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Clima de tensão domina assentamento

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) repudiou a atitude de Deoclides Luiz Baú e de seus dois filhos. Logo após o registro da ocorrência de participação dos três no caso de tráfico de entorpecentes, um agricultor, a mulher e os dois filhos deixaram o Assentamento Antônio Tavares. Alguns assentados também fizeram uma investigação paralela à da polícia e resolveram expulsar quatro integrantes que apresentaram suspeitas de ter ligação com o mesmo crime — três filhos e um genro de assentados. Um deles estava com quatro trouxinhas de crack e outro, com 17 quilos de maconha.

Após o episódio, a preocupação tomou lugar do sossego na área de 1.097 hectares onde vivem 80 famílias desde a ocupação, em 1996 – o assentamento foi criado em 2002. Com medo de represálias, os assentados não querem expor nomes e rostos. Eles dizem que estão assustados e temem que novos membros sejam aliciados pelos traficantes.

"Nós queremos deixar claro que o movimento sem-terra não tem nada a ver com isso, não tem ligação com o crime. A nossa luta é por terra e somos contra a droga e o tráfico que destrói o ser humano e a natureza", diz um assentado. Os líderes do movimento também fazem questão de destacar que o uso de drogas no acampamento é proibido por um regimento interno.

Eles dizem que foram usados pelos traficantes, a exemplo do que vem ocorrendo com outros agricultores que têm propriedades às margens do reservatório. "O tráfico usou nossos espaços porque é beira de lago e usou parentes de assentados para estocar produtos para eles. Esperamos que a Polícia Federal investigue e puna os responsáveis", falou outro assentado.

Para os agricultores, o assentamento torna-se propício para o tráfico atuar porque fica às margens do Lago de Itaipu e não chama a atenção da polícia por ser uma área particular.

Os assentados não sabem de que forma o caminhão de ração, posteriormente misturada à maconha, entrou na área sem levantar suspeita. "Gostaríamos de entender melhor isso, como o tráfico usou a área, quem comprou a ração?", questionam representantes do movimento.

Foz do Iguaçu – Agricultores e assentados do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) na Região Oeste do Paraná estão sendo ameaçados e aliciados por traficantes. Após o aperto da fiscalização na Ponte da Amizade, fronteira entre o Brasil e o Paraguai, o crime organizado começou a explorar com mais freqüência a extensão de 1.350 quilômetros quadrados do Lago de Itaipu, passando a abordar moradores da região e até a alugar sítios para facilitar o transporte de maconha.

Conforme a Polícia Federal de Foz do Iguaçu, o alvo são principalmente os pequenos proprietários, geralmente sem instrução, com terras estrategicamente localizadas às margens do reservatório. Sob ameaça ou por aliciamento, os agricultores passam a auxiliar na logística mediante o recebimento de uma porcentagem da venda dos produtos.

O aliciamento ocorre principalmente em épocas de quebra na produção, em que a falta de dinheiro favorece o convencimento dos colonos. "É inocência separar a questão social da criminalidade. No momento de escassez de recursos, pessoas desesperadas podem tentar outra fonte de renda. E aqui acaba sendo uma fonte para eles", analisou o delegado-chefe do Núcleo de Operações da PF em Foz, Alexsander Noronha Dias. Agricultores presos por auxiliar no contrabando ou tráfico internacional de drogas podem ter os bens seqüestrados e contas bloqueadas.

Ocorrências

Os registros de ocorrências dessa natureza têm sido freqüentes. No início deste mês, três ex-integrantes do assentamento do Antônio Tavares – antiga Fazenda Mitacoré – foram indiciados pela Polícia Civil de São Miguel do Iguaçu por tráfico de drogas. Deoclides Luiz Baú, 58 anos, e seus dois filhos, Rudinei, 32 anos, e Jonas 24 anos, são suspeitos de envolvimento com tráfico internacional de drogas, introduzidas no Brasil através do Lago de Itaipu. Antes de ser integrante do movimento, Baú era proprietário de um bar no Jardim Jupira, bairro de Foz do Iguaçu próximo à Ponte da Amizade. Os filhos dele têm antecedentes criminais.

Os indícios que apontam para a participação da família no tráfico surgiram quando policiais civis de São Miguel do Iguaçu observaram um caminhão carregado saindo do assentamento. Desconfiados, os agentes seguiram o veículo na BR-277, em direção a Cascavel. Ao perceber a perseguição, o motorista abandonou o veículo em movimento, conseguindo escapar.

Com o apoio de patrulheiros rodoviários federais, a Polícia Civil descobriu maconha em meio a sacos de ração para suínos, num total de 1.590 quilos. No mesmo dia, seguindo marcas do caminhão, os policiais encontraram, na casa de Baú, grades que faltavam na carroceria do caminhão e o mesmo tipo de ração usada para camuflar a droga. Em meio a um caminho que leva a um atracadouro, foram achados mais 130 quilos de maconha. "Imaginamos que eles quiseram roubar o dono da carga. Separando (parte das drogas) para eles mesmos venderem. É o que parece", disse o delegado da Polícia Civil em São Miguel do Iguaçu, Danilo Cesto.

Segundo Cesto, membros do MST também vistoriaram a área próxima ao local onde foi feita a segunda apreensão de drogas e encontraram mais 17 quilos de entorpecentes escondidos no meio do matagal. Por meios próprios, eles ainda teriam apurado que não só os filhos de Baú estariam envolvidos, mas também parentes de outros assentados. Mesmo com a inexistência de indícios do envolvimento de outros assentados, a polícia vai ouvir os líderes da fazenda. Ao total, foram apreendidos 1.737 quilos de maconha.

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