schechtman, sócio-diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). No plano de recuperação da economia dos EUA, a Casa Branca já investiu US$ 3,4 bilhões nas redes inteligentes. O governo espera que outros US$ 4,6 bilhões sejam investidos pela iniciativa privada. "Mas o ‘smart grid’ tem um custo muito elevado no Brasil", constata Schechtman. Para ele, outra opção é o uso de centrais de acumulação, algo que já vem sendo feito em Nova Iorque, onde o custo para construir novas linhas de transmissão é bastante elevado. "Nessas centrais, você acumula energia durante a noite, quando o consumo é menor, e libera essa energia durante o dia, evitando que você tenha que comprar de outras fontes."

Cyro Boccuzzi, da consultoria ECOee e organizador do Fórum Latino Americano de Smart Grid, que terminou na última terça-feira, no mesmo dia do apagão, é um entusiasta da "rede inteligente". Ele explica que a rede tornaria a geração e o uso de energia mais descentralizado. Uma empresa, por exemplo, poderia possuir sua própria termelétrica, e vender energia para indústrias ou residências vizinhas. "Isso já acontece nos EUA. A pessoa instala painéis solares em sua casa, e vende para o vizinho. No sistema atual, só podemos medir a quantidade de energia que entra na residência. Com a rede inteligente, você pode medir a diferença entre saída e entrada e ver o quanto ela vai pagar no fim de mês de energia. Pode até receber dinheiro."

Segundo Boccuzzi, é importante que o Brasil não perca o "bonde" da discussão da rede inteligente. "Neste momento, há uma discussão mundial em torno da preparação para as normas para essa tecnologia, para que os equipamentos conversem entre si. Os produtos vão começar a ser produzidos em grande escala nos próximos anos nos EUA e até 2012 essa rede deve responder por 5% do sistema de energia do país. O Brasil não pode ficar de fora", diz. De acordo com ele, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) tem acompanhado as discussões do Fórum de Smart Grid.

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