• Carregando...

As declarações da atriz e coordenadora da Escola Sul-Americana de Cinema e Televisão, Íttala Nandi, de que o Paraná é um estado fascista e que os jovens daqui são deprimidos por conta da vinda de colonos alemães, italianos e poloneses ("os povos mais repressores do mundo", segundo ela), repercutiram durante toda a semana. Desde que a entrevista à Gazeta do Povo foi publicada, na última terça-feira, foram enviadas 32 cartas à Coluna do Leitor, 17 das quais publicadas.

Ítalla, que mesmo sendo funcionária do governo do Paraná está no Rio de Janeiro para gravação de novelas, disse que para "ficar morando em Curitiba, quando se tem casa no Rio, é preciso ter muito amor ao que se está fazendo". Mas afinal, o povo curitibano é mesmo tão mal-humorado quanto falam, ao ponto de ser taxado de fascista?

Para o produtor teatral João Luiz Fiani, não. Há 28 anos, Fiani vive de fazer o povo rir em comédias no estado. Tanto que se espanta ao ouvir que o paranaense é deprimido. "Se fosse assim, eu estaria perdido. Os teatros estão sempre lotados. Você sabe por que Curitiba é chamada de Cidade Sorriso? Porque o curitibano tem vergonha de rir, mostrar os dentes. É tímido. Mas, é só isso."

O jornalista Luiz Geraldo Mazza, membro da Academia Paranaense de Letras e com 55 anos de profissão, lembrado muitas vezes por seu conhecimento do cotidiano curitibano, acredita que qualquer tentativa para definir o paranaense é arriscada, ainda mais quando escolhem um termo pesado como 'fascista'. "Culturalmente temos uma permeabilidade à tolerância, centrada em nossa diversidade étnica. Não há nada mais democrático do que a expansão da cultura."

Muitas vezes a personalidade fechada do parananese se confunde com esta herança étnica. Como diz o sociólogo português José Vicente Miranda (paranaense desde 1977), da Universidade Federal do Paraná (UFPR), este temperamento é só uma característica. "Nunca enfrentei nenhum problema de rejeição. À medida que o tempo passa, o povo muda e já não há tanta desconfiança. Posso dizer que hoje há alegria e amizade. A base da convivência com o paranaense é a confiança."

Os fatos históricos também ajudaram a desenhar o jeito paranaense de ser. A colonização dos imigrantes alemães, poloneses, ucranianos, italianos formou uma miscigenação cultural e democrática. "É motivo de grande espanto esta convivência pacífica. Estes povos vieram para o Brasil fugindo de regimes autoritários e de conflitos étnicos e ficamos com o que eles nos deixaram de melhor. Tanto é assim, que muitos paranaenses lutaram contra o fascismo italiano", analisa o professor de História do Centro Universitário Curitiba Renato Carneiro Júnior. Carioca radicado no Paraná há 30 anos, Carneiro vê como grande qualidade do povo daqui a organização.

O ator global e curitibano da gema Luís Mello, que administra na capital paranaense o Ateliê de Criação Teatral (ACT), só leva para outros estados o que Curitiba tem de melhor na arte. "Acredito na arte. Faço com orgulho e tenho por convicção que o melhor cartão de visitas de um artista é o seu próprio trabalho."

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]