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A julgar pelos discursos dos dirigentes do PMDB, os cargos no governo são acessórios, e não o principal, embora a prática indique o contrário. O presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), tem uma explicação na ponta da língua para se desvencilhar das cobranças dos colegas por mais vagas para a bancada da Câmara. "Eu não serei portador de nenhuma fatura", diz ele, sempre que o assunto vem à tona.

Temer afirma estar empenhado em sepultar a imagem de fisiologismo que marca o PMDB e na difícil engenharia de pacificação do partido. "Não é o PMDB que tem de cobrar do governo. É o presidente Lula que precisa arbitrar como cada um deve executar os projetos", constata, em mais uma tentativa de jogar água na fogueira da coalizão.

Com retórica calibrada para um candidato à reeleição, o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), vai na mesma linha. "Reeditar a questão do espaço do PMDB, nesse momento, é o mesmo que reacender a crise interna", compara. Temer e o grupo de Renan selaram a paz temporária, que pode até mesmo reconduzir o deputado ao comando do PMDB, em março, embora o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim, também esteja no páreo.

"O PMDB vai muito bem: com 89 deputados, pode ganhar seis ministérios. Então nós, que elegemos 41, devemos ficar com três" resume o líder do PP na Câmara, Mário Negromonte (BA), aplicando regra de três na Esplanada. "Não se trata de fisiologismo: é divisão per capita, símbolo do poder."

A cúpula do PP vai conversar com Lula nesta semana para aderir ao governo de coalizão. "Mas não seremos vaquinha de presépio", avisa o deputado eleito Paulo Maluf (SP). O PP comanda apenas o Ministério das Cidades, pasta almejada tanto pelo PMDB como pelo PT. "Quero afastar essa idéia de que nós estamos querendo aparelhar, que estamos preocupados com o loteamento do governo. Não é verdade", afirma o presidente interino do PT, Marco Aurélio Garcia.

Na lista dos ministeriáveis para a pasta das Cidades já foram cotados tanto a ex-prefeita Marta Suplicy (PT) como o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), pré-candidato à presidência da Câmara. A exemplo do PMDB, o PP também se divide em facções: uma ala defende a permanência de Márcio Fortes, ministro das Cidades mas a outra quer trocar de ministro. "Se o presidente me consultar, recomendo a manutenção dele", diz Maluf.

Cotoveladas

Senadores e deputados do PMDB lutam internamente para cobrar a fatura do Planalto. Na quarta-feira passada até um discípulo de Sigmund Freud tentou explicar o mal que assola o partido. Em reunião da bancada peemedebista na Câmara, o deputado Marcelo Castro (PMDB-PI), psiquiatra de profissão, desfiou um rosário de indicações feitas pelos senadores, principalmente por Sarney e pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), para fazer o diagnóstico.

Ao escancarar a lista das nomeações, exibiu várias diretorias de estatais e bancos públicos, dos Correios à Transpetro, passando por Furnas, Eletronorte e Funasa. "A balança só pende para o lado do PMDB no Senado porque nós, da Câmara, ficamos nos digladiando", concluiu Castro. "O normal aqui, na China e na Conchichina é a representação do partido ser proporcional à sua força. Temos 89 deputados eleitos e qual é o nosso espaço no governo?", perguntou o deputado-psiquiatra, pregando a rebelião. "Assim não dá!"

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