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"Agora não dá para pensar que essas coisas só acontecem nos Estados Unidos", afirmou Giuliano Binotto, morador da Rua Venezuela, no bairro Bacacheri, enquanto observava funcionários da prefeitura de Curitiba que enchiam seu quintal com galhos de araucária. Por causa da tempestade de anteontem, um pinheiro caiu sobre a casa vizinha, que pertence à sua família e estava alugada. A construção de madeira ficou praticamente partida ao meio. Além da araucária, outras 24 árvores da rua, do total de 37, foram danificadas pelos ventos fortes – algumas sendo arrancadas.

"A gente ouviu o barulho, à noite, e quando um raio iluminou tudo vimos que o pinheiro tinha caído em cima da casa. Depois ouvimos outros estrondos, quando o peso do pinheiro começou a quebrar a casa", descreve Rosângela, esposa de Binotto. A araucária estava plantada dentro do terreno. Os inquilinos, um casal com dois filhos, salvaram-se porque estavam em uma festa da escola das crianças. Agora, moram com parentes. A prefeitura informa que a Defesa Civil não recebeu pedidos de atendimento a desabrigados.

A Rua Venezuela era a única que estava bloqueada na tarde de ontem, entre as ruas México e Estados Unidos, para o corte de árvores. "Nosso escritório ficou todo alagado porque o vento levou as telhas, e uma árvore que estava na calçada do outro lado da rua caiu e arrancou a grade da casa de minha mãe", afirma Márcia Regina Foggiato.

Tanto Márcia quanto Binotto afirmam que haviam pedido à prefeitura o corte das árvores que caíram sobre a casa de madeira e sobre a grade da casa da mãe de Márcia, mas, segundo eles, a solicitação foi negada. "Deram autorização para cortarmos dois dos três pinheiros, mas para o terceiro disseram que não havia risco. Agora ele está aí, em cima da casa", reclama Rosângela. Segundo a assessoria de imprensa da prefeitura, o pedido foi feito em 1998: uma das árvores cortadas estava inclinada e a outra estava seca, e foi autorizada a poda da terceira. Ainda de acordo com a prefeitura, os proprietários deveriam ter pedido novamente a autorização para corte se percebessem risco, mas não o fizeram. As pessoas que tiveram prejuízos com a queda de árvores que estavam nas calçadas do lado de fora dos terrenos podem entrar com processo administrativo na Secretaria Municipal do Meio Ambiente e pedir indenização.

O secretário municipal de Meio Ambiente, Domingos Caporrino Neto, afirma que as árvores da Rua Venezuela estavam em bom estado. "Foi uma catástrofe da natureza", definiu. Em bom estado ou não, muitas delas foram cortadas desde a base.

Calha voadora

Nos fundos de um mercado da Rua Venezuela, Helmuht Janke mostrou um pedaço de calha com pouco menos de dois metros de comprimento. "Veio voando do prédio amarelo e caiu aqui no varal", disse, mostrando uma construção que fica a cerca de 200 metros do mercado. Um telhado de alumínio foi levado pelo vento e vários produtos de limpeza estocados foram perdidos. Mas a preocupação maior de Jancke era a falta de energia. Assim que acabou a luz, o comerciante acionou os dois geradores pequenos que possui para salvar as carnes congeladas. "De manhã alugamos um gerador maior, mas a essa altura não conseguimos recuperar o sorvete", conta. O aluguel do gerador custa a Janke R$ 500 por dia, mais R$ 60 a cada cinco horas com o combustível.

Segundo a Copel, Janke foi um dos 101 mil consumidores que ficaram sem luz após o temporal – a estimativa é de que 400 mil pessoas em Curitiba e região tenham sido prejudicadas. No fim da tarde de ontem, apenas alguns pontos nos bairros Boa Vista e Bacacheri e no município de Fazenda Rio Grande ainda estavam energia. A assessoria de imprensa da Copel explica que o motivo mais comum da queda de energia é o curto-circuito provocado quando árvores puxam os fios, que acabam se tocando. Para evitar danos maiores, os transformadores próximos se desligam e interrompem o fornecimento.

O abastecimento de água também foi cortado em 15 bairros de São José dos Pinhais e 13 de Piraquara, atingindo 70 mil pessoas – nem todas perceberam o problema por terem água suficiente nas caixas d’água. A causa foi a queda de energia nestes locais. O fornecimento foi normalizado ainda na noite de terça. Em Curitiba, 21 bairros tiveram o abastecimento cortado por causa de uma paralisação na Estação de Tratamento de Água Passaúna, mas a parada havia sido programada e os moradores já haviam sido avisados. Em dez bairros, a água voltou ainda na terça; nos outros 11, ao meio-dia de ontem.

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