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Kimberly trabalha para evitar futuros atos de genocídio como os cometidos no passado | André Rodrigues/Gazeta do Povo
Kimberly trabalha para evitar futuros atos de genocídio como os cometidos no passado| Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo

Intolerância

Regime nazista pregava a "purificação" da raça alemã

A Alemanha nazista de Adolf Hitler, imersa na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), ampliou a perseguição aos judeus a partir de 1941. No entanto, em 1935, dois anos após o partido nazista assumir o poder, começaram os afastamentos e proibições de certos trabalhos aos judeus. Era a "purificação" nazista do Estado alemão.

Em 1938, período em que Hitler anexou a Áustria à Alemanha, judeus foram proibidos de frequentar bibliotecas públicas. Em 9 de novembro ocorreu a Noite dos Cristais, com ataques generalizados contra judeus e sinagogas.

No ano seguinte, a invasão do exército alemão à Polônia sacramentou o início da Segunda Guerra Mundial. A partir daí, o holocausto ganhou novas proporções. As casas dos judeus passaram a ser confiscadas e alguns deles foram obrigados a desempenhar trabalho forçado aos alemães.

Entre 1941 e 1942, o plano nazista de exterminar todos os judeus europeus começou a ser praticado. Câmaras de gás, fabricadas pelos próprios judeus, foram utilizadas. A perseguição espalhou-se por toda a Europa ocupada pelos nazistas e envolveu fuzilamentos em massa e campos de concentração e extermínio, que eram a base da "purificação da raça alemã" idealizada pelo ditador Hitler.

Somente em 1945, quando as tropas da União Soviética, aliadas ao Reino Unido, Estados Unidos e França, invadiram o campo de concentração de Auschwitz, no sul da Polônia, é que o holocausto teve seu fim anunciado.

Memória

Diário de Petr Ginz relata horrores de campo de Auschwitz

Petr Ginz nasceu em Praga, atual capital da República Tcheca, em 1928. Ele é o autor do último grande diário sobre o holocausto. O Diário de Praga – 1941-1942 narra uma Tchecoslováquia ocupada pelos nazistas e descreve como se dava a perseguição aos judeus.

Quando ia viajar para o espaço na nave Columbia, em 2003, o astronauta judeu Ilan Ramon levou consigo um desenho feito por Ginz aos 14 anos, que mostrava a paisagem da Terra vista a partir da lua.

No diário há fragmentos de romances, contos, desenhos e poemas. O livro relata também o desaparecimento de amigos e parentes judeus.

  • Programa da ONU aposta na educação para criar uma sociedade mais tolerante

Um dos piores massacres da humanidade, que resultou no assassinato de aproximadamente 6 milhões de pessoas, não pode cair no esquecimento. Para Kimberly Mann, diretora do Programa de Holocausto da Organização das Nações Unidas (ONU) desde 2006, o holocausto – termo usado para descrever a tentativa de extermínio dos judeus na Europa nazista – ainda traz muitas lições ao mundo.

Segundo ela, uma democracia fragilizada impacta diretamente no desrespeito aos direitos humanos. O preconceito, o ódio e a falta de liberdade podem ganhar espaço e provocar tragédias inimagináveis. "Quando não há democracia todo mundo sai perdendo", afirma Kimberly, que esteve nesta semana em Curitiba, onde proferiu palestras sobre o holocausto para a comunidade judaica.

Kimberly vê na educação uma das únicas armas para que a sociedade seja mais tolerante. É exatamente nisso que o programa da ONU trabalha.

Como surgiu e qual o objetivo do programa de Holocausto das Na­ções Unidas?

O programa foi adotado por uma resolução aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2005. A ideia é manter a lembrança das vítimas do holocausto e proporcionar o ensino para os jovens para evitarmos futuros atos de genocídio.

Há um material educa­ti­vo preparado pelo pro­grama?

Produzimos materiais didáticos para todos os níveis. Para os mais jovens temos um DVD, com um documentário que conta a história através de um sapato de criança que encontraram em Auschwitz. Para os alunos maiores, com mais de 13 anos, produzimos um DVD sobre a vida de Petr Ginz, um jovem que passou dois anos em campo concentração e morreu em Auschwitz. Tudo o que produzimos foi em seis idiomas: francês, árabe, chinês, inglês, espanhol e russo.

E teremos um material em português?

Em breve, espero que sim. Produzimos agora mesmo uma guia em português para uma conferência que houve em São Paulo. Temos outro guia sobre o holocausto que aborda como os crimes aconteceram com as mulheres. Para universitários e professores, temos um jornal com artigos escrito por educadores, pesquisadores e historiadores.

Por que a necessidade de manter a memória sobre o holocausto viva?

Para os alunos parece que é mais uma história. Temos que fazer compreender que é uma questão de direitos humanos, de combate à discriminação e ao preconceito. É uma questão de respeitar um ao outro.

Como evitar novos crimes de exterminação em massa?

A única maneira de prevenir e de impedir isso é através da educação. Os jovens têm que aprender o que aconteceu no passado. O perigo que é isso. O que é a consequência do ódio e do preconceito. Os jovens têm que aprender e compreender que devem celebrar a diferença em vez de ter medo das diferenças. Isso deve ser feito na escola, na igreja, nos templos, nas sinagogas e em casa.

Como a senhora avalia as novas práticas que tentam resgatar o nazismo? Por que surgem esse grupos?

Realmente não sei. Sei que devemos ficar vigilantes e educá-los. Através de programas como esse, procuramos fazer trabalhos junto a organizações não governamentais (ONGs) e atrair grupos que se envolveram com o holocausto, como, por exemplo, a Justiça. Um dos que já organizei abordou o impacto das leis internacionais após o holocausto, como o Tribunal de Nuremberg. Também discutimos a responsabilidade do governo de proteger os cidadãos em vez de persegui-los.

Há sempre novos fatos a serem descobertos sobre o holocausto?

Incrível como sempre se tem coisa a descobrir. São histórias de coragem. Eu não posso imaginar como eles sobreviveram naquelas condições. É uma vontade de viver e de continuar. E não apenas sobreviveram, mas tiveram sucesso na vida e constituíram família. Era a intenção dos nazistas de matar e terminar com um povo, ferindo toda a cultura judaica. Fico contente em saber que eles não venceram e que ainda existe essa cultura muita rica.

Quais as lições que a hu­­manidade pode tirar do holocausto?

Muitas. As consequências do ódio e do preconceito e o perigo da intolerância. Também sobre a importância da democracia. Quando há um fracasso na democracia, todo mundo sofre, inclusive os direitos humanos. Hitler foi um ditador e com isso todas as pessoas, não somente os judeus, perderam os seus direitos.

O mundo está melhorando na questão dos direitos humanos?

Acredito que sim. Temos organizações como a ONU, a Declaração Universal dos Direitos Humanos. A própria ONU foi fundada depois dessa tragédia [em 1945], principalmente para proteger os direitos humanos. As ONGs são mais ativas e nas escolas todo mundo compreende que tem que defender os direitos humanos. Todos têm direito à liberdade de crença. Todos têm direito à vida.

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