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Doutor Carl June, líder do estudo: resultados assombraram até mesmo a ele e seus colegas | Jessica Kourkounis/The New York Times
Doutor Carl June, líder do estudo: resultados assombraram até mesmo a ele e seus colegas| Foto: Jessica Kourkounis/The New York Times

Esperança

Tratamento teve três casos bem-sucedidos

Dois outros pacientes estiveram sob o mesmo tratamento experimental. Um teve remissão parcial, e o outro, completa. Tanto eles quanto William Ludwig tinham leucemia linfoide avançada e já não apresentavam mais opções para quimioterapia. Normalmente, a única esperança para uma remissão da doença, nesses casos, é um transplante de medula, mas esses pacientes não eram candidatos a um.

O doutor Carl June, que liderou as pesquisas e é o diretor para medicina translacional no Centro de Câncer Abramson da Universidade da Pensilvânia, diz que os resultados assombraram até mesmo a ele e seus colegas David L.Porter, Bruce Levine e Michael Kalos. Eles esperavam obter algum benefício, mas não haviam ousado sonhar com remissões completas e prolongadas. Outros especialistas da área dizem que os resultados foram um avanço importantíssimo. ‘’É um excelente trabalho’’, disse o Dr. Walter J. Urba, do Centro de Câncer Providence e do Instituto de Pesquisas Earle A. Chiles em Portland, Oregon. Ele descreveu a recuperação dos pacientes como extraordinária, empolgante e significativa. ""Sinto-me muito positivo em relação a essa nova tecnologia. Conceitualmente, a coisa é grande, muito grande"."

Detalhes

Experimento inclui diversos passos

Para fazer com que as células T procurem e destruam as células cancerígenas, os pesquisadores devem equipá-las para realizar diversas tarefas: reconhecer o câncer, atacá-lo, multiplicarem-se e persistirem dentro do paciente. Muitos grupos de pesquisa têm tentado realizar tudo isso, mas as células T projetadas por eles não eram capazes de realizar todas as tarefas.

A equipe da Universidade da Pensilvânia parece ter acertado em todos os alvos. Dentro dos pacientes, as células T modificadas pelos pesquisadores multiplicaram-se entre mil e 10 mil vezes, limparam o câncer e depois diminuíram gradualmente, deixando uma população de células de "memória".

Os pesquisadores dizem não ter certeza sobre quais partes de sua estratégia fizeram a experiência funcionar – técnicas especiais de culturas celulares, o uso do HIV-1 como condutor para os novos genes para as células T, ou os pedaços de DNA em particular, que eles selecionaram para reprogramar essas células T.

Para administrar o tratamento, os pesquisadores coletaram o máximo possível de células T do paciente, passando seu sangue por uma máquina que removia os linfócitos e retornava os outros componentes do sangue. As células T eram então expostas ao vetor, que as transformava geneticamente, e congeladas. Nesse meio tempo, o paciente era submetido à quimioterapia para exaurir quaisquer células T remanescentes, porque essas células T nativas poderiam impedir o crescimento das alteradas. Finalmente, as células T modificadas eram inseridas de volta nos pacientes.

Um ano atrás, quando a quimioterapia parou de funcionar contra sua leucemia, William Ludwig se inscreveu para ser o primeiro paciente a ser tratado em um corajoso experimento na Universidade da Pensilvânia. Ludwig, então com 65 anos, agente penitenciário aposentado de Bridgeton, Nova Jersey, sentia que sua vida estava se acabando e imaginou que não tinha nada a perder.

Os médicos removeram 1 bilhão de suas células T (ou linfócitos T) – um tipo de glóbulo branco que combate vírus e tumores – e as proveram com novos genes, que iriam programar as células para atacar o câncer. Então, as células alteradas foram novamente inseridas nas veias de Ludwig.

No começo, nada aconteceu. Mas, depois de dez dias, as portas do inferno foram abertas em seu quarto de hospital. Ele começou a tremer, com calafrios. Sua temperatura aumentou. Sua pressão sanguínea baixou. Ele ficou tão doente que os médicos o moveram para a UTI e o avisaram de que poderia morrer. Sua família se reuniu no hospital, temendo o pior.

Algumas semanas mais tarde, não havia mais febre. E também não existia mais a leucemia. Um ano depois, Ludwig não voltou a apresentar os sintomas da doença: joga golfe e trabalha no jardim. ‘’Ganhei a minha vida de volta’’, diz.

Os médicos de Ludwig ainda não afirmaram que ele esteja curado – é cedo demais para dizer isso – nem declararam vitória contra a leucemia com base nesse experimento, que envolveu apenas três pacientes. As pesquisas, dizem eles, ainda têm um longo caminho pela frente e o tratamento ainda está em fase experimental, não estando disponível fora dos estudos.

Mas os cientistas dizem que o tratamento que ajudou Ludwig, descrito recentemente na revista New England Journal of Medicine and Science Translational Me­­dicine, pode significar o ponto de virada na longa luta para desenvolver terapias genéticas efetivas contra o câncer. E não apenas para os pacientes de leucemia: outros cânceres também podem ser vulneráveis a essa nova abordagem – que emprega uma forma desabilitada do HIV-1, o vírus causador da Aids, para levar os genes anticâncer até as células T dos pacientes.

Em essência, a equipe está usando a terapia genética para realizar algo que os pesquisadores têm esperado conseguir du­rante décadas: treinar o próprio sistema imunológico da pessoa para matar as células cancerígenas.

Mulher morre após reação a procedimento

Mesmo sendo promissoras, as novas técnicas desenvolvidas pelos pesquisadores da Univer­­sidade da Pensilvânia não livram os pacientes de outros perigos. As células T projetadas atacaram tecidos saudáveis em pacientes de outros centros. Uma reação como essa matou uma mulher de 39 anos de idade que tinha um caso avançado de câncer colorretal, em um estudo no Instituto Nacional do Câncer americano, conforme relatado pelos pesquisadores do instituto no periódico Molecular Therapy, no ano passado.

Pesquisadores do Centro de Câncer Memorial Sloan-Kettering em Nova York também reportaram uma morte no ano passado, ocorrida em um experimento com células T para combate à leucemia (também publicado no Molecular Therapy). A autópsia descobriu que o paciente aparentemente havia morrido em decorrência de uma septicemia – e não por causa das células T – mas, pelo fato de ter morrido apenas alguns dias depois da infusão, os pesquisadores disseram que consideraram o tratamento como sendo um fator possível para o falecimento.

Carl June, líder do estudo, diz que sua equipe espera usar as células T para combater tumores sólidos, incluindo alguns de tratamento muito difícil, como o mesotelioma e os cânceres de ovário e pâncreas. Mas ele diz que os possíveis efeitos colaterais são uma preocupação real, observando que uma das proteínas-alvo do tratamento nas células dos tumores também é encontrada nas membranas que forram o tórax e o abdômen. Os ataques das células T poderiam causar inflamações sérias nessas membranas e imitar o lúpus, que é uma séria doença autoimune.

Mesmo que as células T não atinjam alvos inocentes, ainda assim existem riscos. As proteínas liberadas por elas poderiam causar uma "tempestade de citocina", – febres altas, inchaços, inflamações e pressão sanguínea perigosamente baixa – potencialmente fatal. Ou, como o tratamento rapidamente mata bilhões de células cancerígenas, os "destro­­ços" remanescentes poderiam danificar os rins e causar outros problemas.

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