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Juizado Especial de Curitiba: sessões noturnas já marcadas estão mantidas. No entanto, advogados não conseguem marcar novas sessões | Priscila Forone/Gazeta do Povo
Juizado Especial de Curitiba: sessões noturnas já marcadas estão mantidas. No entanto, advogados não conseguem marcar novas sessões| Foto: Priscila Forone/Gazeta do Povo

População de baixa renda poderia ser prejudicada

O Tribunal de Justiça não soube informar ontem o número total de audiências que estão marcadas após as 17 horas para este mês, mas muitas das quase 100 audiências por dia – entre pequenas desavenças e problemas de consumidores – ocorrem no período noturno.

Em média, acontece uma audiência em juizado especial a cada 20 minutos no Paraná. Alguns casos de conciliação, quando não há acordo entre as partes, chegam a durar 8 meses, mas o normal é de 30 a 60 dias.

Os juizados especiais estaduais julgam ações de baixo valor e crimes considerados de pequeno potencial ofensivo. Todas as comarcas do Paraná possuem pelo menos um juizado cível e outro criminal. Eles foram criados para acelerar a atividade judicial nas pequenas causas.

Os juizados atendem ações que envolvem até 40 salários mínimos. As que têm valores inferiores a 20 salários não necessitam de advogados. Por isso o presidente do sindicato, Roberto Pereira, diz acreditar que muitas pessoas que são atendidas nesses juizados poderão ser prejudicadas se não houver mais as audiências noturnas. "Se tiver que remarcar tudo, pode ser que quem entra com um pedido agora só consiga horário para o ano que vem. Isso vai atrasar muito. Assim o juizado acaba deixando de cumprir sua proposta inicial, que era facilitar o acesso à Justiça para toda população e ter tribunais informais", explica.

O Tribunal de Justiça do Paraná (TJ) determinou o cancelamento do adicional por serviço noturno para todos os funcionários dos juizados especiais. O corte na verba, que vale desde 1º de janeiro, põe em risco o calendário de audiências em todo o estado. Até o ano passado, os funcionários administrativos recebiam um adicional de R$ 450 por mês e os secretários, R$ 900. No dia 5 de janeiro, todas as comarcas foram avisadas sobre a decisão do atual presidente do TJ que em assembleia optou por cancelar esse adicional para reduzir gastos.

No total, são 186 comarcas em todo o estado. Em cada uma delas, dois funcionários recebem a gratificação menor e um ganha a maior. Por mês, o gasto com adicionais chega a R$ 334,8 mil. Para evitar transtornos para a população, a ideia dos funcionários é manter as sessões noturnas mesmo sem o pagamento do valor extra. A intenção seria convencer o novo presidente do TJ, Carlos Hoffman, que assume em fevereiro, a revogar a decisão.

Um assessor do tribunal, diz que está sendo feito um esforço para que as audiências não sejam canceladas. "Só hoje fizemos 40 ligações para juízes e eles nos disseram que manterão as audiências que já foram marcadas após as 17 horas, pelo menos até o dia 1º de fevereiro, quando assume a nova gestão no tribunal", explica. Porém, no juizado especial de Curitiba, os advogados não conseguem marcar novas audiências noturnas.

Se a nova gestão do tribunal decidir revogar o corte do benefício, os funcionários vão receber a gratificação retroativa desde o primeiro dia do mês de janeiro.

Segundo o presidente do Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário do Estado do Paraná, José Roberto Pereira, desde que os juizados especiais foram criados, em 1989, o atendimento acontece até 21 horas. "Não são funcionários contratados especificamente para esse horário. Como eles tinham de dobrar a carga horária, recebiam o adicional noturno de 30%. No ano passado, esse valor já tinha sido reduzido para o máximo de R$ 450", explica.

Pereira diz acreditar que nas cidades do interior o problema será maior, porque os juizados especiais não têm infraestrutura, equipamentos e funcionários suficientes. "Quem trabalha o dia todo não tem como deixar o local de trabalho para ir às audiências. Só resta ir à noite. Geralmente são pessoas com baixa renda que não têm como contratar um advogado. Essa medida só dificulta o acesso à Justiça", comenta.

Os funcionários afirmam que, por enquanto, não há qualquer manifestação de intenção de greve. Mas Pereira diz que o sindicato não aceita a proposta de manter as audiências noturnas até fevereiro sem que o pagamento do adicional seja feito. "Os funcionários foram orientados a não trabalhar sem receber", diz.

A reportagem tentou entrar em contato com o atual presidente do TJ, desembargador José Antônio Vidal Coelho, mas não conseguiu encontrá-lo. Vários representantes da nova gestão do tribunal para comentar o assunto, incluindo o presidente eleito, Carlos Hoffman, também foram procurados pela Gazeta do Povo, mas sem sucesso.

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