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Os amigos Guilherme e Édson: vítimas de uma violência sem explicação | Arquivo da família
Os amigos Guilherme e Édson: vítimas de uma violência sem explicação| Foto: Arquivo da família

Motivo banal

Vítimas foram mortas porque riram de rapaz bêbado

Uma testemunha que prestou depoimento na Delegacia de Homicídios afirmou que a discussão começou por uma razão totalmente banal. Édson Oliveira, Guilherme dos Santos e outros amigos teriam dado risada de um homem que saiu carregado do Bar Celebrare por estar bêbado. Ele seria amigo do autor dos disparos, que se ofendeu com o fato e iniciou a briga do lado de fora do estabelecimento.

"Foi por um motivo bobo. Um grupo riu, o outro perguntou o que eles estavam olhando e aí começou uma discussão, que chegou às vias de fato, com socos. Depois, o autor dos disparos saiu do local e voltou armado", diz a delegada Aline Manzatto. Em certo momento, um dos rapazes baleados chegou a entrar no bar para fugir dos disparos. A polícia pediu ao dono do bar imagens da câmera de segurança externa do estabelecimento e deve analisá-las em breve, em busca de novas informações.

Com os tiros disparados na madrugada de sábado em frente do Bar Celebrare, no bairro Batel, em Curitiba, as Forças Armadas perderam um soldado e, o futebol, a chance de revelar um talento. Édson Luiz de Oliveira, o primeiro a morrer, tinha o sonho de servir o Exér­­cito. Ao completar 18 anos em março, comunicou aos pais que iria correr atrás do antigo desejo. No dia 26 de setembro, ele se apresentaria oficialmente ao quartel no bairro Bacacheri. Outro sonho era tirar a carteira de motorista. Faltavam apenas algumas aulas práticas antes da prova no Detran. Édson ganhara o curso de presente de aniversário do pai, Nilton, ao completar a maioridade. Os dois trabalhavam juntos na mesma empresa e, após o expediente, o filho ajudava o pai a pintar a casa da família, em Campo Largo, região metropolitana de Curitiba. "Ele era um filho excelente. Até agora não entendo por que fizeram isso", diz Nilton.

Torcedor fanático do Co­­ritiba, Édson acompanhava o time em quase todos os jogos. Na última quarta-feira, esteve na Vila Belmiro onde viu o Coxa vencer o Santos por 3 a 2 pelo Campeonato Brasileiro. Na terça-feira, dormiu na casa da irmã Morgana, em Pinhais, e na quarta levantou bem cedo para viajar. Foi a última vez que se viram. "Ele era o nosso bebê, o caçula. Gostava muito de sair, se divertir, como qualquer jovem. Não era um bandido", diz ela.

Por ironia da vida, há seis meses a família resolveu deixar o bairro onde moravam em Pinhais, considerado muito violento, e se mudar para Campo Largo. Pouco depois, o filho viria a morrer em um dos bairros mais nobres de Curitiba. Evangélica, a mãe, Nádia, quer justiça. "A prisão dessa pessoa que atirou no meu filho não vai fazer ele voltar, mas oro para que isso não fique assim."

Promessa

Estudante do 2.º ano do Ensino Médio, Guilherme Henrique dos Santos,16 anos, morreu a caminho do hospital. Era torcedor do Atlético e jogava há quatro anos em uma escolinha de futebol perto do Conjunto Atuba, em Pinhais, onde morava com os avós. O futebol era sua grande paixão e ele sonhava em seguir a carreira nos gramados e fazer faculdade.

Os rapazes eram grandes amigos. A irmã mais velha de Édson, Andressa, era tia de Guilherme. Os dois se viam quase todos os fins de semana. A mãe de Guilherme, Jesiele, chora ao falar do filho. Como mora no Rio de Janeiro, ela recebeu a notícia por telefone. "Não consegui vir de avião e tive de viajar de ônibus. Foram 13 horas de angústia, as mais dificeis da minha vida." Ela conta que o filho nunca saía sozinho e que o pai abriu uma exceção naquele dia porque era a despedida de um colega do filho. "Quando saiu [do bar], ele deu um toque no celular do pai, que iria buscá-lo. Quando o pai chegou lá, viu aquilo."

Jesiele ainda não consegue entrar no quarto do filho, com quem falava todos os dias por telefone. "Sei que muita gente vai ler os jornais e pensar que eram apenas dois bandidos. Mas eles não eram. Tinham família, estudavam e trabalhavam, tinham mãe e pai. E nós esperamos que a Justiça seja feita."

Polícia identifica três envolvidos em tiroteio

Três homens suspeitos de envolvimento no tiroteio em frente ao Bar Celebrare, que terminou com duas mortes e quatro pessoas feridas, na madrugada de sábado, já foram reconhecidos por testemunhas. De acordo com a Delegacia de Homicídios, que investiga o caso, testemunhas identificaram, por meio de fotos, o homem responsável pelos disparos e outros dois que se envolveram ativamente na briga.

De acordo com a delegada Aline Manzatto, já há 100% de certeza em relação ao envolvimento dos dois homens, e 85% de certeza em relação ao autor dos disparos, mas as testemunhas solicitaram que o reconhecimento seja feito pessoalmente para afastar qualquer dúvida. Somente após isso, segundo ela, será possível pedir a prisão preventiva dos suspeitos à Justiça. "Não pedimos [a prisão preventiva] porque eles estão colaborando e já foram intimados a vir até a delegacia para que seja feito o reconhecimento pessoalmente."

A delegada informou que a polícia chegou até o suposto autor dos disparos após o suspeito deixar cair o documento de identidade na frente do bar. A prisão em flagrante, no entanto, não pôde ser feita, pois quando os policiais chegaram à casa do rapaz, ele havia desaparecido.

O reconhecimento, assim como a coleta dos depoimentos de suspeitos e vítimas, deve ocorrer na quarta-feira pela manhã. Até ontem, todos os feridos já haviam sido ouvidos informalmente no hospital. Um deles, liberado no final de semana, também já prestou depoimento na delegacia. Uma jovem que teve alta do hospital ontem pela manhã será ouvida na delegacia até quarta-feira. Dois jovens ainda permaneciam internados até ontem à noite.

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