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É de lei?

Habilitado, mas com restrições

O empresário Jonathas Stephen Barros Júnior deseja adotar uma criança e ser pai. Há alguns anos, visitou um lar que acolhe meninas portadoras do vírus HIV. Sabendo que é esse grupo o mais desfavorecido na fila da adoção, não teve dúvidas. Sua única exigência é que a futura filha fosse soropositiva e tivesse menos de 4 anos. Em 2007, procurou a 2ª Vara da Infância e da Juventude e Adoção em Curitiba para iniciar o procedimento. A equipe o considerou habilitado para a adoção e a juíza Maria Lúcia de Paula Espíndola deferiu o pedido. Mas a homossexualidade de Jonathas se tornou um obstáculo.

A promotora de Justiça Marília Vieira Figueiredo recorreu da decisão, argumentando que Barros poderia sim adotar, desde que uma criança maior de 12 anos, capaz de dizer se gostaria ou não de se tornar filha de um homossexual. O empresário recorreu da decisão. Ele mora com um companheiro britânico e tem dupla cidadania, mas entrou com o pedido sozinho. "O que está em jogo agora é se eu serei pai de uma menina brasileira ou inglesa. Se não conseguirmos aqui, vamos para a Inglaterra", diz.

Está escrito

Pais gays não causam danos a adotados

Para a psicologia, não existe diferença entre uma criança criada por homossexuais ou heterossexuais.

A professora e pesquisadora da Universidade Federal do Paraná Lídia Weber lembra que desde 1973 a American Psychiatric Association tirou o termo homossexualismo do Código Internacional de Doenças (CID), usado em todo o mundo. Lídia, que é autora de seis livros sobre adoção, entre eles Laços de ternura e O filho por adoção: um manual para a criança, mapeou as pesquisas sobre o tema publicadas nos últimos 13 anos. Cerca de 90% não apontavam nenhuma diferença significativa em relação ao desenvolvimento de crianças e adolescentes criados por homossexuais. "Homossexuais sofrem discriminação em nossa cultura, logo os filhos terão mais impacto com a cultura homofóbica. Mas com a pesquisa fica claro que os estudos científicos realizados não mostram diferença significativa no desenvolvimento social, afetivo ou cognitivo", diz a pesquisadora.

Para promotora da infância, as restrições a homossexuais na hora da adoção são uma forma de proteção à criança. Confira trechos da conversa com a Gazeta do Povo.

Por que estabelecer um critério de 12 anos para adoção por homossexuais?

Toda criança que tiver 12 anos deve ser ouvida nos casos de adoção. O Estatuto da Criança e do Adolescente considera que, com essa idade, há maior discernimento sobre a situação que está sendo colocada. Por que entendo que a adoção homoafetiva deve ter esse limite de idade? Porque eu tenho uma regra, que é a família heterossexual descrita pela Constituição Federal. É a definição legal de fa­­mília. Há doutrinas querendo outro conceito? Sim, mas a lei ainda é a mesma. Eu estou sim aceitando que existe outro tipo de união, mas ainda assim tenho uma regra e uma exceção. A partir disso que expus, vou pe­gar um ser humano, inseri-lo em uma família, aceitando sua inclusão em um casal homoafetivo. Mas como vou colocar nessa situação uma criança que já sofrerá discriminação por ser adotiva? Como vou inseri-la em uma família homoafetiva que também sofre preconceito? Não podemos negar que isso existe. E essa criança vai fazer parte dessa luta? Eu vou dizer isso a ela? Não vou dizer. Mas se ela concordar, vou concordar também.

Alguns juristas argumentam que ouvir a opinião das crianças é inconstitucional. Além disso, diz-se que essa lógica deveria ser aplicada a todos os casos, como uma adoção por negros, por exemplo, que também sofrem preconceito. Qual sua opinião?

Não há comparação com um casal negro. O tipo de preconceito que eles sofrem é diferente do sentido pelos homossexuais quando o assunto é paternidade e maternidade. Não são iguais a uma família heterossexual. Isso que gera situações que fazem com que a criança tenha um tratamento na sociedade que ela não teria em uma união heterossexual. Se a criança tiver uma certidão de nascimento com o campo do nome dos pais preenchidos com João e Antônio, a discriminação já começará aí. Ela terá de se preparar para esse dia a dia. Se ela disser que sim, tudo bem. Uma criança que é adotada por um casal homoafetivo vai ter de dizer porque tem dois pais. Não é um prejuízo, mas um ônus.

Há quem argumente que o seu parecer pode fundamentar a ideia de preconceito. O que a senhora acha sobre isso?

Não vejo isso como preconceito porque aceito que casais homoafetivos adotem. Onde está o preconceito? Se não aceitasse, isso até poderia ser colocado em pauta. Aceito desde que eles consideram o outro não como objeto de desejo, mas como sujeito de direitos, assim como eles. É uma decisão técnica com base na Con­venção de Haia, Constituição, ECA e Código Civil. Se eu não aceitasse este tipo de adoção, não aceitaria nem a habilitação dos homossexuais.

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