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A instauração de um inquérito policial militar (IPM) e o afastamento do comandante do 20.º Batalhão de Infantaria Blindado (20º BIB), de Curitiba, tenente-coronel Ernani Lunardi Filho, foram determinados, ontem, pelo Comando do Exército e Ministério da Defesa, em Brasília. As medidas são reflexos da repercussão causada pelas imagens apresentadas, no domingo passado, pelo programa Fantástico, da Rede Globo. As cenas, que chocam, mostram os maus-tratos aplicados a sargentos do 20.º BIB. Militares veteranos submetem os "lobinhos", como são chamados, a choques elétricos, golpes com chinelos e sessões de afogamento.

Ao ser informado das providências tomadas pelo general Francisco Roberto de Albuquerque, o ministro da Defesa, José Alencar, afirmou que as medidas fazem parte de uma "apuração completa dos fatos". Os 12 sargentos que aparecem nas imagens também foram afastados de suas funções no 20.º BIB e apenas cumprem horário de expediente.

Lunardi fica afastado até o fim do inquérito, assumindo, temporariamente, o cargo o subtenente Luiz Carlos de Oliveira Barreira. "O tenente-coronel não tinha conhecimento dos fatos. Essa foi uma atitude isolada, inadmissível e inaceitável. Ficamos envergonhados, indignados e revoltados com as imagens", relata o major Carlos Augusto Sydrião, da 5.ª Região Militar/Divisão de Exército (5ª RM/DE).

Sob responsabilidade do tenente-coronel Ilton Barbosa, da 5.ª Brigada de Cavalaria Blindada, o inquérito deve ser encerrado em 40 dias, podendo ser prorrogado o prazo por mais 20 dias. "O procedimento será totalmente transparente e pretendemos apresentá-lo o mais breve possível", diz Sydrião. Ele explica que a sindicância, iniciada na última sexta-feira, foi transformada em IPM devido à comprovação do crime com relação às imagens.

Todos os envolvidos e testemunhas serão ouvidos e as circunstâncias em que ocorreram os fatos e laudos de lesões corporais serão analisados. O inquérito será acompanhado pelo Ministério Público Militar e pela Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil e julgado pela Justiça Militar. Dependendo do veridito, os envolvidos podem ser excluídos do serviço militar.

Agressores

Nas imagens apresentadas pelo Fantástico, são identificados como agressores os sargentos Rafael Rosetti, Deyvison Chelis, Maurício Schiavon Ramos, Sérgio Ferraz e um outro militar identificado apenas como Medeiros. As vítimas são os terceiros-sargentos Marcos José Pacheco, Edvaldo Rodrigues da Silva, Giovani Moscatelli, Marcelo Salles Corrêa e um quinto homem chamado Murilo.

Procurados pela Gazeta do Povo, Schiavon, Salles, Moscatelli e outros sargentos garantiram conceder entrevista hoje, depois de conversarem com advogados. As supostas vítimas adiantaram que tudo não passava de uma brincadeira e afirmam que o relacionamento com os outros militares é tranqüilo e amigável. "Parecia uma brincadeira, porque as pessoas estavam rindo. Mas aquilo poderia acarretar em uma seqüela maior ou até morte", acredita o especialista em segurança e crimes eletrônicos, Wanderson Moreira Castilho, que analisou as imagens.

Algumas imagens teriam sido gravadas durante o trote aplicado por veteranos em novos sargentos, em 25 de agosto, Dia do Soldado, data em que, geralmente, poucos militares encontram-se no 20.º BIB. No entanto, de acordo com Castilho, os cerca de 20 arquivos de vídeo (menos de oito minutos de imagem) e as fotos digitais também datam dos meses de janeiro, agosto e setembro e foram registrados em horários diferentes.

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