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Exercícios

Caminhada estimula o cérebro

Da Redação

Um estudo recente da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, concluiu que caminhar pelo menos 9 km por semana pode ajudar a prevenir a perda de volume cerebral e, consequentemente, a preservar a memória dos efeitos do envelhecimento. Foram avaliadas 300 pessoas idosas inicialmente livres de demência. Os pesquisadores notaram que aqueles que andavam entre nove e 14 km por semana apresentavam, após nove anos de acompanhamento, maior volume cerebral do que aqueles que não caminhavam tanto.

O aumento de massa encefálica foi comprovado por meio de análises dos exames de imagem do cérebro dos participantes. Os que caminhavam cerca de 72 quarteirões grandes (entre nove e 14 km) por semana apresentaram maiores volumes de "massa cinzenta" em diversas regiões do cérebro, incluindo nas áreas frontal e occipital, no córtex entorinal e, principalmente, no hipocampo – área intimamente associada à memória. Entretanto, caminhar mais do que 15 km por semana pareceu não ter benefícios adicionais na prevenção de problemas cognitivos.

"O tamanho do cérebro diminui na vida adulta tardia, o que pode causar problemas de memória", escreveu o pesquisador Kirk Erickson em artigo publicado na revista científica Neurology. "Nossos resultados deveriam encorajar testes bem desenhados de exercícios físicos em adultos mais velhos como uma abordagem promissora para prevenir demência e doença de Alzheimer", avaliou.

Dados dos Estados Unidos, Inglaterra e outros 11 países europeus sugerem que quanto mais cedo uma pessoa se aposenta, mais rapidamente sua memória entra em declínio. A implicação, segundo os economistas e outros pesquisadores, é que realmente parece haver algum sentido na noção de "use ou perca" – se as pessoas querem preservar suas habilidades de memória e raciocínio, elas precisam se manter ativas. "Isso é incrivelmente interessante e instigante", diz Laura L. Carstensen, di­­retora do Centro de Longe­­vi­­da­­de da Universidade de Stanford. "A ideia sugere que o trabalho realmente proporciona um importante componente do ambiente que mantém as pessoas funcionando da melhor forma."

Embora nem todos estejam convencidos pela nova análise, publicada recentemente no The Journal of Economic Perspectives, seu argumento tem intrigado pesquisadores do comportamento. Diversos especialistas afirmam que o estudo é, no mínimo, uma pequena e irresistível evidência para uma hipótese na qual muitos acreditam – mas que é surpreendentemente difícil de demonstrar. Pesqui­­sadores descobrem repetidamente que as pessoas aposentadas, enquanto grupo, tendem a obter piores desempenhos em testes cognitivos do que pessoas que ainda trabalham. Porém, isso pode ocorrer porque as pessoas cujas habilidades de memória e raciocínio entram em declínio teriam maiores chances de se aposentar do que as outras.

E as pesquisas não conseguiram sustentar a premissa de que dominar coisas como exercícios de memória, palavras-cruzadas e jogos como o Sudoku teria algum efeito na vida real, aprimorando seu funcionamento como um todo. "Ao fazer palavras-cruzadas, você fica melhor em palavras-cruzadas", diz Lisa Berk­man, diretora do Centro para Estudos de População e De­­senvolvimento de Harvard. "Se você resolve o Su­­doku, você fica melhor em Su­­doku. Você fica mais hábil numa tarefa limitada. Mas isso não se traduz num comportamento cognitivo aprimorado em sua vida."

Segundo explica um dos autores, Robert Willis, professor de economia na Universidade de Michigan, o estudo foi possível porque o Instituto Nacional do Envelhecimento iniciou um grande estudo nos Estados Unidos há quase 20 anos. Chamado de Estudo de Saúde e Aposentadoria, ele entrevista mais de 22 mil americanos acima dos 50 anos a cada dois anos, administrando testes de memória. Isso levou países europeus a iniciar suas próprias pesquisas, usando perguntas similares de forma que os dados pudessem ser comparados entre países. Agora, disse Willis, Japão e Coreia do Sul começaram a aplicar a pesquisa em suas populações. A China pretende começar no próximo ano. A Índia e diversos países da América Latina já estão iniciando trabalhos preliminares de pesquisas próprias. "Essa é uma nova abordagem que só é possível graças ao desenvolvimento de conjuntos de dados comparáveis em todo o mundo", afirmou Willis.

O teste de memória examina o grau em que as pessoas conseguem se lembrar de uma lista com dez nomes, imediatamente e dez minutos depois de ouvi-los. A nota perfeita é 20, significando que os dez nomes foram lembrados nas duas ocasiões. Esses testes foram escolhidos para as pesquisas porque a memória geralmente decai com a idade, e esse declínio é associado à diminuição das habilidades de pensar e raciocinar. Os americanos obtiveram o melhor resultado, com uma nota média de 11. Dina­­marqueses e ingleses ficaram perto, com notas pouco acima de 10. Na Itália, a nota média foi em torno de 7, na França foi 8, e na Espanha a média ficou pouco acima de 6.

Diferenças

Examinando os dados dos diversos países, Willis e sua colega Susann Rohwedder, professora-associada do Centro RAND para Estudo do En­­velhe­cimento, em Santa Monica, perceberam a existência de grandes diferenças na idade em que as pessoas se aposentam. Nos Estados Unidos, Inglaterra e Dinamarca, onde os trabalhadores se aposentam mais tarde, de 65 a 70% dos homens ainda trabalham acima dos 60 anos de idade. Na França e na Itália, esse número fica entre 10 e 20%, e na Espanha são 38%.

Incentivos econômicos geram as grandes diferenças na idade da aposentadoria, relatam Susann e Willis. Países com idades de aposentadoria mais jovens possuem políticas de impostos, pensão, deficiência e outras medidas que estimulam as pessoas a abandonar a força de trabalho mais cedo. Os pesquisadores enxergam uma relação direta entre o porcentual de pessoas de um país que ainda trabalha entre 60 e 64 anos e seu desempenho em testes de memória. Quanto mais tempo as pessoas seguem trabalhando, melhor elas se saem, como um grupo, em testes de memória respondidos por quem tem mais de 60 anos.

O estudo não aponta qual aspecto do trabalho pode ajudar a reter a memória, nem revela se diferentes tipos de trabalho podem estar associados a diferentes efeitos em testes de memória. E, segundo Berkman, também não diz nada sobre as consequências de permanecer num emprego fisicamente exigente que poderia causar incapacidades. "Tem de haver uma saída para as pessoas que enfrentarão incapacidades físicas caso continuem", disse ela. E, é claro, nem todo trabalho é mentalmente estimulante. Porém, segundo Willis, trabalhar pode ter outros aspectos em operação. "Há evidências de que habilidades sociais e de personalidade – levantar pela manhã, lidar com pessoas, conhecer o valor de ser rápido e confiável – também são importantes", afirmou ele. "Essas habilidades andam lado a lado com o ambiente de trabalho."

Discordância

Hugh Hendrie, professor emérito de Psicologia na Escola de Medicina da Universidade de Indiana, não se convenceu pelas conclusões do artigo. "É uma boa abordagem, um estudo muito bom", disse ele. Porém, segundo ele, existem muitas diferenças entre os países além da idade de aposentadoria. As correlações não provam a causalidade. Elas também não provam, segundo ele, que exista um significado clínico para as alterações nas notas de testes de memória. Tudo verdade, afirmou Richard Suzman, diretor-associado de pesquisa comportamental e social do Instituto Nacional de Envelhe­­cimento. Mesmo assim, acrescentou ele, "trata-se de uma forte descoberta; o efeito é grande". Se trabalhar realmente ajuda a manter o funcionamento cognitivo, será importante descobrir quais aspectos do trabalho estão fazendo isso, disse Suzman. "Seriam o compromisso e a interação sociais, o componente cognitivo do trabalho em si ou o componente aeróbico do trabalho?" questiona ele. "Ou seria o afastamento que ocorre quando você se aposenta, como, por exemplo, mais tempo em frente à tevê?" "O estudo é bastante convincente, mas não conta a história completa", afirma Suzman. "Esse foi um primeiro passo e precisa ser levado adiante."

Tradução: Pedro Kuyumjian

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